15 Junho 2021
O editor do The Intercept Brasil (TIB), Leandro Demori, foi intimado a comparecer na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática na quinta-feira. Crime do jornalista? Ter questionado, em matéria publicada no portal, os casos de mortes em favelas do Rio de Janeiro envolvendo operações da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da polícia carioca.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Demori elenca evidências apuradas com fontes sobre a possível existência de um grupo de matadores agindo no coração da polícia. A matéria, publicada no dia 8 de maio, arrola o assassinato do jovem João Pedro Mattos, de 14 anos, a jacina do Jacarezinho, a chacina do Salgueiro, as mortes a tiros projetados de helicóptero na Maré. Demori perguntou: “Quantos mais?”
Na semana passada, o Brasil cidadão foi abalado com a notícia da morte da designer de interiores Kathlen Romeu, 24 anos, grávida de 14 de semanas. Ela foi atingida no Complexo do Lins quando passeava com a sua avó, vindo a falecer em seguida, ela e o bebê. “Foi a polícia que matou minha filha. Foi a PM que tirou a minha vida, o meu sonho”, denunciou a mãe de Kathlen, Jaqueline de Oliveira Lopes, com base em relatos de moradores da comunidade.
De janeiro a outubro do ano passado, a região metropolitana do Rio contabilizou 100 pessoas atingidas por balas perdidas, das quais 25 eram crianças e adolescentes, e 11 idosos. Do total, 17 atingidos não resistiram aos ferimentos e morreram, cinco deles criança, segundo a Plataforma Fogo Cruzado.
“Permita-me dizer, bala achada”, contrapõe o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa. “Sempre que um menino e uma menina morre de forma tão banal e hedionda pensamos que tudo vai mudar, mas nada muda. O motivo deve-se ao fato de que esses pequeninos moram em comunidades cujos moradores são considerados pelo poder público e grande parte da sociedade matáveis”, explicou.
A cada 23 minutos, contabiliza da Coalizão Negra por Direitos, um jovem negro é assassinado no Brasil. Mais de 75% dos mortos pelas polícias brasileiras são negros. Entre 2016 e 2017, o número de quilombolas assassinados no país cresceu 350%!
O TIB lamenta que “em uma inversão total de prioridades éticas e funcionais, a polícia decidiu agir contra o jornalista mensageiro em vez de investigar a grande denúncia feita pelo editor-executivo do Intercept”.
Manifesto de apoio e solidariedade ao editor do TIB, organizado por professores e professoras do curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), recolheu, até o dia 12, mais de 1,5 mil assinaturas de colegas, profissionais liberais, religiosos, estudantes, artistas Brasil afora em 24 horas. O portal destaca que “apesar dos esforços de alguns, ainda vivemos em uma democracia. E nossa Constituição garante a liberdade de imprensa e protege o sigilo da fonte.”
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Polícia do Rio intimida editor do TIB a esclarecer denúncia de chacinas em favelas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU