05 Março 2021
A Arquidiocese de Manaus despedia na tarde-noite do dia 04 de março àquele que foi seu Arcebispo por quase sete anos, Dom Sérgio Eduardo Castriani, falecido no dia 03 de março. A pandemia impossibilitou a presença física do Povo de Deus, que foi restrita ao clero, seminaristas, representantes da Vida Religiosa, o Conselho de Pastoral Arquidiocesano e algumas autoridades.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Mas os milhares de pessoas que acompanharam através dos meios de comunicação e das redes sociais, se fizeram presentes ao lado daquele que seguindo seu lema episcopal, habitou entre nós, em nós, como enfatizava Dom Leonardo Steiner no início da sua homilia. Falando do Verbo Encarnado, usava palavras que bem poderiam ser aplicadas a Dom Sérgio Castriani: “experimentou nossas dores e alegrias, os dissabores e realizações, as injustiças e a misericórdia; compartilhou nossos sonhos, devolveu vida, consolou órfãos e viúvas, abriu olhos e concedeu ouvidos, transformou corpos purificando-os; trilhou os nossos caminhos, indicou a fragilidade humana como transformação, salvação, redenção”.
Foto: enviada por Luis Miguel Modino
Dom Leonardo Steiner disse que “hoje nos despedimos deste nosso irmão e pai. Irmão porque conosco em Cristo Jesus. Pai porque pastor, pai porque paternal, pai porque maternal. Pai porque não suportava deixar ninguém sem casa, nem guarida. Irmão porque próximo de todos, especialmente dos pequenos e desprotegidos”.
O Arcebispo de Manaus lembrava que na pandemia que estamos vivendo, e que tem atingido Manaus com tanta gravidade, “a preocupação que manifestava era especialmente com os nossos irmãos e irmãs que vivem nas nossas ruas, com imigrantes, os pobres”. Dom Sérgio Castriani, que aos poucos foi perdendo sua voz, Dom Leonardo lembrava que “com o fio de voz que lhe restava, desejava recordar-nos onde, como e com quem deveríamos estar”.
O Arcebispo de Manaus, definia seu predecessor como alguém que depois de passar pelo Acre na sua juventude, “voltou para a Amazônia”. Mas, ele “não veio passear, não veio olhar, não foi turista, missionário de um dia, de alguns anos. Aqui permaneceu, aqui habitou; fez da Amazônia o ser em casa. Veio habitar entre nós. Veio para ficar, não como alguém que toma posse, mas como aquele que vem para experimentar com seu povo a fé, para partilhar os dias e as horas, para levar esperança, para consolar, para apreender, para partilhar, compartilhar, para clamar pela justiça, para despertar para a ética”, insistia Dom Leonardo, que vê Dom Sérgio como “coração manso com gestos de profeta. Era escuta que discernia e propunha caminhos. Veio habitar entre nós”.
Foto: enviada por Luis Miguel Modino
Em suas palavras, Dom Leonardo lembrava de uma anedota vivida em Brasília que mostra que Dom Sérgio “veio para ficar, habitar”. Ainda era bispo da Prelazia de Tefé, e lhe perguntou se aceitaria uma arquidiocese no Sul. Ele respondeu “com aquele sorriso suave e cativante: aceito transferência para qualquer diocese, mas no Amazonas”. Nesse ponto, o Arcebispo de Manaus lembrava do carisma espiritano, que fez com que Dom Sérgio, “com a força do Espírito tinha preferência para estar entre os pobres, com os ribeirinhos, com os indígenas, sem deixar de alentar os que mais tem”. Seu carisma lhe fez viver “pobre, despojado, desapegado. Não teve ostentação, mas simplicidade. Às vezes parecia ingenuidade, mas era a sabedoria do Espírito, a singeleza e esperteza da pomba”.
Foto: enviada por Luis Miguel Modino
Dom Sérgio foi alguém que “nos atraiu com o seu modo, com sua espiritualidade, com sua palavra, com seu silêncio”, segundo Dom Leonardo Steiner. Ele lembrava que “a sua dor, o seu sofrer, sem queixumes, mas sempre no desejo de servir, permanece em nós e animará a vida da nossa Igreja”. O arcebispo destacava o sofrimento que purificou “um homem que no auge de sua vida sente diminuírem as forças, desaparecer a voz, cercear os passos, permanecendo o coração desejoso de sair, sair e sair..., encontrar, acalentar, animar”. Um homem que “a sua pena era ágil, sábia, contundente, perspicaz, animadora”, que “sabia ler a realidade, social, política, religiosa. Sabia discernir os caminhos do Espírito”.
Foto: enviada por Luis Miguel Modino
À imagem do Bom Pastor, “Dom Sérgio não se resguardou, se doou”, enfatizava Dom Leonardo. Ele viu a celebração como momento de gratidão a todos os que cuidaram da saúde de Dom Sérgio, aos espiritanos, “gratidão por terem dado um tão grande irmão”, aos familiares, à Prelazia de Tefé, onde deixou “um pedaço do coração”, agradecimento a Deus, “por nos ter dado um irmão, pai e pastor que veio habitar em nós”. Daí, Dom Leonardo animava a ser, “como dom Sérgio, testemunhas de que Deus veio habitar entre nós e em nós”.
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A Igreja de Manaus despede Dom Sérgio Castriani, que “veio para ficar, habitar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU