"A liturgia de hoje diz para cada um, cada uma de nós que é vivendo em comunidade, como vimos na primeira leitura; amando a Deus e ao próximo, como vimos na segunda leitura; que permanecemos no Senhor e daremos muitos frutos para glorificar o Pai, como nos diz o Evangelho. Então, juntos e juntas com o salmista poderemos cantar: Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembleia! (Sl 21/22)."
A reflexão é de Cristiane Rodrigues de Melo, fsp, membro da Congregação Pia Sociedade Filhas de São Paulo – Irmãs Paulinas. Ela é licenciada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC-PR (2005), bacharel em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP/PE (2015) e possui pós-graduação em Psicopedagogia pela UNOESC-SC (2016)
Irmãos e Irmãs, Graça e Paz!
Estamos no 5º Domingo de Páscoa, ainda vivenciando o Mistério da vida, paixão, morte e Ressurreição de Jesus. Por isso, a liturgia desse tempo nos recorda constantemente os diálogos principais de Jesus com seus discípulos e discípulas.
A primeira leitura da liturgia deste domingo é tirada do Livro dos At 9,26-31. Mas, para entender essa passagem, é importante ver o que estava acontecendo no versículo anterior. Veremos que após o encontro com o Ressuscitado em Damasco, Saulo permaneceu aí três anos colaborando com a comunidade cristã. Depois desse tempo, ele foi forçado a abandonar a cidade escondido dentro de um cesto, porque os judeus estavam vigiando as portas da cidade a fim de prender Paulo (cf. At 9,23-25). Um dado interessante é que o evangelista Lucas usa a forma semítica do nome Saulo até o capítulo 13,9. A partir daí, ele passa a usar a forma latina: Paulo.
A leitura mostra a forma como Paulo, depois de deixar Damasco, foi recebido pelos cristãos de Jerusalém. Chegando a Jerusalém, Paulo tentou se integrar à comunidade, mas havia muita desconfiança e medo de que ele não fosse de verdade um discípulo de Jesus, como nos diz o v.26. Só com a ajuda de Barnabé é que a comunidade finalmente irá acolher Saulo como irmão.
Três coisas importantes que podemos destacar nesta leitura:
Primeiro: Para Paulo o cristão não é um ser isolado, mas membro de um corpo. Por isso, a vivência da fé é sempre uma experiência comunitária.
Segundo: o papel de Barnabé é muito significativo e mostra a responsabilidade dos cristãos na integração comunitária. Barnabé é figura da pessoa que questiona os preconceitos e o fechamento da comunidade e a convida a ser mais fraterna, mais acolhedora, mais “cristã”.
Terceiro: a fidelidade ao Projeto de Jesus provoca oposição (v.29), fazendo que o caminho do discípulo seja marcado pela cruz.
Por fim, a Primeira Leitura termina com um elemento característico da catequese de Lucas, que é a certeza da presença do Espírito Santo que conduz, alimenta e faz crescer a comunidade na esperança (v.31).
A Primeira Carta de João 3,18-24 (segunda leitura) apresenta uma espécie de síntese da vida cristã autêntica. O autor alerta os cristãos para que não se deixem levar pelas doutrinas pré-gnósticas que afirmavam que o essencial da fé residia na vida de comunhão com Deus, não importando o amor ao próximo. Para o autor da Carta, esse tipo de fé é totalmente contrário ao Projeto de Jesus, como podemos verificar no v.17 que antecede a leitura de hoje e diz: “Mas, se alguém que tem os bens necessários à sua subsistência neste mundo vê seu irmão passando necessidade e lhe fecha suas entranhas, como pode o amor de Deus permanecer nele?”.
Para o autor da Primeira Carta de João, o critério para saber se o amor a Deus é verdadeiro não está em belos discursos ou em boas intenções. Nem mesmo no quanto a pessoa reza. O critério para saber se o amor a Deus é verdadeiro está nos gestos concretos de partilha e de serviço em favor dos irmãos e irmãs. A exigência fundamental do caminho cristão é CRER em Jesus e AMAR o próximo (v.23). Vivendo esse mandamento podemos ter a certeza de que Ele nos dará seu Espírito (v.24).
O Evangelho (Jo 15,1-8) e situa-nos dentro do longo discurso de despedida de Jesus que vai do capítulo 13,1 até o capítulo 17,26 do Evangelho de João, e é conhecido como o seu testamento espiritual. Como de costume, Jesus usa uma metáfora para dar as últimas instruções sobre a identidade e a situação da comunidade dos discípulos no meio do mundo.
A escolha da imagem da videira e da vinha não é aleatória. Em várias passagens do Antigo Testamento e dos Salmos encontramos referências ao povo de Israel como a “videira” e a “vinha” que Deus plantou, cuidou e da qual esperava frutos. No entanto, apesar do esforço do divino agricultor, Israel nunca produziu os frutos que Deus esperava.
No Evangelho de hoje, Jesus se apresenta como a verdadeira “videira” plantada por Deus e que vai produzir os frutos que o Pai espera através dos ramos que somos nós, seus discípulos e discípulas. O ramo não tem vida própria, precisa se alimentar da seiva da videira para produzir frutos. Por isso, Jesus convida insistentemente para permanecer Nele. O verbo permanecer aparece 7 vezes nesse Evangelho demonstrando a importância de não cortar a relação com a fonte da vida que é Jesus, sob o risco de condenar-se à esterilidade.
O discípulo, a discípula, a comunidade que não permanece ligada à Jesus se torna um ramo seco que não responde à vida que recebe da “videira” e, por isso, não produz frutos de amor, apenas frutos de egoísmo, de fechamento e de morte. O ramo que não dá fruto é aquele que pertence à comunidade, mas não responde ao Espírito do Ressuscitado. O ramo que não dá fruto é aquele que come o pão, mas não se assimila a Jesus.
A liturgia de hoje diz para cada um, cada uma de nós que é vivendo em comunidade, como vimos na primeira leitura, e amando a Deus e ao próximo, como vimos na segunda leitura, que permanecemos no Senhor e daremos muitos frutos para glorificar o Pai, como nos diz o Evangelho. Então, juntos e juntas com o salmista poderemos cantar: “Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembleia!” (Sl 21/22).
Permaneçamos em Jesus, a videira verdadeira!