21 Agosto 2021
Em 2019, mais de 356.000 pessoas morreram por causa do calor extremo provocado pelas mudanças climáticas, um número que nos próximos anos irá aumentar, se não forem realizados esforços “imediatos, urgentes e coordenados em nível mundial” para mitigar o aquecimento global e para aumentar a resiliência ao calor extremo e salvar vidas.
A reportagem é publicada por El Diario, 20-08-2021. A tradução é do Cepat.
Somente se forem tomadas medidas para que o aumento da temperatura global não ultrapasse 1,5 grau, conforme estabelece o Acordo de Paris (um tratado internacional vinculante, ratificado por 196 países, em dezembro de 2015), será possível evitar “a mortalidade substancial” que o calor provocará nos próximos anos.
Essa é a principal recomendação de dois artigos científicos publicados na revista The Lancet, liderados por pesquisadores da Universidade de Washington (Estados Unidos) e da Universidade de Sydney (Austrália), com a participação de cientistas da China, Canadá, Reino Unido, Japão, Suíça e Dinamarca.
Os dois artigos surgem apenas dez dias após a publicação do último relatório do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudanças Climáticas (IPCC), um texto demolidor que avança na questão de que o aquecimento global provocará “mudanças irreversíveis”, que durarão milênios, e que os autores traçam em cinco cenários diferentes, dependendo do nível de emissões do futuro.
Nesse contexto, e diante da próxima reunião mundial sobre a mudança climática, a COP26, que nesse ano será realizada em Glasgow (Escócia), os estudos da revista The Lancet convidam a combater o calor extremo a partir de dois enfoques estratégicos: com medidas para reduzir as emissões e frear o aumento da temperatura e com medidas para proteger a população do calor extremo.
“Se as emissões de gases do efeito estufa não forem reduzidas e não forem elaborados e colocados em prática planos de ação contra o calor, um futuro muito diferente aguarda muitas pessoas e comunidades do mundo inteiro”, alerta a coautora principal dos dois estudos, Kristie L. Ebi, da Universidade de Washington.
O primeiro artigo explica que o estresse térmico extremo sobrecarrega o organismo que ao tentar termorregular sofre doenças cardiorrespiratórias, problemas de saúde mental e problemas na gravidez e o parto.
Os mais vulneráveis são as pessoas idosas e os mais de 1 bilhão de trabalhadores que estão expostos às condições ambientais em todo o mundo e, dos quais, um terço já sofre consequências em sua saúde, o que supõe um claro e crescente problema de saúde mundial, alertam os autores.
Segundo o estudo, entre 1990 e 2019, o número de mortes relacionadas ao frio cresceu 31%, ao passo que as mortes causadas pelo calor nesse mesmo período aumentou 74%, especialmente nas regiões mais quentes do mundo.
“Os dias extremamente quentes ou as ondas de calor que antes ocorriam aproximadamente a cada 20 anos estão aumentando e poderão ocorrer todos os anos, até o final desse século, caso as atuais emissões de gases do efeito estufa continuarem. Esse aumento das temperaturas, somado ao aumento de uma população cada vez mais envelhecida, significa que um número ainda maior de pessoas correrão o risco de sofrer os efeitos do calor sobre a saúde”, alerta Ebi.
Sendo assim, reduzir os efeitos do calor extremo sobre a saúde humana “é uma prioridade urgente e deve incluir mudanças imediatas nas infraestruturas, no ambiente urbano e no comportamento individual para prevenir as mortes relacionadas ao calor”, afirma o estudo.
Entre as estratégias de refrigeração, os autores propõem medidas individuais como usar ventiladores elétricos, refrescar-se com água ou usar roupa úmida, e medidas para adaptar os edifícios e refrescar os ambientes interiores com painéis nos muros e janelas isolantes, melhorar a ventilação entre os edifícios, aumentar os espaços verdes, criar espaços com água e sombras e reduzir a poluição nas cidades, entre outras ideias.
“Os efeitos que a exposição ao calor extremo pode ter no organismo são um claro e crescente problema de saúde mundial. Há muitas opções sustentáveis e acessíveis para reduzir os efeitos da exposição ao calor e refrescar o corpo, em vez de resfriar o ar que nos cerca”, propõe Ollie Jay, pesquisador da Universidade de Sydney e coautor dos estudos.
Finalmente, os estudos recomendam planos de ação contra o calor, sistemas de alerta precoce e uma sólida vigilância e controle com estratégias de resfriamento baseadas em recomendações científicas que ajudem as pessoas a combater o calor extremo no futuro.
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Mortes pelo calor extremo aumentaram 74%, entre 1990 e 2019 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU