11 Fevereiro 2021
"Discriminação não é entretenimento. Ofensas, preconceito, exclusão, opressão e humilhação também não. Vale lembrar que errar não cancela todos os outros fatos coerentes que um determinado indivíduo exerceu!".
O comentário é do Frei Augusto Luiz Gabriel, ofm, religioso franciscano natural de Xaxim (SC). É graduado em Filosofia pela FAE - Centro Universitário de Curitiba (PR), atualmente cursa o 2º ano de Teologia no Instituo Teológico Franciscano em Petrópolis (RJ). Amante da comunicação religiosa, atua como fotógrafo, editor e produtor de conteúdo.
Nos últimos dias uma enxurrada de notícias, opiniões e discussões trouxeram à tona um tema muito importante que merece nossa atenção e reflexão: Cultura do cancelamento é entretenimento? O título deste post já responde a essa questão!
Se há 800 anos Francisco de Assis tivesse cancelado o leproso, como seria?! A caráter de contexto, o leproso na época do Santo de Assis era excluído não por um erro que cometeu, mas por possuir uma doença que não tinha cura. Sendo assim, era rechaçado e excluído, ou melhor, cancelado. No entanto, a vivência franciscana é uma experiência que nos convida ao encontro do outro, mesmo com aquele que é diferente de nós. Logo, usar de cancelamento não é nada franciscano muito menos é um ato cristão.
Por cancelamento, entende-se uma ação da internet, onde determinados indivíduos julgam atos que consideram errados do outro. O termo é usado quando você deixa de seguir ou de ser fã de alguém após uma repercussão negativa de um fato que vá contra seus princípios, por exemplo.
Já o cancelador é aquele que oprime, discrimina e ofende. Além de ser um “sabe tudo”, manda e desmanda e não consegue dialogar, usando sempre de linguagem chula. Raramente um cancelador consegue perceber que ocupa tal posição, nem mesmo quando a ele é oferecido a opção de rever sua postura. O cancelador, muitas vezes, segue a opção da massa, da maioria, sem de fato fazer uma real reflexão, apenas segue um movimento do trends do Twitter. Ou então, cancela apenas por não querer se confrontar com a opinião e a verdade do outro.
Nos últimos dias, todas as redes sociais relataram cenas arrebatadoras do maior reality show do país, onde indivíduos, alguns inclusive “cancelados” pelo público aqui fora, tornaram-se massacrantes “canceladores”.
Discriminação não é entretenimento. Ofensas, preconceito, exclusão, opressão e humilhação também não. Vale lembrar que errar não cancela todos os outros fatos coerentes que um determinado indivíduo exerceu! Quando você cancela uma pessoa você torna impossível e veta o poder que um determinado indivíduo tem de crescer e evoluir. O que vale é seguidor ou caráter?
São Francisco de Assis nos ensina que empatia, acolhimento e diálogo são as verdadeiras armas contra canceladores. Através do abraço ao leproso de seu tempo, converteu tudo aquilo que era amargo em doçura e assim tornou-se um novo homem, um jovem renovado, um cristão que ao invés de fazer muros, construiu pontes. Sua vida é uma constante experiência de que caráter vale mais que seguidor, empatia mais que discriminação e de que a verdade vale muito mais que críticas massivas e ofensivas a uma pessoa por conta de um comportamento considerado pela “massa” como errado.
Vale a pena refletirmos e revermos nossa postura nestes meios digitais. Consigamos pois, ser verdadeiros portais de acolhimento, empatia, misericórdia e perdão para com os nossos irmãos e irmãs. Paz e Bem!
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Cultura do “cancelamento” não é entretenimento! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU