22 Fevereiro 2022
"Tudo indica que Dom João Justino vai dar continuidade - embora com alguns atos ditos progressistas - ao projeto de restauração pastoral de Dom Washington. Também o que podemos esperar de um arcebispo que - como o próprio Dom Washington - vai morar num palacete episcopal? Não é um contratestemunho permanente para a Igreja dos Pobres?", quesitona Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
A Igreja das Catacumbas é a “Igreja Pobre, para os Pobres, com os Pobres e dos Pobres”. É a Igreja CEBs, “que nasce do povo pelo Espírito de Deus”. É a Igreja de Jesus de Nazaré.
No dia 16 deste mês de fevereiro, assistimos - presencialmente ou on-line - ao espetáculo de uma Igreja imperial e triunfalista: a chamada “posse canônica” do novo arcebispo de Goiânia - GO, Dom João Justino de Medeiros Silva, no Santuário Basílica Sagrada Família. Como já escrevi no artigo anterior, cristão ou cristã não toma posse, mormente se a “posse” for a demonstração de uma Igreja poderosa (veja aqui).
A respeito da Celebração de “posse” do novo arcebispo de Goiânia, duas denúncias precisam ser feitas:
Primeira denúncia: a irresponsabilidade da Arquidiocese de Goiânia em relação à questão da saúde. Na ”posse”, a Igreja desrespeitou acintosamente as orientações de segurança sanitária da OMS, em relação a COVID-19 e suas variantes. Uma das orientações é justamente evitar aglomerações e o contato próximo com muitas pessoas, principalmente em espaços fechados. As imagens da chamada “posse canônica” comprovam essas aglomerações.
Segunda denúncia: infelizmente, o Projeto pastoral de Dom João Justino é - como ele mesmo disse - a continuação do Projeto pastoral de Dom Washington Cruz. Ele está claramente delineado nessas palavras:
“Meu querido Dom Washington, meu querido patriarca. Sucedê-lo é uma bênção e uma grande responsabilidade. O senhor ofereceu sua vida à Igreja do Brasil, particularmente neste Regional onde está como bispo há 35 anos. Os seus últimos 20 anos de zelo, cuidado e serviço à Igreja de Goiânia nos permitem, hoje, avançar mais seguros. Qualquer agradecimento que eu lhe fizer será muito pouco por tudo o que o senhor fez. Já disse ao senhor que quero tê-lo como referência. Escutá-lo será muito importante para compreender o que esta Igreja pede de mim. Saiba que terei a alegria de zelar por seu bem-estar”.
Enganam-se redondamente aqueles e aquelas que pensam que essas palavras são somente uma cortesia ou um agrado a Dom Washington. Dizer isso, significa não conhecer os meandros dos ambientes eclesiásticos (não eclesiais) ou clericais.
Sem julgar a consciência de ninguém - só Deus pode fazer isso - na caminhada de renovação da Igreja em Goiânia - que eu vivi intensamente desde o início da década de 70 - Dom Washington representa um retrocesso de 50 anos em 20, ou seja, a volta a uma Igreja pré-conciliar.
Só para citar um exemplo: no último Diretório de Catequese da Arquidiocese de Goiânia, a “Catequese Renovada” (que marcou a renovação da Catequese no Brasil depois do Concílio) e os Documentos da II Conferência de Medellín (que são o Concílio para a América Latina e Caribe) não são nem lembrados. Trata-se de um esquecimento proposital.
Tudo indica que Dom João Justino vai dar continuidade - embora com alguns atos ditos progressistas - ao projeto de restauração pastoral de Dom Washington. Também o que podemos esperar de um arcebispo que - como o próprio Dom Washington - vai morar num palacete episcopal? Não é um contratestemunho permanente para a Igreja dos Pobres? Não tinha acabado a época dos palacetes episcopais?
A meu ver, a primeira atitude que Dom João Justino devia ter tomado seria: morar numa casa simples numa Comunidade pobre e transformar o palacete episcopal num Centro para as Pastorais Sociais Ambientais que trabalham junto com os Movimentos Populares. Fica aqui uma sugestão.
Pessoalmente, não estou disposto a “mendigar” pequenos espaços de apoio aos Pobres dentro de uma estrutura de Igreja aliada dos Pilatos e Herodes de hoje. Pobres não precisam de “momentos de atenção ou cuidados especiais”. Eles precisam que a Igreja assuma - como Jesus de Nazaré - seu lado e se comprometa com sua causa, que é a causa de um Mundo Novo, ou seja, do Reino de Deus na história do ser humano e da Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum. Só assim a Igreja será realmente evangélica.
A Igreja das CEBs e a Teologia da Libertação têm a força do Espírito Santo e é por isso que continuam vivas, muito vivas, mesmo que seja nas Catacumbas.
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A Igreja das catacumbas está muito viva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU