Breves do Facebook

Foto: Pixabay

03 Janeiro 2022

 

Cunca Bocayuva

Folia de Reis no Morro da Formiga. 2022.

 

Mário Magalhães

 

Dorrit Harazim conta o passado e nos inspira para o futuro iminente. Brilhante.

 

 

Flavio Lazzarin

 

História e futuro

 

"Marx diz que as revoluções são a locomotiva da história universal. Mas talvez as coisas sejam completamente diferentes. Talvez as revoluções sejam o recurso ao freio de emergência por parte da humanidade em viagem neste trem." (Benjamin Walter, Sobre o conceito de história, em obras completas. VII, cit., p. 497)

Os romanos resolveram a questão da história, reconstruindo na literatura e arquitetura a memória monumental dos feitos dos grandes e heróis, que se imortalizavam no tempo. O cristianismo revoluciona essa perspectiva e oferece a ressurreição para todos, além da morte. Nasce assim o indivíduo ocidental, raiz do conceito mais tardio de pessoa, mas também da heresia individualista capitalista e burguesa. Teria sido talvez melhor se os cristãos, discípulos dos cronologias bíblicas e gregas, não tivessem apostado na história da salvação, da Criação à Parusia, remetendo para um futuro remoto a realização definitiva do Reino de Jesus.

A história ainda vive parasitando o passado, contando a política, a economia, a sociedade, os costumes, as ciências exatas e humanas, a arte e a literatura, a vida dos grandes e dos pequenos, da casa e do jornal, das igrejas e dos estados, das guerras e das revoluções... Ainda se repete, com Cícero, que a história é professora da vida, mas, normalmente é simplesmente um motivo de diversão e divertimento, bem menor do que a literatura e a poesia, que podem nos estimular Criticamente e esteticamente. Mas às vezes na escola Walter Benjamin, descobrimos que ′′articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ′′tal como realmente foi". ′′Quer dizer ter uma memória assim como baleia em um momento de perigo".

No entanto, as dificuldades surgem quando devemos pensar historicamente o futuro.

Posso ousar em dizer que a profecia da terceira idade da história de Joaquim de Fiore é o pecado original dos historicismos. O sonho da terceira idade, em que se realizariam supremamente liberdade, ágape e justiça, reaparece, religiosamente secularizado, com a espera contemporânea da Era de Aquário ou do retorno dos nossos protetores extraterrestres.

Vamos esperar alguns séculos e a periodização ternária retornará com Vico, sonhando com a idade razoável dos homens depois das fantasias religiosas e épicas da idade dos deuses e heróis.No entanto, será no século XIX que a história assume com os delírios dialéticos hegelianos e marxistas um papel hegemônico, ainda não totalmente contestado na atualidade, apesar da sua crise evidente e definitiva.

Negar os otimismos ilusórios e letais sobre a possibilidade de solução futura da crise civilizacional que nos ameaça e nos atormenta não significa, porém, deixar-se contaminar por cínicos e impotentes pessimismos. Na verdade, podemos e devemos lutar por justiça, ágape, verdade e beleza, sem repetições obsessivas e permanentemente abertas a novas dúvidas e novas perguntas.

Recuperando então a profecia de Walter Benjamin, quando afirma, na tese XVIII sobre o conceito de história, que os judeus são proibidos de adivinhar e investigar o futuro, mas não por isso o futuro se esvazia, porque, acompanhados da memória do passado de libertação ′′cada segundo é a porta estreita por onde o Messias pode entrar". (Benjamin Walter, Tese de Filosofia da História, em Id. Angelus Novus. Sábios e fragmentos, Editora Júlio Einaudi, Turim, pp. 75-86)

Janeiro de 2022

 

Felipe Quintas

 

Estou bastante otimista em relação a 2022.

Eu não espero que a situação econômica e social do país melhore, muito pelo contrário, tampouco acho que os resultados da competição eleitoral desse ano redimirão o país, pois, dentre os principais candidatos executivos e legislativos (incluindo seus respectivos partidos), absolutamente nenhum deles quer e tem condições de encaminhar o futuro.

Meu otimismo consiste em que, pouco a pouco, mas significativamente, o povo brasileiro está perdendo a ingenuidade política que lhe era característica. Qualquer que seja o cenário político dos próximos anos, encontrará uma sociedade mais vigilante e consciente. Não será mais tranquilo apelar a uma modernização abstrata ou a um anticomunismo tosco para justificar retirada de direitos, tampouco subornar as pessoas com esmolas para fazê-las aquiescer ao progressismo identitário anti-humanista e distorcer estatísticas para criar uma "nova classe média" feita apenas de tinta de caneta/impressora e saliva. Tampouco será concebível aplicar a agenda nefasta do Grande Reset, feita sob medida para as metrópoles decadentes do Atlântico Norte, mas absolutamente inadaptada ao nosso continentalismo tropical.

Será natural que os dirigentes políticos passem ao largo das celebrações do Bicentenário da Independência, pois sua maior preocupação será o desempenho eleitoral. Porém, essa data será devidamente celebrada não nos eventos oficiais, mas no desenvolvimento gradativo da consciência política, que, nesse e nos próximos anos, num crescendo, inviabilizará a politicagem e a demagogia das elites partidárias e colocará novamente em pauta a necessária construção nacional.

As lideranças que emergirão desse processo, então, serão aquelas que estiverem com a mente e o coração nas vastas entranhas do Brasil profundo, do Brasil que trabalha e produz, do Brasil que sua, ora, canta e, apesar das elites, se agiganta. Do Brasil que, apesar do beautiful people do eixo Rio-São Paulo, da Bovespa, do Uol, do George Soros, do Steve Bannon, das ongs ambientalistas e do Fórum Econômico Mundial, não vai se tornar um Congo arco-íris, mas vai completar a sua integração nacional, vai ocupar e desenvolver os espaços vazios do nosso interior, vai fazer despontar uma indústria nacional dinâmica a partir das demandas do agronegócio, vai continuar se aglomerando para acompanhar seu time de futebol, vai criar novos sistemas de vida, de trabalho e de lazer ao longo de toda a nossa superfície.

Se vocês quiserem ver o Brasil que está nascendo, esqueçam as decadentes Ipanema e Avenida Paulista. Dali não virá mais nada além de mimetização da irracionalidade dos centros metropolitanos mundiais. O Brasil do futuro, que já se delineia, terá o seu centro nervoso - demográfico, produtivo e cultural - nos eixos das rodovias Belém-Brasília e BR-364, que liga o Acre ao interior de SP. Um Brasil rústico e desenvolvido, trabalhador e maroto, que reinventará a modernidade, traída pelo poder financeiro norte-atlântico. Mais do que modernos, somos e seremos modernistas. Nossa nova Semana de 22 não será nas galerias de artes, mas na vida comum do povo simples, e não durará só uma semana, mas toda a eternidade.

Essa é a vocação natural do Brasil desde o bandeirantismo, transformado em projeto nacional por José Bonifácio e institucionalizado por Getúlio Vargas com a sua Marcha para Oeste, brilhantemente estruturada por JK e pelos governos militares. O Brasil só será de fato independente quando for sertanejo, e não há quem possa deter a nossa marcha para a Independência. Tudo que acontecer a partir de agora será útil no sentido de soterrar ilusões persistentes e fazer do cadáver delas o adubo para alimentar o corpo e a alma desse país de gigantes que é o Brasil.

 

Fundação Leonel Brizola - Alberto Pasqualini Rio

 

Via Roberto Dutra

 

 

O ano de 2022 traz consigo a esperança de novos caminhos, mas é também tempo para rememorar e comemorar o nascimento de Leonel Brizola. Uma liderança que mesmo já tendo nos deixado, continua sendo exemplo de resistência, luta e amor pelo povo brasileiro.

#CentenárioBrizola

 

Felipe Quintas

 

Washington Quaquá, vice-presidente do PT, teve a coragem de falar o segredo de Polichinelo de que o "golpe" contra a Dilma nada mais era do que uma narrativa a ser superada. Ele está correto, pois, por mais que a narrativa do golpe tenha um valor sentimental para o PT e simpatizantes - sendo um diploma de "verdadeira esquerda" que "incomodou os poderosos" e por isso foi "pregada na Cruz" - ela obstrui as alianças que o PT precisa fazer para jogar o jogo para o qual o partido nasceu para jogar. O antigo PTB não precisou passar por isso pois a ditadura que se seguiu à sua queda o havia dispensado desse trabalho ao mudar todas as regras do jogo. Como não se seguiu nenhuma ditadura depois de 2016, o PT vai precisar reformular sua narrativa se quiser continuar sendo um ator relevante no "presidencialismo de coalizão" que vigora no Brasil.

A verdade, ainda mais dura, é que nunca houve golpe no Brasil. O que existe é um acordão dinâmico de oligarquias que detém o poder de fato e coloca e tira quem elas querem e na hora que querem. Todos que foram depostos (Dom Pedro II, Washington Luís, Getúlio, Jango, Collor e Dilma) tentaram, de alguma forma (e de diferentes formas e com diferentes intenções, claro), burlar o acordão que os havia guindado e/ou os mantinha no governo. Não se faz isso impunemente. Nesse sentido que a conciliação no Brasil é uma virtude, pois sem ela não se faz absolutamente nada, nem revolução. O problema é que os termos de conciliação hoje são extremamente rebaixados, como era no Império. Mas, apesar de tudo, é o que preserva a unidade nacional e um mínimo de estabilidade. Tentativas subversivas podem resultar em situações ainda piores. O que precisamos é recompor a "conciliação revolucionária", e isso não se faz de repente. Mas é uma tarefa que está posta para quem quer ver o Brasil um pouquinho maior do que está sendo.

 

Samuel Braun

 

Os maiores inimigos da educação não são os Olavos de Carvalho e seus conspiracionistas. São engravatados que se dizem ser todos pela educação. Assim como o "escola sem partido" quer mais é partido e menos escola, os movimentos liberais "pela educação" querem mesmo é mão de obra barata e ausência de pensamento crítico - ou não foi assim que os burgueses surgiram, com seus aprendizes que trabalhavam por comida e pelo privilégio de aprender um ofício?

 

 

 

Rodrigo Petronio

 

O filme Nomadland da diretora Chloé Zhao é uma joia cuja potência decorre de sua própria suspensão da ficcionalidade. A narrativa adere à realidade dos não-atores, a seus dramas e tragédias reais, às paisagens humanas e físicas dos nômades das estradas do mundo. O desemprego estrutural, os traumas que não cicatrizam, a nova classe dos irrelevantes, a precariedade gerada pelo capitalismo onívoro. E, acima de tudo, o medo. Nomadland é um filme sobre o medo em diversos espectros. Os fantasma das feridas do passado. O fantasma da inadaptabilidade. O fantasma de não pertencer.

A liberdade envolta na neblina invisível da opressão que nos cerca. Nesse sentido, mesmo em seu hiper-realismo, Nomadland é uma alegoria de todos nós. Prisioneiros em nossos cativeiros digitais. Vivendo a cada segundo a fobia de um mal iminente. Presos às neuroses de um presente que escoa em direção a um futuro incerto. E, quando existe a certeza, a certeza é a morte. Mas há uma linha de fuga aqui. Há esse horizonte que se abre, infinito e convidativo. Basta atravessar a porta das cidades-fantasma.

