Breve história do Vaticano II: notas sobre o concílio e sua recepção na américa latina

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12 Mai 2022

 

"Os interessados em uma primeira aproximação ou no aprofundamento na história e teologia do Concílio Vaticano II encontraram nesta obra: Breve história do Vaticano II: notas sobre o Concílio e sua recepção na América Latina, valioso instrumental, estudando de maneira critica, com rigor científico aspectos teológicos e históricos do Vaticano II e seus desdobramentos", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), sobre o livro "Breve história do Vaticano II: notas sobre o Concílio e sua recepção na América Latina", de Ney de Souza.

 

Eis o artigo.

 

O intuito do livro: Breve história do Vaticano II: notas sobre o Concílio e sua recepção na América Latina (Recriar, 2021, 152 p.), como afirma seu título, é oferecer uma breve história do Concílio Vaticano II e seu desdobramento através das Conferências Gerais do Episcopado na América Latina e Caribe: Medellín (1968), Puebla, (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007). Foi organizado por Ney de Souza, Doutor em História Eclesiástica. Seu conteúdo foi apresentado no Curso de Extensão entre a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o Grupo de Pesquisa Religião e Política no Brasil Contemporâneo, na parceria com o Conselho de Leigos e leigas da Diocese de Guarulhos, São Paulo.

 

 

É composto de seis (6) capítulos resultados de pesquisa dos autores:

 

1) Vaticano II: antecedentes, eventos e documentos, escrito por Dr. Ney de Souza (p. 9-30). Souza apresenta o Concílio Vaticano II como um marco importantíssimo na história da Igreja Católica, um divisor de águas. O evento conciliar é o símbolo máximo do diálogo no século XX. No entanto, esclarece o autor, para não se deixar inebriar pelo evento é necessário também analisar acontecimentos no decorrer do Concílio e no pós-Concílio. Estes permitem encontrar traços de aproximação e distanciamento da modernidade. Retratando os antecedentes (p. 9-20), o evento (p. 20-26) e os documentos do Vaticano II (p. 26-29), este capítulo considera as circunstâncias, os agentes, a tradição eclesial e o espírito do evento conciliar construído ao longo do século XX.

 

2) A concepção missiológica da Igreja no Vaticano II: a missão a serviço do Reino de Deus de autoria de Hernane Módema (p. 31-57). Tendo em conta o Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja, sua estrutura, temas, aspectos teológicos e pastorais (p. 38-48) o autor entende que abordar a missão a partir do Vaticano II (p. 33-38) e refletindo seus aspectos teológicos e pastorais se faz necessário para despertar e aprofundar uma maior consciência de uma Igreja que deve viver a missão de forma permanente, como algo indissociável do ser cristão. Módema salienta que o tema da missão no mundo contemporâneo, a partir do Vaticano II, é amplo e requer um aprofundamento cada vez maior, dado que não se tem um pensamento uniforme no desenvolvimento da questão missiológica durante o Concílio, embora o espírito de renovação tenha se sobreposto à resistência do conservadorismo. O pós-Vaticano II, marcado por entusiasmos, conflitos, contradições e incompreensões, demonstrará as dificuldades que a teologia da missão enfrentou para se impor como elemento inerente e essencial à vida da Igreja. No entanto, tal foi a importância do tema da missão para a renovação da Igreja no Vaticano II que esta temática se tornou uma preocupação em todos os pontificados posteriores ao Concílio, inclusive com o atual papa Francisco (p. 48-54).

 

3) A Palavra de Deus no Vaticano II. Considerações sobre a constituição Dogmática Dei Verbum e sua recepção na prática pastoral da Igreja no Brasil, de autoria de Reuberson Ferreira (p. 59-81). O texto traz uma discussão em torno da constituição dogmática Dei Verbum, problematizando a questão da Palavra de Deus, o autor, chama a atenção para os anos anteriores ao Vaticano II trazendo um sumário dos antecedentes que fecundaram o caminho até a Dei Verbum (p. 61-65). Em seguida, Ferreira pontua o processo de construção, que esse documento viveu dentro da Assembleia Conciliar (p. 65-60) e, finaliza, trazendo alguns aspectos de como no Brasil essas intuições foram recepcionadas e absorvidas (p. 69-76). Ressalta que sob a inspiração do movimento pós-conciliar na América Latina houve um alvorecer de iniciativas que, entre outras coisas, buscavam rever o lugar da sagrada Escritura na vida do povo e da comunidade. Numerosos esforços foram postulados. Desde as traduções ao vernáculo até a elaboração de um método próprio de leitura da bíblia, passando por cursos populares e universitários, vários caminhos foram trilhados. Assim, o desafio e o horizonte para o uso da bíblia nas comunidades é de caráter vivencial – o que não exclui o acadêmico (p. 76-77).

