20 Mai 2021
Desde que foi assinado pela primeira vez, há mais de cinco anos, o Acordo de Paris estabeleceu o padrão para o esforço global para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com mais de 70 países assumindo ambiciosas contribuições nacionalmente determinadas que excedem os compromissos iniciais estabelecidos no acordo.
A reportagem é publicada por Woodwell Climate Research Center e reproduzida por EcoDebate, 19-05-2021. A tradução e a edição são de Henrique Cortez.
No entanto, um novo artigo publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences argumenta que o orçamento de carbono em que esses compromissos se baseiam não leva em consideração a ciência mais recente sobre os ciclos de feedback do Ártico e pede que os líderes globais repensem as metas de emissões.
“O aquecimento do Ártico representa um dos maiores riscos ao nosso clima, mas ainda não foi adequadamente incorporado às projeções e políticas climáticas existentes”, disse a Dra. Sue Natali, autora principal e diretora do Programa do Clima de Woodwell para o Ártico. “Para construir uma política eficaz para enfrentar a crise climática, é essencial que reconheçamos a dimensão total do problema”.
Na última década, o rápido aquecimento do Ártico resultou em ondas de calor recorde na Sibéria, incêndios florestais extremos ao norte que liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera, a perda de gelo marinho do Ártico e uma aceleração do degelo do permafrost.
O permafrost ártico, que acumula e armazena carbono há milhares de anos, contém aproximadamente o dobro da quantidade de carbono que está atualmente na atmosfera da Terra e está liberando esse carbono na atmosfera à medida que degela. Essas emissões exacerbam o aquecimento, o que desencadeia mais degelo, podendo levar a um aumento exponencial das emissões e aquecimento nos próximos anos. Este novo artigo mostra que os orçamentos atuais de carbono falham em contabilizar essas emissões de carbono do permafrost e os perigosos ciclos de feedback climático que eles desencadearão.
“Com base no que já sabemos sobre degelo abrupto e incêndio florestal, esses ciclos de feedback provavelmente exacerbarão o feedback do degelo do permafrost e as emissões de carbono resultantes”, disse a pesquisadora de Woodwell e coautora do artigo, Dra. Rachael Treharne. “A menos que nossos modelos levem em conta esses efeitos antecipados, estaremos perdendo uma peça importante do quebra-cabeça do carbono.”
A fim de manter a temperatura da Terra abaixo de 1,5° ou 2°C, o documento recomenda que os tomadores de decisão incorporem a ciência mais recente sobre as emissões de carbono do Ártico em modelos climáticos e orçamentos de carbono usados para informar a política e atualizar as avaliações de risco para determinar a rapidez com que precisamos reduzir as emissões para cumprir as metas climáticas.
“A ciência por si só não é suficiente”, disse o Dr. Philip Duffy, presidente e diretor executivo do Woodwell Climate Research Center e coautor de comentários. “Precisamos urgentemente de comunicação entre as comunidades científicas e políticas para garantir que nossas políticas climáticas sejam eficazes para lidar com a escala e o escopo da crise climática.”
Susan M. Natali el al., Permafrost carbon feedbacks threaten global climate goals, PNAS (2021). Disponível aqui.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Feedbacks de carbono do permafrost ameaçam as metas climáticas globais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU