23 Julho 2019
A polícia do Brasil está investigando três padres católicos acusados de abusar de vários coroinhas e seminaristas. O ex-bispo da sua diocese, que renunciou em maio, também está sob investigação por supostamente ter extorquido dinheiro deles em troca do seu silêncio.
A reportagem é de Eduardo Campos Lima, publicada em Crux, 22-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O advogado de um grupo de vítimas disse na semana passada que pretende processar a Igreja Católica, pedindo 530.000 dólares de indenização para cada pessoa.
O escândalo na Diocese de Limeira, no Estado de São Paulo, foi a reportagem de capa da semana passada da revista Veja, o que levou à abertura de novas investigações. A imprensa brasileira vem cobrindo as acusações contra o Pe. Pedro Leandro Ricardo, da cidade de Americana, desde janeiro, quando a polícia abriu investigações sobre ele devido a casos de abuso sexual e quando ele foi suspenso de sua paróquia.
Em maio, Dom Vilson Dias de Oliveira, bispo de Limeira, renunciou depois que a polícia e a imprensa disseram que o Vaticano começou a investigá-lo por extorsão, enriquecimento ilícito e acobertamento de abuso. Mas a matéria da Veja, publicada no dia 12 de julho, foi a primeira a revelar detalhes sobre os crimes de Ricardo e também revelou os supostos crimes de outros dois padres da Diocese de Limeira, Pe. Felipe Negro e Pe. Carlos Alberto da Rocha.
Na reportagem, Ricardo é acusado por seis ex-coroinhas e seminaristas – todos menores de idade na época dos supostos acontecimentos – de ter tocado neles de forma inapropriada antes ou depois das missas. O testemunho inclui descrições gráficas.
Um ex-coroinha, Ednan Vieira, 35 anos, disse à revista que tinha 17 anos quando Ricardo pediu que ele dormisse na casa paroquial porque celebraria uma missa na manhã seguinte. Vieira afirma que o padre lhe deu vinho e, usando apenas cuecas boxer, começou a se masturbar na frente dele e depois pediu-lhe para fazer sexo oral. Vieira resistiu aos avanços do padre e, mais tarde, foi dispensado do seu papel de coroinha.
Uma das outras supostas vítimas de Ricardo, uma transexual de 25 anos chamada Paula Valentin, acusou o padre de contato inapropriado quando Valentin era um coroinha de 16 anos de idade.
De acordo com o depoimento de Valentin à Veja, Ricardo fingiu que a ajudaria a vestir a batina de acólito e depois deslizou a mão pelo corpo de Valentin.
Valentin também acusou Negro de abuso, dizendo que o padre de Limeira trocou dinheiro por sexo enquanto Valentin estava no seminário.
Depois que a revista Veja publicou a reportagem, uma sétima vítima se apresentou e disse à revista que, quando era um seminarista de 18 anos, Ricardo costumava abraçá-lo e tocar seu pênis durante a confissão.
Outra vítima do padre, que descreveu como Ricardo tocou seu pênis enquanto dirigia seu carro, também acusou Rocha, um padre da cidade de Araras. De acordo com o homem, Rocha molestou-o durante um ano, quando ele tinha 16 anos. Ele era um adolescente pobre, criado por uma mãe solteira, que era a faxineira da igreja. O padre mandou-o embora da paróquia quando ele resistiu ao abuso.
Enquanto isso, Negro também foi acusado por uma mulher, que afirma que ele tentou seduzi-la quando ela tinha 16 anos e procurava por emprego. De acordo com a mulher, Negro a convidou para ir para a sua casa, prometendo que lhe conseguiria um emprego como secretária, e lhe deu vinho. Nada aconteceu naquela noite, mas o padre supostamente teria dito a ela que gostaria de se encontrar com ela outras vezes. Seus pais a impediram de vê-lo novamente.
Negro foi suspenso de suas funções no dia 31 de maio, 14 dias após a renúncia de Oliveira. A diocese disse que Negro estava sob investigação por apropriação indébita de fundos. Segundo o portal de notícias G1, a diocese afirmou que, na época, não havia nenhuma suspeita de abuso sexual contra ele.
Na semana passada, a polícia de Limeira abriu investigações contra Negro e Rocha. A diocese disse que todas as acusações estão sob investigação canônica e que um delegado vaticano, o arcebispo João Inácio Miller, de Campinas, foi enviado a Limeira em fevereiro para investigar as acusações contra Dom Vilson Dias de Oliveira.
De acordo com a Veja, Oliveira supostamente pediu dinheiro dos padres envolvidos no abuso e acobertou os casos durante anos. Como resultado, a revista disse que o bispo construiu um portfólio pessoal de 10 propriedades imobiliárias em duas cidades diferentes.
Roberto Tardelli, advogado das vítimas, disse à Rede Globo no dia 13 de julho que pretende buscar indenização monetária para “restaurar as vidas devastadas”.
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Bispo brasileiro é acusado de acobertar abusos sexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU