Breves do Facebook

Foto: PxHere

22 Fevereiro 2022

 

Samuel Braun

 

Entendam: as sanções contra a Rússia na verdade são sanções contra a Europa.

A Rússia vive sob sanções despropositadas e unilaterais dos EUA desde 2015. Sua integração com a Eurásia e o Sul Global só avança.

A Europa depende de forma vital da Rússia. Pessoas morrem em poucas horas de fome e frio sem o gás comprado da Rússia.

Impedir a Rússia de vender pra Europa não afeta decisivamente a Rússia, mas sim a Europa. Vai comprar de quem? Dos EUA, claro.

Pronto, descobriram a razão mais objetiva da campanha de Washington: submeter, de joelhos, a Europa.

Macron, Sholz e companhia não tem capacidade de leitura geopolitica. Tem sido humilhados nas últimas semanas pelos EUA. E agora estão no limiar de caírem de vez prostrados e rendidos.

 

Samuel Braun

 

Reconhecem um ninguém sem voto e sem mandato como Guaidó, até hoje (!), mas não Denis Pushilin, líder da República de Donetsk, e Leonid Pasechnik, líder da República de Luhansk, oriundos de um sufrágio popular com 90% de aprovação. "Democratas".

Anexam partes de território dos vizinhos (partes maiores que países europeus), apoiam separatismos baseados em interesses econômicos dos EUA, mas não toleram a autodeterminação cultural secular de um povo. "Pacificadores do mundo".

Armam e organizam talibãs e príncipes sanguinários, destroem países africanos multiétnicos assassinam cinematograficamente os líderes tradicionais dos povos, mas não só dizem ser falsa a defesa de um povo perseguido por sua etnia, como financiam e armam milicianos nazistas que buscam o genocídio. "Defensores dos direitos humanos".

Não, não é cai quem quer.

É cúmplice quem quer.

 

Samuel Braun

 

Após deixar vocês com um resumo enxuto, deixo com Hugo, que traz um "resumo expandido" da situação.

Biden forçou e forçou uma guerra pra impor o desrespeito à democracia na Ucrânia em favor de atacar economicamente a Rússia. Pronto, Luhansk e Donetsk independentes. Quem se juntou ao senil vai ver que decidir se está disposto a uma guerra mesmo ou não.

 

Hugo Albuquerque

 

Sobre o discurso de Putin: a Ucrânia foi criada no pós-Revolução de Outubro, unindo várias províncias imperiais diferentes, algumas de maioria russa étnica. Vejamos a organização final do Império, ao final de 1917.

A Ucrânia, tal e qual a Rússia, só poderia ter se tornado independente no pós-URSS como uma Federação plurinacional. Ela não fez isso. Assim como minou o espaço da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que deveria ser a instância comunitária local pós-soviética.

Para além de todos esses problemas, os russos não intervieram. Mas a elite ucraniana a partir de 2004 resolver lucrar com um jogo antirrusso com o Ocidente. Que foi, em certa medida, respeitado por Putin e por Moscou.

A coisa passa do prumo a partir de 2014, quando minorias russas começam a entrar no foco, e o novo regime ucraniano entra em choque com os russos e com o comunismo, não campanha etnonacionalista, anticomunista e russofóbica.

A Crimeia, democraticamente, optou por sair da Ucrânia e integrar a Federação Russa. O estranho caso da "anexação" votada em plebiscito. Vejamos nós que o Maidan poderia ser legítimo se envolvesse retirar o presidente, mas não dar um giro bizarro à direita.

Em que pese a perseguição à esquerda, o enquadramento das minorias étnicas, Moscou nada fez com Poroshenko, o oligarca eleito em seguida do Maidan. Ele respeitou as linhas vermelhas, embora tenha governado do início ao fim contrário à Rússia.

Com a eleição de Volodmir Zelensky em 2019, a Ucrânia deu sinais que iria dar uma guinada maior ainda. E os EUA, a partir de Biden, passaram a estimular isso de modo inconsequente, para minar os negócios de hidrocarbonetos entre Alemanha e Rússia.

Nada ocorreu da parte de Moscou. Mas com a finalização do acordo do Nordestream 2, novos movimentos aconteceram. Biden reforçou o apoio a Ucrânia e esta novamente acenou com a bandeira de entrada na Otan.

Moscou protestou, ucranianos e europeus resolveram tirar o pé do acelerador, mas dessa vez Biden não aceitou nenhuma mediação ou contemporização, mesmo contra os conselhos de gente, ressalte-se, até bem conservadora e anticomunista nos EUA.

O cenário atual é que Moscou reconheceu as autodeclaradas repúblicas pró-Rússia no leste da Ucrânia. As mesmas que ficaram acossadas por Kiev e, em grande medida, abandonadas por Moscou. Um spoiller: a ideia de Federação Russa é popular lá.

Daí, você me pergunta: e Lenin nisso? Bom, os bolsheviks desenharam uma grande RSS da Ucrânia, sobretudo em razão do acordo com os nacionalistas antibrancos (o exército reacionário), o Exército Verde.

Lenin (e Trotsky!) tinham um problemão para resolver na Ucrânia, que era a disputa com o Exército Negro, anarquista, de Makhno e forjaram uma aliança com os nacionalistas anti-ocidente, lhe dando terras que deveriam ou fazer parte da Rússia ou serem outras repúblicas.

Daí a ironia de Putin hoje. Se o regime de Kiev quer mesmo desrespeitar os acordos básicos forjados em 1917, e instituir um nacionalismo étnico ucraniano, ele tem de aguentar todas as consequências, dentre elas, perder o Leste para Rússia plurinacional.

P.S.: Isso não é apenas uma fala conservadora de Putin. Rosa Luxemburgo sempre criticou os bolsheviks pela aliança com os nacionalistas ucranianos, que subsistiram "dentro e contra" a Ucrânia soviética. E isso teve um custo nos anos 1930, 1940 e, também, agora.

P.S.B.: Evidentemente, isso foi uma declaração de guerra de Moscou, agora o Ocidente tem de aceitar o quadro que Biden, o rei idoso, plantou.

P.C.: Só o socialismo na região pode concertar essas intempéries étnicas.

 

Samuel Braun

 

Estados Unidos anuncia que lançará bomba dólar sobre as Repúblicas de Luhansk e de Donetsk. Globonews se confunde e diz retumbante que ataque seria contra a Rússia.

Vou recapitular, bem sumariamente, o que está rolando:

 

1 - Na Guerra Fria os EUA criaram uma organização (OTAN) para combater militarmente o socialismo e o comunismo;

2 - Após o fim da Guerra Fria, os EUA não só não encerraram a OTAN, como seguem ampliando a formidável arma de guerra;

3 - De 2015 pra cá vem instalando bases de mísseis na Romênia e na Polônia, capazes de atingir Moscou;

4 - A Rússia vinha protestando sem ser ouvida. Agora, diante da possibilidade de se incluir a Ucrânia na OTAN, disse basta.

5 - Em 2014 os EUA financiaram e mobilizaram a derrubada do presidente da Ucrânia, substituído por fim pelo atual, um comediante anticomunista;

6 - Como resultado, a Ucrânia, que caminhava pra aliança com a Rússia, virou-se a favor da OTAN;

7 - As regiões de Donetsk e Luhansk, culturalmente ligadas à Rússia, se viram traídas e votaram, por 90%, se tornarem independentes;

8 - Em 2016, a Ucrânia e as Repúblicas de Luhansk e de Donetsk assinaram um acordo (Minsk) de respeito à autonomia dessa regiões;

9 - Em 2021 os EUA alegam sem provas que uma invasão russa no futuro se daria e passa a armar milícias neonazistas ucranianas para atacar Donetsk e Luhansk;

10 - Com cerca de um milhão tendo que fugir sob bombardeio ucraniano, a Rússia reconhece oficialmente a independência de Luhansk e Donetsk, para fortalecer a defesa de seus cidadãos.

 

Samuel Braun

 

Amizades, está pra sair uma longa entrevista onde falo da eleição deste ano, sinalização de Lula para o centro, das repetidas análises que defendem render votos agradar o mercado, teoria direcional do voto, MMT, faço balanço da crise econômica e suas origens, falo de Alckmin como vice e outras coisas mais.

Será pelo Instituto Humanitas Unisinos, e deu cerca de 15 páginas.

 

Christian Edward Cyril Lynch

 

O Século do populismo”, de Pierre Rosanvallon, acabou de ser publicado no Brasil pela editora Ateliê de Humanidades.

Mas quem é Pierre Rosanvallon?

Ele é um historiador francês que leciona no Collège de France e é especialista no seguintes assuntos: democracia, desigualdade e representação política. Com a chegada de seu livro no Brasil, Diogo Cunha e Christian Lynch aprofundam-se no contexto, importância e impacto da visão do pensador.

Clique aqui para ler o texto da #Inteligência95.

 

 

Caio Almendra

 

A centro-esquerda diz "a esquerda sou eu, todos que estão à minha esquerda, que são mais radicais que eu, fazem o jogo da direita".

A extrema-direita diz "a direita sou eu, todos que estão à minha esquerda, que são mais moderados que eu, fazem o jogo da esquerda".

Adivinha quem está ganhando o cabo de guerra?

 

Teresa Lucena

 

Peter Schulz

 

De vez em quando é bom lembrar deles: Roberto, Gregório e George.

Outro dia escrevi sobre a primeira estação de rádio oficial do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que foi criada pela Academia Brasileira de Ciências em 1923. Os equipamentos foram importados, mas a história poderia ter sido outra, afinal o rádio era brasileiro também. O rádio foi inventado algumas vezes de forma independente, é o que se chama em sociologia da ciência de descoberta múltipla: uma boa ideia pode ser almejada por muitos e realizada por vários.

No caso do rádio (transmissão e recepção sem fio, tanto de sinais telegráficos, quanto de som), podemos citar pelo menos três, o alemão Ferdinando Braun, o italiano Guilherme Marconi (os dois dividiram o prêmio Nobel de física de 1909) e o gaúcho Roberto Landell de Moura (1861-1928). Ou dois primeiros eram físicos, Roberto era padre e cientista autodidata.

Documentações esparsas sugerem que Landell de Moura teria mesmo estado à frente do outros, mas, polêmicas à parte, bem documentadamente registrou patentes nos EUA no comecinho do século XX e foi famoso lá por um tempo. E seus inventos funcionavam mesmo! Voltou ao Brasil em 1905 e tentou sim continuar o trabalho aqui, mas os pedidos de financiamento foram todos negados.

Roberto, duramente criticado pela igreja por dedicar mais tempo à ciência do que à batina propriamente dita, acabou deixando de lado a primeira em favor de uma carreira com a segunda. Acabou esquecido como cientista para ser relembrado muito tempo depois, mais por aqui e pouco lá fora. O padre era uma figura complexa, antecipou outras boas ideias, como a televisão, mas enveredou por outras antônimas.

Na época das patentes do padre brasileiro, a ciência de outro padre, esquecido por trinta anos, foi finalmente reconhecida, é o Gregório do título acima. Gregor Mendel (1822-1884) foi um frade austríaco, mas também botânico desde criancinha e biólogo mais tarde. Apresentou dois grandes trabalhos, resultado de oito anos de pesquisa, lá por volta de 1865.

Mas, logo depois, também largou a ciência pelas tarefas administrativas da igreja. Os tais dois trabalhos enunciam as mais tarde conhecidas como leis de Mendel e o autor acabou sendo considerado o “pai da genética”. No entanto, na época da publicação dos trabalhos pouca gente entendeu e foi deixado de lado por trinta anos, como mencionado. Mendel leu Darwin atentamente e defendia a teoria da evolução, mas discordava do grande cientista britânico sobre quais seriam os mecanismos de hereditariedade envolvidos na seleção natural.

E Mendel estava certo, mas não falaram isso para ele em vida. Lembrando então: era um padre que estudava a teoria da evolução sem constrangimentos religiosos. Falando nisso, chegamos ao George, sobrenome Lemaitre, padre católico belga, nascido em 1894, quando Roberto fazia suas primeiras demonstrações de rádio em outro continente e hemisfério.

O padre George foi físico, astrônomo e cosmólogo (um dos primeiros). E não fez pouca coisa, debruçando-se sobre a relatividade geral, aplicou-a à cosmologia. Antecipou Edwin Hubble em dois anos na proposta da expansão do universo e na primeira estimativa do que seria o que é conhecida como constante de Hubble. Propôs também que a expansão é acelerada, coisa que o telescópio que leva o nome do outro astrônomo confirmou no século XXI. Desenvolveu métricas, foi pioneiro no uso de computadores para cálculos em cosmologia e...é o pai da ideia inicial do Big-Bang. Vejam o título de seu artigo na Nature de 1931: “O começo do mundo do ponto de vista da teoria quântica”.

Ao contrário de Roberto e Gregório, Georges não abandonou a ciência, aliás a introdução do uso de um computador em sua universidade foi pouco antes da aposentadoria. Nem abandonou a igreja, João XXIII ainda o convidou para participar Concílio Vaticano II, mas sua saúde já estava debilitada (faleceu em 1966). Lemaitre achava que ciência e religião não deveriam se misturar, mas poderiam conviver. Ou seja, não via problemas entre ler o Gênesis e propor o Big-Bang.

Eu gosto de lembrar do Roberto, do Gregório e do George, quando me deparo com os obscurantismos e suas simplificações, sejam estas de que lado forem.

Na sequência, as fotos de Roberto, Gregório e George, este ao lado de Alberto, que primeiro torceu o nariz para o padre, depois o aplaudiu de pé.

 

 

Rodrigo Petronio 

 

O historiador britânico Peter Burke sobre meu novo livro, no prelo da Laranja Original.

 

 

Manuelina Duarte

 

Após uma consulta um editor me responde que o custo de publicação de um artigo é, para os autores, 3,370 dólares (!!!!).

E não é uma revista predatória não, viu? É uma revista respeitada. Mas segundo ele este é o custo de passar um manuscrito ao estado de artigo publicado e divulgado.

Ainda bem que existem revistas com políticas mais acessíveis, mesmo que às vezes seja constrangedor o tanto que a gente tem que pedir de ajuda voluntária.

Eu mesma edito uma a custo zero para autoras.es e leitores.as. Mas a grande custo de energia e tempo de muitas pessoas a quem seria bom e justo poder remunerar.

Quando uma vez na vida a gente publica um livro que não é de distribuição gratuita há quem critique, mas é uma engrenagem complexa manter pequenas editoras e periódicos de qualidade fora dos esquemas das grandes corporações predatórias.

Fiquemos de olho.

ps.: Saiba que o livro ou artigo que você baixou de graça teve um custo. Alguém arcou com ele.

 

 

 

Faustino Teixeira

 

Isto não é uma vergonha? Você escreve um artigo e ainda tem que pagar uma fortuna para ver seu artigo publicado em revista. Isto também vem acontecendo no Brasil. Estou FORA!!!

 

Moisés Mendes

 

Inventei de fazer uma brincadeira ontem dizendo que Pedro II hoje seria lulista. A maioria captou a ideia, mas levei algumas bordoadas. Como se fosse difícil ser lulista.

Porque disseram que Pedro II era da elite e isso e aquilo (sim, o cara era simplesmente o imperador). Queriam que Pedro II fosse o Zumbi branco infiltrado desde criança na monarquia?

Por favor, vamos com calma. Pedro II não era um revolucionário, nem um reformista, era um cara atormentado como todo sujeito num poder acossado até pelos que o sustentam.

Mas era melhor do que a elite essa daí cumpliciada com Bolsonaro. E foi golpeado pelos milicos.

Então parem com isso. Claro que Pedro II não era de 'esquerda', não tinha como ser, era um liberal conservador que não sabia lidar com a coroa na cabeça e o seu meio liberalismo, cheio de dilemas, e não era nem um Joaquim Nabuco.

Parem de bater em Pedro II. Ele poderia, sim, ser lulista. É fácil hoje ser lulista, ou alguém acha que Renan Calheiros é progressista ou de esquerda?

Eu quase escrevi que Getúlio seria lulista. Mas alguém iria dizer que não, que ele era um latifundiário e falar do caso da Olga Benário, e iriam bater sem parar no Getúlio, e eu teria que chamar o Juremir pra defender a memória do velhinho.

Então, digo apenas que o Assis Brasil do Castelo de Pedras Altas hoje seria lulista. Respirem fundo antes de começar a bater no Assis Brasil.