05 Setembro 2020
Um bispo católico criticou duramente um texto produzido pelo “Caminho Sinodal” da Igreja alemã sobre o papel da mulher.
A reportagem é de Catholic National Agency, 03-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em uma carta aberta publicada no dia 2 de setembro, o bispo Rudolf Voderholzer disse que um rascunho do texto preparado pelo fórum “Mulheres e Ofícios”, também conhecido como Fórum III, “carece de qualquer aprofundamento teológico”.
O bispo de Regensburg referia-se a um documento produzido por um grupo de trabalho sobre a “Participação das mulheres na liderança nas atuais condições do direito canônico”.
Voderholzer, professor de dogmática, expressou preocupação com a apresentação do documento sobre o estabelecimento dos sacramentos, relatou a CNA Deutsch.
“O fato de os sacramentos pertencerem à Igreja pós-pascal é velado. Ignora-se o fato de que existe na teologia uma reflexão muito diferenciada sobre a questão da instituição dos sacramentos”, disse o bispo.
O Caminho Sinodal é um processo polêmico que reúne leigos e bispos alemães para discutir quatro temas principais: a forma como o poder é exercido na Igreja; a moral sexual; o sacerdócio; e o papel das mulheres.
A primeira assembleia sinodal ocorreu em Frankfurt no fim de janeiro. As reuniões regionais deveriam ocorrer no dia 4 de setembro, após um intervalo devido à pandemia do coronavírus.
Voderholzer argumentou que a redação do texto representava uma violação do “procedimento acordado”.
Na carta dirigida a seus irmãos bispos e organizadores do sínodo, ele destacou uma seção que discute a fundamentação bíblica das mulheres e dos ministérios.
“Como membro do Fórum III, não tive nenhuma possibilidade para comentar essa parte do texto depois que as mudanças foram incorporadas pelo grupo editorial por ‘razões de tempo’. Eu protesto contra esse procedimento”, escreveu ele.
Ele questionou se o texto “tenta usar uma teologia bíblica unilateralmente falsificada para orientar os participantes das conferências regionais em uma determinada direção”.
“Tenho que admitir que tal comportamento me deixaria muito decepcionado e perplexo”, disse ele. “Que espírito estaria por trás disso? Não queremos ser, todos nós, ‘colaboradores da verdade’ (3João 1,8), especialmente nas deliberações do Caminho Sinodal?”
Quando os bispos alemães lançaram o processo, eles inicialmente disseram que as deliberações seriam “vinculantes” para a Igreja alemã, levando a uma intervenção vaticana.
Em junho de 2019, o Papa Francisco enviou uma carta de 28 páginas aos católicos alemães instando-os a se concentrarem na evangelização diante de uma “erosão e deterioração crescentes da fé”.
Apesar disso, nenhum dos fóruns do Caminho Sinodal se concentra na nova evangelização.
Dom Georg Bätzing, o novo presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, discutiu o Caminho Sinodal em uma audiência privada com o Papa Francisco no dia 27 de junho.
Ele disse: “Sinto-me fortalecido pelo intenso intercâmbio com o Santo Padre para continuar o caminho que tomamos. O papa aprecia esse projeto, que ele associa intimamente ao conceito de ‘sinodalidade’ que ele cunhou”.
A audiência ocorreu um dia depois de a Igreja alemã divulgar dados mostrando que ela perdera um número recorde de membros em 2019.
Apesar do êxodo, a Igreja na Alemanha recebeu mais dinheiro nos impostos eclesiásticos do que no ano passado.
Em sua carta à Igreja alemã, o papa escreveu: “Cada vez que uma comunidade eclesial tentou sair de seus problemas sozinha, contando apenas com suas próprias forças, métodos e inteligência, ela acabou multiplicando e alimentando os males que queria superar”.
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Alemanha: bispo católico critica texto do “Caminho Sinodal” sobre o papel da mulher - Instituto Humanitas Unisinos - IHU