 

Breve história do Vaticano II: notas sobre o concílio e sua recepção na américa latina (Foto: Divulgação)

 

4) Da escola católica para a educação cristã: a educação no Vaticano II, assinado por Marcel Alves Martins (p. 85-101). Considerando a Declaração Gravissimum Educationis sobre a educação cristã, Martins antes de se ocupar das ideias centrais desta declaração (p. 94-98), apresentando o processo e percurso de sua elaboração (p. 84-94), traz estas perguntas: por que os padres conciliares se ocuparam deste tema? O que, de fato se pretendeu com um texto cujo tema não era central para um concilio? (p. 84). Esclarece que apesar de não ter estabelecido sistematicamente definições e práticas sobre a educação, o Concílio deu à Igreja a consciência da necessidade de uma reflexão contínua sobre a questão educacional, que tem sido levada a cabo até os dias de hoje pela Congregação para a Educação Católica. Tais reflexões propõem à Igreja repensar e redimensionar o papel das instituições católicas de ensino, levando aos processos de ensino e aprendizagem as contribuições dos valores cristãos. Isso se deve ao fato que na perspectiva conciliar, a educação deve ser dialogal, contextualizada, plural e integral: esses são os critérios que devem orientar a ação pastoral da Igreja no âmbito educacional (p. 98-99).

 

5) Diálogo inter-religioso: o caminho aberto pelo Vaticano II, de autoria de Felipe Cosme Damião Sobrinho (p. 103-118). Sobrinho objetiva nesta reflexão apresentar o processo de renovação teológico e pastoral a partir do debate e da promulgação da Declaração Nostra Aetate, documento conciliar que se firma após longo debate na aula e nas comissões conciliares, possibilitando uma postura eclesial de diálogo inter-religioso e cultural e conferindo uma nova presença do catolicismo na era contemporânea. Frisa que o caminho do esquema, redação, votação e promulgação da Nostra Aetate (p. 108-114), mostrou a urgência do aggiornamento e do diálogo na época conciliar e em nossa época e, por assim ser, essa consciência, partindo do desejo de João XXIII e da condução dos trabalhos por Paulo VI, foi sendo amadurecida ao longo dos períodos do Vaticano II e na teologia e pastora que se desenvolveram posteriormente (p. 114-117).

 

6) Notas sobre a recepção do Concílio Vaticano II na América Latina e Caribe, as Conferências do CELAM, texto de Ney de Souza (p. 119-148). O referido autor apresenta uma visão panorâmica das Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano e do Caribe: Rio de Janeiro, 1955 (p. 120-125), Medellín, 1968 (p. 126-129), Puebla, 1979 (p. 130-132), Santo Domingo, 1992 (p. 132-141) e, Aparecida, 2007 (p. 141-145). Cada uma destas Conferências é apresentada tendo em conta seu contexto, a preparação, o evento, aspectos fundamentais do documento, eclesiologia, missiologia subjacentes. Souza salienta que as Conferências e seus desdobramentos são aspectos da recepção do Concílio Vaticano II, por isso, a partir da análise do conteúdo apresentado pelas cinco conferências, se percebe a preocupação inerente da Igreja na obra de evangelização de todos os povos. Uma vez que estas conferências não se caracterizam como momentos de discussão dogmática nem tampouco teológica, elas vão, de fato, se caracterizar por serem justamente momentos e que a Igreja convoca a si própria para avaliar e discutir a razão de estar no mundo: a evangelização (p. 145-146).

 

 

Do Concílio Vaticano II à Igreja latino-americana. O Concílio Vaticano II continua sendo normativo para toda a Igreja. Este evento permitiu renovar de modo significativo a interpretação da Igreja e sua missão e relação com o mundo. Em tempos de retorno de eclesiologias esclerosadas temos como desafio continuar traduzindo as renovações eclesiológicas deste evento em novas práticas pastorais. Certamente, neste caminho aberto, a Igreja latino-americana só pode ser compreendida no contexto mais amplo de recepção do Vaticano II: um dos melhores e mais fecundos deste evento foi o processo de renovação teológico-pastoral da Igreja latino-americana.

 

Inseridos nesta tradição conciliar/ latino-americana, os interessados em uma primeira aproximação ou no aprofundamento na história e teologia desse grandioso evento da Igreja Católica no século XX encontraram nesta obra: Breve história do Vaticano II: notas sobre o Concílio e sua recepção na América Latina, de modo particular no Brasil um valioso instrumental, estudando de maneira critica, com rigor científico aspectos teológicos e históricos do Vaticano II e seus desdobramentos, isso porque, é fundamental continuar recepcionando este Concílio levando a sério sua historicidade, a letra dos documentos e também seu espírito – tornando mais explícitos os conceitos-chaves do Vaticano II, os fundamentos de seu horizonte teológico e pastoral, os argumentos e o método que usou.

 

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