31 Outubro 2020
Em 26 de outubro, o Observatório Estratosférico da NASA de Astronomia Infravermelha, ou SOFIA, anunciou a descoberta de água na lua. A água foi descoberta sobre a superfície iluminada da lua, o que “indica que a água deve estar distribuída pela superfície lunar, e não limitada ao gelo, em locais escuros”, de acordo com a declaração de imprensa.
A reportagem é publicada por America, 26-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O diretor astrofísico da NASA, Paul Hertz, disse que é cedo para saber se essa água – encontrada na cratera Clavius, no hemisfério sul da parte iluminada – poderia ser acessível. A superfície pode ser mais dura lá, arruinando rodas e brocas.
Ainda assim, a descoberta é significativa: os recursos hídricos podem apoiar futuras missões à lua e, eventualmente, seriam necessários para sustentar a vida. SOFIA planeja continuar procurando por locais adicionais de água na lua e estudar como a água é “produzida, armazenada e movida pela Lua”. Eventualmente, os mapas de recursos hídricos da lua guiarão a futura exploração espacial.
A cratera Clavius no hemisfério sul da lua é visível da Terra por causa de seu imenso tamanho. A cratera tem o nome de Christopher Clavius, um jesuíta alemão, astrônomo e matemático. Clavius nasceu em 1537 e entrou para a Companhia de Jesus com 16 anos. Depois de estudar em Portugal e em Roma, foi ordenado sacerdote em 1564.
A água foi encontrada na cratera Clavius. Então, quem foi Christopher Clavius, e por que há uma cratera na lua com o nome dele?
Sua observação em 1560 de um eclipse solar total como estudante inspirou o trabalho de sua vida: a astronomia. Clavius é conhecido por seu trabalho de refinar e modificar o calendário gregoriano moderno, e como o jesuíta Billy Critchley-Menor escreveu em America, Clavius foi até chamado de “Euclides do século 16” antes de sua morte em 1612. Ele foi um dos primeiros matemáticos no Ocidente a popularizar o uso do ponto decimal, e suas contribuições para a astronomia influenciaram Galileu, embora o próprio Clavius tenha concordado com um sistema solar geocêntrico, acreditando que os céus giravam em torno da Terra.
No entanto, ele foi um dos vários jesuítas que influenciaram significativamente as descobertas de Galileu; Paschal Scotti escreveu em seu livro Galileu Revisitado (2017) que “até 1616 os jesuítas tinham sido o maior suporte de Galileu, e repetidamente ele se voltou para eles como faróis da excelência científica e integridade em todas as suas dificuldades”.
Clavius foi um intelectual predecessor a muitos jesuítas que até hoje continuam seu trabalho e trabalham com astrônomos. Muitos desses membros da Companhia de Jesus tem sido instrumentos no trabalho do Observatório do Vaticano, uma das mais antigas instituições de pesquisas astronômicas no mundo.
Jose Funes, s.j., um astrônomo e ex-diretor do Observatório do Vaticano, coautor de um estudo em 2017 sobre como seria o contato entre civilizações de diferentes planetas.
David Brown, s.j., um astrônomo do Vaticano especializado em evolução estelar, foi entrevistado pela America em 2018. Ele sugere que a pesquisa cientifica e a descoberta dos cosmos se alinham com a missão educacional da Companhia de Jesus. Descrevendo seu trabalho com o Observatório do Vaticano, ele disse: “O Observatório é um exemplo em uma longa tradição da Igreja. É a busca da verdade de Deus que nos muda, mas mais do que apenas saber as coisas, é permitir que a verdade de Deus nos transforme. Saber o que significa ser uma pessoa justa, uma pessoa moral, tem enormes implicações para a nossa abordagem da justiça, economia, meio ambiente”.
Guy Consolmagno, irmão jesuíta e atual diretor do Observatório do Vaticano, com perfil feito por America em 2017, também não vê conflito entre sua fé em Deus e seu trabalho científico: “Sempre fortalece minha fé porque fortalece e enriquece minha relação com o Criador. Quando vou rezar, o Deus que encontro na oração comparo com o Deus que encontro na Criação. E vejo que é o mesmo Deus”.
Dos 15 atuais funcionários do Observatório do Vaticano, 13, incluindo o irmão Consolmagno e o padre Brown, são jesuítas. Com sede na residência papal de verão em Castel Gandolfo, o observatório também tem um centro de pesquisa localizado em Tucson, Ariz.
O papa Leão XIII articulou a missão do Observatório em 1891, quando disse que os seus astrônomos trabalham “para que todos vejam claramente que a Igreja e os seus pastores não se opõem à ciência verdadeira e sólida, seja humana ou divina, mas que a abraçam, encorajam-na e promovem-na com a maior devoção possível”.
As observações do papa Francisco na conferência internacional do observatório de 2017 ecoaram a visão do papa Leão XIII: “Eu os encorajo a perseverar em sua busca pela verdade. Pois, nunca devemos temer a verdade, nem ficar presos em nossas próprias ideias preconcebidas, mas acolher novas descobertas científicas com uma atitude de humildade”.
Os cientistas jesuítas têm até um lugar de destaque na literatura. O romance de Mary Doria Russel, O Pardal, narra uma missão jesuíta ao espaço que faz o primeiro contato com uma raça alienígena.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
NASA descobriu água na Lua – em uma cratera com o nome de um padre jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU