26 Novembro 2020
As mudanças tecnológicas deram origem a um desenvolvimento econômico exorbitante. Enquanto os ganhos das empresas de tecnologia aumentaram durante a pandemia, outros setores entraram em crise e empresas fecharam. Isso mostra o poder das gigantes de tecnologia, como, Google, Facebook, Apple, Amazon, e o papel de seus CEOs, que estão entre os homens mais ricos do mundo.
A reportagem é de André Martins, estagiário do Curso de Jornalismo da Unisinos.
Mas como essas empresas lucram tanto? Através do uso de nossos dados compartilhados nas redes, as empresas de tecnologia anunciam produtos em nossos navegadores, de acordo com nossos gostos pessoais, o que torna a publicidade mais certeira do que em outros meios de comunicação, rendendo bilhões.
Para explicar como funciona a soberania do capitalismo na internet, as causas e as possíveis leis que estabeleceram regras para as empresas de tecnologia, o Prof. Dr. Marcos Dantas, da UFRJ, participou da palestra digital “Capitalismo de plataforma: Introdução a uma economia política de internet”, na última quinta-feira, 19-11-2020, promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Dantas explica que os algoritmos são as peças fundamentais para que a publicidade na internet funcione. A partir deles, as empresas de tecnologia podem controlar o mercado e ganhar em cima da inteligência artificial, que pega palavras-chave, sons e qualquer informação disponível no smartphone ou PC para redimensionar uma publicação. “A construção de algoritmos é feita por poderosíssimos softwares que começam a mapear onde está o consumidor interessado em comprar”, diz.
As corporações enriquecem no mundo todo, a partir do fornecimento gratuito dos nossos dados e nós nem percebemos que estamos consumindo. O detalhe é que toda essa fonte de renda econômica vai sempre para o mesmo local: os Estados Unidos. A maioria das empresas de tecnologia é de lá e isso faz com que o país sempre ganhe economicamente com a internet. “O capital financeiro dessas empresas é altamente lucrativo. Em 2019, só a Google faturou 34 bi de lucro aos acionistas”, informa.
Esses acionistas, inclusive, geralmente comandam as empresas de tecnologia, já que os seus criadores comandam quase 30% das operações. O resto é vendido em ações para alavancar o lucro do negócio. Zuckerberg, criador do Facebook, é dono de 30% das ações da empresa. Isso quer dizer que, caso ocorra erros no seu trabalho, ele pode ser desligado da própria empresa que idealizou.
Outro fator preocupante em relação a essas empresas é o domínio das ações. Segundo Dantas, os grupos de acionistas são sempre os mesmos na maioria das grandes empresas, ou seja, as mesmas pessoas dominam grande parte das ações e das principais fontes de rendas tecnológicas da internet, como Amazon, Google e o próprio Facebook.
O pesquisador explica ainda que os dados são o petróleo do século XXI, ou seja, quem domina as informações da internet tem hoje um bem valiosíssimo junto consigo. E é por isso que existe uma briga entre os Estados Unidos e a China para saber quem terá maior domínio sobre eles. “As plataformas de tecnologia operam como praças de mercado, como grandes feiras de dados”, exemplifica.
De acordo com Dantas, a forma de lucrar com dados na internet não mudou desde a criação do capitalismo. A rotação e a circulação desse capital, de forma rápida, é o que gera o domínio das empresas de tecnologia e é a fórmula para garantir o sucesso do capitalismo. “Marx entende que quanto mais rápida é a circulação do trabalho de comunicação, como o frete, o pagamento de boletos etc., mais o capital irá se valorizar. Quanto mais o tempo se aproxima a zero, mais ele se valoriza”, esclarece. Ou seja, o capital busca incessantemente diminuir os processos da mercadoria para aumentar o seu lucro.
Dantas também chama a atenção para a importância da regulamentação da internet, com leis que monitorem o funcionamento do tráfego de dados. “Hoje em dia, a internet é uma cidade. Precisamos de leis que controlem e regulamentem as plataformas”, afirma.
A regulamentação, contudo, precisa ser diferente para cada plataforma, já que as leis para a Amazon, precisam ser diferentes das que são estabelecidas para o Uber, por exemplo. Alguns locais do mundo já estão propondo essa discussão e estabelecendo leis específicas para empresas de tecnologia diferentes. “É necessário que sejam criadas leis específicas para cada mercado da internet, como deliverys, redes sociais e lojas online, pois existem conflitos trabalhistas em cada área”, conclui.
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Dados são o novo petróleo do século XXI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU