Breves do Facebook

Foto: Pixabay

18 Outubro 2021

 

Francisco Cornelio

 

É muito bom quando as palavras dos profetas incomodam os detentores de poder. É sinal de que estão sendo fiéis àquele que lhes enviou: Deus.

Contudo, o caso recente dos xingamentos do deputado bolsonarista de São Paulo ao arcebispo de Aparecida, Dom Orlando, mostra não apenas que o arcebispo e a CNBB estão do lado certo, mas também o nível degradante da política que o bolsonarismo representa.

É inegável que o Brasil sempre teve políticos incompetentes e medíocres. Mas nunca tinha chegado ao nível que o bolsonarismo tem revelado. Nunca a barbárie tinha ocupado tanto os espaços de poder como agora, pelo menos no regime democrático. É lamentável que a eleição de um presidente desumano levou com ele uma legião de cretinos ao poder, revelando o que há de pior no Brasil.

Outro aspecto muito revelador na fala do deputado foi o modelo de Igreja com o qual ele se identifica, ao citar Opus Dei e Arautos do Evangelho como referência. A identificação dele e de praticamente todo o bolsonarismo católico com essas duas organizações, citadas explicitamente como oposição à CNBB e ao Papa Francisco, apontam quais os interesses e valores que elas defendem e, obviamente, não são os do Evangelho de Jesus Cristo.

Não vou reproduzir o vídeo com a fala do deputado.

Quero apenas agradecer a Deus por Dom Orlando e sua coragem. Por nos recordar que ainda temos profetas vivos na Igreja do Brasil. E a nota da CNBB, em apoio a ele, também comprova isso.

É muito bom quando a gente sabe que tem profetas em nosso meio, e Dom Orlando é um deles!

@fco_cornelio

 

Leandro Longo

 

 

E o nosso pastor supremo papa Francisco!

 

Moisés Mendes

É até divertido ver Eduardo Leite atacando João Doria com o argumento de que o paulista apoiou Bolsonaro em 2018.

Leite diz que, se o adversário vencer as prévias tucanas, o PSDB pode ter de volta o BolsoDoria.

Mas Doria é há muito tempo, por causa da vacina, um dos grandes inimigos de Bolsonaro.

E Leite repete em voz alta que não se arrepende de ter sido aliado de Bolsonaro.

Qualquer tucano sabe que Leite é hoje o candidato da direita e da extrema direita, dentro do partido, na disputa com Doria pela candidatura em 2022.

 

Patrick Miller

Via RealidadePolítica, Filosofia Política & Realpolitik - o Brasil no dia a dia

 

 

Esta é Czeslawa Kwoka, 14 anos, uma criança. Ela foi executada em Auschwitz a 18 de fevereiro de 1943, uma seringa fenol injetada diretamente no coração. Pouco antes de sua execução, ela foi fotografada por um colega prisioneiro, Whilem Brasse (ele mais tarde testemunhou contra o carrasco de Kwoka). Aqui a vemos, abusada e aterrorizada, ela nem sequer falava a língua dos seus carrascos e tinha perdido a mãe alguns dias antes. Cerca de 250 crianças foram executadas em Auschwitz-Birkenau. A cara atormentada dela é o resultado da decadência política e moral de muitas pessoas. Ainda existem indivíduos que procuram destruir o que é humano ao nosso redor e dentro de nós. Olhar está em volta.

Eles também cantam no nosso país.

 

Augusto Arruda

 

 

 

Gustavo Bertoche

Via Cesar Benajamin

 

 

Em 16 de outubro de 1962, Gaston Bachelard nos deixava.

Bachelard nasceu em 1884 numa família de pequenos comerciantes no interior de Bar-sur-Aube, na Champagne. Passou a infância nos campos. Foi funcionário dos Correios. Esteve nas tricheiras por 38 meses durante a guerra, instalando e reparando cabos telegráficos, e recebeu a Croix de Guerre. Tornou-se pai em 1919 e viúvo em 1920. Entre 1919 e 1930, foi professor de física e química no liceu de sua cidade.

Obteve seu doutorado em filosofia aos 42 anos, em 1927, quando também publicou seu primeiro livro e ingressou como professor na faculdade de letras de Bar-sur-Aube. Lecionou em sua cidade natal até 1940, ano em que se tornou professor na Sorbonne. Lá, teve como alunos toda uma geração notável de intelectuais - como M. Foucault, J. Derrida, P. Bourdieu, G. Durand, F. Dagognet.

A despeito de ter vivido a guerra e de ter lecionado na Sorbonne sob o regime de Vichy, a sua filosofia não possui um caráter político ou ético - não, no sentido tradicional.

A ética e a política de Bachelard são a ética e a política da vida científica e da vida poética. Para Bachelard, a ciência e a poesia são os pólos do mundo humano; tudo o que lhe interessa está inscrito entre esses pólos. De um lado, o pólo da racionalidade científica, da luz diurna, com a sua exigência de método, rigor e crítica. Do outro, o pólo da imaginação poético-literária, da noite misteriosa, com a liberdade do sonho e do devaneio.

A indiferença de Bachelard ao discurso sobre a ética e sobre a política é, no fundo, uma lição de ética e de política. Explico. Para Bachelard, a tarefa mais fundamental de qualquer sociedade deveria ser a educação dos jovens para o conhecimento e para a imaginação. Tudo o mais deveria ser secundário. Neste sentido, ele escreveu que a escola não deveria servir à sociedade, mas a sociedade deveria servir à escola: a escola deveria ser a finalidade da sociedade. Afinal, a maior - e talvez a única realmente importante - responsabilidade de cada geração é preparar a geração que a sucederá.

Em suma: pouco importam a ética e a política, se toda a sociedade não se mobilizar em função de uma educação científica e poético-literária para os jovens - o que, por si só, já se constituirá como uma formação ética e política.

Diante de nossas circunstâncias, talvez Bachelard, cuja morte hoje completa 59 anos, seja a voz a ser ouvida em nosso tempo.

 

Valerio Arcary

A “terceira” via não decola. Por quê?

Cria corvos e eles te arrancarão os olhos. Sabedoria popular espanhola

A fratura política na burguesia brasileira é a mais importante desde o fim da ditadura nos anos oitenta. Isso é algo imenso. As eleições de 2022 serão diferentes, pela máxima gravidade, de tudo o que ocorreu nos últimos trinta e cinco anos, e seu desenlace é, neste momento, imprevisível. Quem se deixa embriagar pelas pesquisas que indicam uma provável vitória de Lula comete o mais grave entre os erros impressionistas: o facilismo. Subestimar Bolsonaro será fatal.

Mas é verdade que se abriu uma brecha na classe dominante. Ela teve um custo terrível: a banalização da barbárie por um governo genocida, que trabalhou pela aceleração do contágio da pandemia que resultou em uma tragédia humanitária. Bolsonaro foi longe demais, mesmo para os padrões selvagens da superexploração que prevalecem no Brasil.

O elemento mais intrigante da conjuntura deste trimestre final de 2021 é, portanto, o imbroglio da incerteza e indefinição da “terceiravia contra Bolsonaro e contra Lula. Afinal, essa é a aposta prioritária do núcleo central da fração mais poderosa da burguesia. Estamos diante de uma “crise de direção” da classe dominante, a mais importante da periferia do capitalismo, que permanece dividida.

A polarização entre Bolsonaro e Lula não interessa aos grandes capitalistas. Embora as duas correntes que disputam influência entre o agro-negócio, o capital comercial, industrial e financeiro estejam muito unificadas em torno do projeto estratégico de choque econômico-social, as diferenças políticas são incontornáveis.

O capitalismo brasileiro pode se adaptar a um governo Bolsonaro ou um governo Lula, como a experiência histórica demonstrou. Mas uma adaptação com graus muito diferentes de contrariedade e conflito, desconfiança e tensão. Contra Bolsonaro, alguns manifestos. Contra Dilma Rousseff, um golpe institucional “com o Supremo, com tudo”. A fração mais rica e forte quer uma candidatura própria que defenda a agenda liberal de ajustes e a preservação do regime democrático-eleitoral.

A analogia da luta política com o xadrês é divertida, mas enganosa. É verdade que o xadrês é um jogo muito mais complexo que as damas. Afinal são peças variadas com diferentes movimentos e possibilidades, mas ainda assim é uma luta somente entre duas forças. Na luta política e social, embora prevaleça, nas nações urbanizadas, a disputa de interesses entre as duas classes mais poderosas, capital e o trabalho assalariado, os conflitos são demasiado complicados para que a divisão se esgote em dois campos.

Por três razões fundamentais: (a) nem a burguesia, nem a classe trabalhadora são tão homogêneos a ponto de poderem se expressar de forma unificada somente através de um partido; (b) as camadas médias, ainda que, politicamente, fragmentadas são, suficientemente, importantes para cumprir um papel de desequilíbrio na definição da relação social de forças; (c) existem, transversalmente, às classes, grupos sociais: militares, policiais, intelectuais, artistas, religiosos e outros que têm um peso próprio.

O paradoxo da conjuntura é que a divisão da burguesia, entre o apoio a uma terceira via ou Bolsonaro, parece insolúvel. Nenhum setor importante tem disposição de apoiar Lula, pelo menos no primeiro turno. A resposta mais simples é que o campo que tem a responsabilidade da decisão, em primeiro lugar, PSDB, MDB e DEM, partidos que obtiveram bons resultados nas eleições municipais de 2020, ainda não tem uma liderança competitiva para as eleições presidenciais de 2022 e estão, dramaticamente, divididos. Mas é um argumento “circular”: estão divididos porque não têm uma candidatura viável, e não têm um candidato porque estão divididos.

A questão mais instigante na análise é tentar explicar este impasse, que revela uma decadência profunda. Ela nos remete a três considerações: (a) por que não se abriu um processo de renovação e surgiu uma liderança inconteste, cinco anos depois do impeachment de 2016, e após quase três anos de governo da extrema-direita; (b) por que não conseguiram consolidar um partido ou uma frente nacional de partidos para oferecer sustentação ao projeto da terceira via; (c) por que não se formulou sequer um discurso político, como expressão de um programa, que tenha alguma audiência de massas.

A primeira questão repousa em um fenômeno social-político complexo: a eleição de Bolsonaro como expressão carismática de um giro da maioria da classe média para a extrema-direita, no calor das denúncias anticorrupção da operação LavaJato, capaz de de atrair, também, votos em setores populares. Os três principais partidos que, entre 1994 e 2016, fizeram a representação política da classe dominante foram deslocados pelo arrastão radicalizado que provocaram quando incendiaram o país com o golpe institucional dissimulado como impeachment de Dilma Rousseff.

O feitiço se voltou contra os feiticeiros. Os quadros que foram sendo selecionados para fazer a representação dos grandes oligopólios capitalistas, durante os mandatos do PT na presidência, foram, politicamente, torrados, trucidados, decapitados por investigações: Aecio Neves do PSDB em Minas e Sergio Cabral do Rio no PMDB, entre muitos outros. A improvisação de um nome com credibilidade, e que possa despertar confiança e expectativa nos setores da classe dominante que se afastaram de Bolsonaro não é simples.

O melhor colocado seria João Doria, mas não tem audiência nacional, e disputa um PSDB fraturado nas prévias contra Eduardo Leite. Sergio Moro construiu uma imagem de “justiçeiro” em parcelas das camadas médias saiu do país há um ano, não tem força para disputar o lugar de Bolsonaro na extrema-direita, e o Podemos é um partido de aluguel. Mandetta do DEM vem do Mato Grosso do Sul, um Estado periférico do centro-oeste, e teve seus cinco minutos de prestígio somente porque foi demitido por Bolsonaro. Rodrigo Pacheco tem a vantagem de vir de Minas Gerais, o segundo colégio eleitoral, mas além de desconhecido, é apresentado pelo PSD de Gilberto Kassab, que não tem inserção nacional. Simone Tebet obteve alguma visibilidade com a CPI, mas é muito improvável que o MDB sustente uma candidatura. Nenhum destes pré-candidatos desperta simpatia nas amplas massas populares.