 

 

 

Faustino Teixeira

 

No livro "Vozes vegetais", organizado por Joana Cabral de Oliveira e outros, há um interessante artigo de Laura Pereira Furquin, que aborda o tema do "acúmulo das diferenças" na Amazônia antiga. Com ela temos acesso a dados importantes:

A extensão da floresta amazônica: 5,5 milhões de quilômetros quadrados (das maiores e mais diversas florestas tropicais do mundo)

A floresta envolve cerca de 3,6% da cobertura terrestre do globo, acolhendo os biomas mais diversos.

Há uma convivência com os seres humanos de cerca 12 mil anos

"No território das Amazônia moram, atualmente, mais de 430 mil pessoas autodeclaradas indígenas, segundo os dados do Instituto Socioambiental (...). São Mais de 150 povos, falantes de muitas das 160 línguas indígenas registradas em território nacional, além de 115 povos vivendo em isolamento voluntário".

 

Cesar Benjamin

 

CONFÚCIO E A ORDEM MORAL

O Globo decobriu a pólvora: a enorme influência do confucionismo na sociedade e no Estado chineses.

Escrevi “Confúcio e a ordem moral” há alguns anos, como apresentação de “Introdução da Confúcio”, de Richard Wilhelm, Sima Qian e Ku Hung Ming, que a Contraponto publicou. Está no link, aí embaixo.

Como Buda e Jesus, o sábio chinês, que viveu entre os séculos VI e V a. C., pertence ao seleto grupo que fundou projetos civilizatórios sem deixar uma obra escrita. O que se sabe dele vem de registros fragmentários, coletados por seus poucos discípulos.

Buscou sabedoria, não ciência. Não propôs instituições econômicas, legislações ou um regime político específico. Não anunciou uma revelação nem experimentou qualquer forma de vivência religiosa. Não falou de mistérios de outro mundo. Não foi um místico.

Pregou um conhecimento que gira em torno da beleza, da ordem e da autenticidade, defendendo um ideal de perfeição moral que se obtém pela prática de virtudes humanas. Defendeu a educação sistemática de todo o povo.

Permanece sendo, na China, "o mestre para dez mil gerações".

* * *

"Governa por meio de decretos, disciplina por meio de castigos. O povo encontrará subterfúgios e não terá consciência. Guia-o pela virtude e pela moral. Ele terá consciência e alcançará o bem."
Analectos, II, 3

"Desde o supremo governante até o homem mais humilde, a base fundamental é igual para todos: o aperfeiçoamento de si mesmo."

O grande estudo, VI

"As forças menores fluem por toda parte, como correntes de rios. As grandes forças da Criação movem-se em silêncio, mas constantemente."

A conduta da vida XXIX

* * *

Gosto especialmente da maneira como Confúcio fala do tempo como "produtor de regulação". Quem se fixa nos extremos e vive imerso no curto prazo, com suas oscilações, facilmente se desespera.

O texto sobre Confúcio está no link.

Abraços,

Cesar Benjamin

 

Fernando Altemeyer Junior

 

O simbolismo da Epifania

 

 

Essa solenidade está diretamente ligada ao mistério da salvação para todos. Ninguém é excluído por Deus. Nenhuma nação, povo, pessoa, cultura, raça, identidade sexual, pessoal, etc. Todos recebem a visita de Deus e se tornam visitadores do presépio. É como se todos pudéssemos voltar ao útero primordial. Os magos representam todos os povos do planeta. A estrela brilha e vence as trevas. Ela indica outro caminho, o de Belém, na gruta ou estábulo de animais. Ali está o rei dos reis. Uma criança frágil e camponesa. Um imigrante vindo da Palestina e nascido na pequenina vila prometida pelo profeta como lugar da esperança. Oferecem três presentes que simbolizam sua missão pessoal: ouro, realeza. Incenso, divindade. Mirra, unguento de sua morte na cruz. Obvio que não são presentes para crianças. São sinais do futuro de Jesus. São marcas de seu projeto salvador.

Papa Francisco explica o sentido:

Os Reis Magos “são um testemunho vivo de como estão presentes por todo lado as sementes da verdade, pois são dom do Criador que a todos chama a reconhecê-Lo como Pai bom e fiel”.

“Os Magos representam as pessoas dos quatro cantos da terra que são acolhidas na casa de Deus. Na presença de Jesus, já não há qualquer divisão de raça, língua e cultura: naquele Menino, toda a humanidade encontra a sua unidade. E a Igreja tem o dever de reconhecer e fazer surgir, de forma cada vez mais clara, o desejo de Deus que cada um traz dentro de si”.

Em seguida, Francisco assinalou: “Como os Magos, ainda hoje há muitas pessoas que vivem com o ‘coração inquieto’, continuando a se questionar sem encontrar respostas certas. A inquietude do Espírito Santo que move o coração. Também elas andam à procura da estrela que indica a estrada para Belém”. “Deram ouvidos a uma voz que, no íntimo, os impelia a seguir aquela luz” e a travessia que realizaram “é uma lição para nós”.

Os sábios do Oriente – Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior

Festa da epifania (nome grego epiphaneia: irrupção ou manifestação de algo sagrado ou da presença divina/sobrenatural entre os seres humanos). É a festa de Deus que se apresenta aos humanos e ao planeta. Para os orientais foi a data original do nascimento de Jesus em 06 de janeiro do calendário juliano. Com o passar dos séculos o mundo ocidental distinguirá aquela única data em duas distintas 25/12 (nascimento) e 06/01 chegada dos sábios para adorar a criança. Epifania e Natal são, portanto, uma mesma festa nas origens do mistério cristão.

A data especifica da Epifania foi fixada na primeira metade do século IV da era cristã, precedendo a fixação da festa do nascimento que foi posterior. Detalhe curioso é que os armênios monofisitas não celebram a festa do natal em 25 de dezembro, mas o nascimento de Jesus é conexo ao batismo e à adoração dos sábios. Resumindo: Santos Reis ou Epifania ou chegada dos sábios é o reconhecimento do nascimento do Jesus como Messias Salvador. O centro é a manifestação universal do Filho de Deus em carne humana como sinal divino. A igreja católica celebra a data como conclusiva do tempo natalino. Dia de recolher o presépio e começar um novo tempo litúrgico após a festa do domingo seguinte que é Dia do Batismo de Jesus. Assim em 10 de janeiro será início do chamado tempo comum na liturgia. Aqui no Brasil é chamada de festa de Santo Reis, ou Reisado, ou festa dos Reis Magos, ou dia da gratidão. A marca folclórica da festa no Brasil penetrou os sertões mineiros e nordestinos fortemente com suas roupas, musicas e cantigas.

Que são estes sábios ou magos?

O Evangelho de Mateus capitulo 2 versículos 1 a 12, é o único a relatar a vinda dos sábios do Oriente. Sobre este texto dos evangelhos da infância foram acrescentadas inúmeras lendas e simbologias, uma das quais dizendo que eles teriam vindo da Pérsia, por ser uma cultura versada na astrologia. Particularmente forte foi a influencia de um evangelho apócrifo denominado Protoevangelho de Tiago datada do segundo século cristão. Nele estão muitas das crenças populares e gnósticas que inspiraram as massas no culto aos reis magos. No século V, Orígenes e São Leão Magno propõem chamá-los de reis-magos. No século VII eles ganham nomes populares: Baltazar (deformação de Baal-Shur-Usur - Baal protege a vida do rei), Belchior ou Melchior e Gaspar. Eles trazem ouro, incenso e mirra para o menino Rei, Deus e Salvador. No século XV, lhe são atribuídas etnias: Melchior passa a ser de raça branca, Gaspar, amarelo, e Baltazar, negro, para simbolizar o conjunto da humanidade que vê e conhece o Salvador. Alguns relatos mostram que eram sábios vindos da Índia, Pérsia ou Caldeia.

O mais curioso é que existe na Catedral de Colônia, Alemanha, um monumento onde estariam as relíquias dos reis magos dentro da própria Igreja. Essa chamada “Dom” de Köln tem esse relicário medieval. Eu mesmo estive lá. É uma peça belíssima. Impressiona como arte e símbolo que une os povos.

 

 

 

Faustino Teixeira

 

O mergulho no Mistério: em torno de Lya Luft

Ontem, dia 30 de dezembro de 2021, fui tocado pela notícia da morte de Lya Luft, aos 83 anos de idade. Foi uma ficcionista e poeta que teve presença na minha formação, ajudando-me a trabalhar um tema muito caro ao diálogo inter-religioso, que é a impossibilidade de acessar o mundo do outro. Ajudou-me também a entender o mistério que habita as relações humanas.

Em seu livro, Mar de dentro (2002), encontrei uma das frases que mais me acompanhou nas reflexões pessoais. Ela falava da presença de um “espaço intransponível mesmo nos mais íntimos amores”. Isto era como um mantra para mim, ajudando-me a captar este silêncio que também Rilke acentua repetidamente em seus poemas e também nas Elegias de Duíno.

Lya Luft gostava de uma passagem de Rilke que dizia:

“Somos apenas a casca e a folha.
A grande morte que está em todos nós,
essa é a fruta e em torno dela tudo gira”.

A escritora viveu um bonito romance com Hélio Pellegrino. Foi uma paixão intensa, uma história “de amor e coragem”. Tudo foi descrito num de seus livros mais pungentes, O lado fatal (1988), que guardo comigo como um tesouro. Sobre o amor entre os dois, ela falava: “Todo casal apaixonado devia morrer junto. A nossa relação também estava no auge – nos conhecíamos há apenas três anos. Não tivemos o tempo da monotonia, do desgaste. Tudo ainda era muito mágico”. Os dois tinham se conhecido num congresso de escritores em Porto Alegre em 1985. Dali nasceu uma história de amor. Foram exatamente dois anos e três meses, ceifados com a morte de Hélio, em março de 1988, quando estava no auge de sua vida, encantado pelo mistério.

No livro dedicado a Pellegrino, seus poemas cantam a intensidade de poder reviver seu grande amor. Escreveu:

“O meu amado morreu
preciso viver sua morte até o fim.
Morreu sem que se instalasse entre nós cansaço e
(banalidade)
Talvez tenha morrido na medida certa
para nada se desgastar.
Dele me vem a dor, mas também a ternura,
A claridade que me permite ver
Em todos os rostos o seu rosto (...)”.

A morte ceifou o amor, mas ele é o dado inegociável, que está sempre em torno, e pode um dia nos surpreender. Lya Luft sublinha que não escrevia muito sobre a morte, mas que ela é que “escreve sobre nós”. E escreve “desde que nascemos” e “vai elaborando o roteiro da nossa vida. Ela é a grande personagem, o olho que nos contempla sem dormir, a voz que nos convoca e não queremos ouvir, mas pode nos revelar muitos segredos”.

Dizia que, em verdade, o que somos é mistério, e que nos torna “maiores do que pensamos ser”. A vida que cresce “é em tudo um milagre”.

Lia, mesmo quando tomada pela dor, era capaz de perceber as frestas de luz. E reflete sobre isto em Secreta mirada (1997):

“Das coisas boas e belas que acabam nos vêm sempre uma luz e uma capacidade de ver o mais banal com algum encantamento. Essa é a secreta mirada que todo mundo pode ter, mas que o acúmulo de compromissos, o excesso de deveres, a exigência de sermos cada vez mais competentes e eficazes, talvez nos roube um pouco”.

Sinto que isso foi roubado um pouco de Lya Luft depois que começou a escrever na Veja. Algo daquele encanto da sua escritura se perdeu, sem, porém, macular toda a beleza de seus escritos anteriores.

De seus livros, gosto de modo muito particular do Rio de meio (1996). Ali também fala de perdas:

“Quando o amor foi bom a perda dói mais, mas permanece uma raiz vital que faz retornar a esperança. Tímida, a semente se entreabre como quem desperta e boceja; lança um caule muito fino que sobe até a superfície, e um dia sabemos que a vida é de novo possível”.

Numa das partes mais bonitas de seu livro Rio do meio, Lya Luft começa citando uma frase de Rilke, que aborda a “floresta das contradições” que habita a vida de cada um. Ela assinala que “é preciso audácia para abrir a cortina e saltar na arena junto com tudo o que fingia sossegar, mas nos atormentava tanto”.

E aí, sua reflexão singular sobre os diversos tipos de mulheres: aquelas que são ocas, tendo sido antes meninas plenas; aquelas outras mulheres simples, com seu dom que encanta, habitadas por uma capacidade que se perdeu entre as mulheres “mais sofisticadas”; e, por fim, as “mulheres ensolaradas”, aquelas cuja “luminosidade se espalha por toda parte. Mesmo abaladas por alguma fatalidade, ainda que lhes falte o que para tantas sobre em beleza ou luxo, têm em si uma espécie de obstinado sol que se desprende delas como um perfume”.

Para Lya Luft, a morte era um tema recorrente, mas algo que trazia consigo um ensinamento: “observar mais detidamente e saborear melhor as coisas”. Consolava um dia um amigo portador de Aids a respeito. Dizia ainda que a doença não deixa ninguém distrair da morte.

Lia experimentou com o Melanoma ao fim da vida o que é ter seus dias contados: “Essa é uma das estranhas vantagens de saber que se vai morrer: a vida se mostra em todo o seu esplendor, e nos faz sentir a urgência – não de devorá-la, mas de vivê-la melhor”. As pessoas que conseguem assumir sua doença, diz Luft, são “os santos dos nossos dias”. É quando chega a hora “de desligar o som, fugir do trânsito, deixar em paz por um minuto as inúteis palavras – e tentar escutar dentro de nós uma outra linguagem”.

Diante das perdas recorrentes ou da consciência da morte que se aproxima, Lya Luft reconhece a importância de saborear o instante de vida em cada passo, sem pressa e com voracidade... Pois a morte pode nos surpreender com sua presença indecifrável. Evitar ser pegos de surpresa, e avançar para além de uma sensação que ocorre:

“Não tivemos nem tempo de pensar que estávamos vivos, e que era uma tão grande urgência ser bom, ser decente, ser pensativo, ser paciente, ser curioso, ser cansado, ser decepcionado, ser frustrado, ser generoso, ser amoroso, ser humano”.

 

Julio Renato Lancellotti

 

Inacreditável receber mensagem de quem se expressa assim . Ódio e desprezo

 

 

Leituras Livres

 

Ecologia na prática:

Que 22 seja o ano em que despertaremos para a consciência de que somos parte da natureza, de que a "parceria" com ela nos tornará mais plenos e resilientes.

Pássaros e abelhas são nossos parceiros na dispersão de sementes e na polinização.

Belos, no plano visível e invisível.

 

 

 

 

Marta Gustave Coubert Bellini

 

 

 

Apolo Heringer Lisboa

 

GUIMARÃES ROSA MANDA ABRAÇO

 


Gerhard Schäfer

 

“I guess the only time most people think about injustice is when it happens to them.”

-Charles Bukowski-

Freedom for Julian Assange.

NOW!

 

 

José Luis Fevereiro

 

Virada do ano em Copacabana

 

Fernando Altemeyer Junior

 

• 01/01/2021 – falecimento por problemas cardíacos no Hospital Santa Marcelina, Itaquera, do padre Antonio Luiz Marchioni, nosso amado TICÃO, nascido em Urupês, SP em 20/04/1952 e ordenado presbítero em 08/07/1978 por dom Constantino Amstaldem. Foi pároco da Igreja São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo por anos de amor ao povo da Zona Leste. Homem querido e pastor com cheiro de ovelhas. Quanta falta nos faz. Saudades infinitas. Ora pro nobis.