Resta, portanto, Ciro Gomes, que permanece melhor colocado, mas não tem, por enquanto, os apoios necessários na classe dominante. Não é por outra razão que se reposiciona explorando os rancores anti-petistas, para tentar superar uma preferência inferior a 10%.

A segunda questão é que o declínio do PSDB, como o eixo de uma Frente de oposição de centro-direita liberal a Bolsonaro, não foi superada. E não surgiu nenhum partido que possa substituí-lo. E tudo indica que as dificuldades da fração mais forte da burguesia em estruturar a sua representação nacional, diante do desafio que será construir uma candidatura que terá que enfrentar Bolsonaro e o papel centrífugo do centrão, não será contornada antes das eleições de 2022.

A terceira é a ausência de um discurso, minimamente, convincente. A bandeira da defesa das instituições parlamentares e jurídicas do regime não parece ter fôlego, a não ser em setores minoritários da classe média. A defesa de um choque de capitalismo com privatizações terá que ser disputada com Bolsonaro, assim como a campanha de luta contra a corrupção. Sobre o desemprego, a queda do salário médio, a luta por moradia, a crise da educação pública, as reivindicações dos movimentos de mulheres, negros, LGBTIA+, a defesa da Amazonia ou a causa indígena não têm muito a dizer.

É improvável, portanto, que a terceira via possa se afirmar diante da polarização entre Bolsonaro e Lula. Ou seja, a eleição deve antecipar para o primeiro turno o tipo de polarização que é característica do segundo turno.

Mas a esquerda não será mais forte, eleitoralmente, defendendo ideias do centro-liberal. Terá, politicamente, menos respeito e confiança. A esquerda, se for possível uma unificação desde o primeiro turno, não deve renunciar a um programa de reformas estruturais e medidas anticapitalistas. Tampouco deve fazer alianças com partidos apodrecidos ou lideranças corrompidas que nos desmoralizam.

Diante da fratura burguesa há uma oportunidade histórica.

A mão não deve tremer.

 

Antonio Riserio

FALTA DE SERIEDADE

Nesse rolo todo aí em torno das sinhás pretas da Bahia, é bom deixar bem claro uma coisa: entre os que até aqui escreveram sobre o assunto, nenhum leu meu livro. Até Muniz Sodré, que, se tivesse lido, teria visto que cito uma tese dele na discussão sociológica do tema. Agora, como se não bastasse, aparece um artigo completamente boboca de Lilia Beyoncé Schwarcz, a expoente uspiana da história penitencial no Brasil: ela escreve como se estivesse revelando mundos... mundos que, sinto dizer, são fartamente discutidos no meu livro, que ela também não leu... O diabo é que, com toda essa onda, fica parecendo que eu disse coisas que jamais disse, nem diria. Logo, volto ao acacianismo: o autor deve ser julgado por suas próprias palavras e não por palavras alheias... ditas, aliás, a propósito de um livro que, com a típica seriedade acadêmico-militante de nossos dias, simplesmente não leram.

 

Jeca Sopro

 

 

"As relações entre a coletividade e a pessoa devem ser estabelecidas com o objetivo único de afastar o que é suscetível de impedir o crescimento e a germinação misteriosa da parte impessoal* da alma. Para tanto, é necessário, de um lado, que haja em torno de cada pessoa espaço e um grau de liberdade na organização do tempo, possibilidades de passagem a níveis de atenção cada vez mais elevados, solidão, silêncio. Ao mesmo tempo, cumpre que a pessoa esteja aquecida, para que a desorientação não a force a se afogar no coletivo."

(SIMONE WEIL - Filósofa Francesa - 1909/1943 - 'A Pessoa & O Sagrado' - In: "Pela Supressão dos Partidos Políticos")
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* Dimensão do Sagrado.