04 Julho 2019
Na Suécia, uma cadeia de supermercados lançou um boicote a todos os produtos agrícolas brasileiros, em consequência dos cerca de 250 pesticidas que foram liberados no país desde a eleição de Jair Bolsonaro. Uma iniciativa que está ganhando força nas redes sociais.
A reportagem é de Alice Pouyat, publicada por We Demain, 03-07-2019. A tradução é de André Langer.
Nem café, nem manga, nem água de coco. Na Suécia, o dono da maior cadeia de supermercados ecológicos tomou uma decisão radical: no dia 3 de junho, o diretor da rede de supermercados Paradiset pediu aos seus funcionários que retirassem todos os produtos brasileiros das prateleiras. Além disso, Johannes Cullberg pede um boicote global a esses produtos, relata Novethic.
Uma iniciativa sueca que está progressivamente ganhando força, especialmente nas redes sociais, através da hashtag #boycottbrazilianfood.
E por um bom motivo: a iniciativa ocorre enquanto o governo do presidente Jair Bolsonaro aprovou, desde que assumiu em janeiro, 239 novos agrotóxicos, a maioria proibido na Europa.
Na página de uma campanha intitulada “We don’t have time” [“Não temos tempo”] o dono do supermercado escreve: “Como pai e dono, não posso aceitar essa atitude que põe em perigo a saúde da população brasileira, do meio ambiente e do nosso planeta em seu conjunto!”
Sua iniciativa encontra também um eco particular em pleno debate sobre os polêmicos acordos de livre comércio que poderiam abrir ainda mais o mercado europeu aos produtos do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). O Greenpeace, por sua vez, acaba de tentar bloquear o descarregamento de uma carga de soja brasileira na França...
Assim que chegou aos ouvidos da embaixada do Brasil na Suécia, a iniciativa foi condenada por esta última, antes que a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, denunciasse uma “campanha de difamação” na imprensa de seu país.
Mas esse contrafogo é difícil de convencer. A ministra, apelidada em seu país de “musa do veneno”, destacou-se na Câmara dos Deputados, na época em que era deputada, a favor de um projeto de lei, o pacote dos agrotóxicos, que facilita a liberação de agrotóxicos.
Os pesticidas, e especialmente o glifosato, foram amplamente difundidos no país com o desenvolvimento dos organismos geneticamente modificados (OGMs) nos anos 2000. Eles são jogados de avião sobre as plantações e, às vezes, sobre as casas vizinhas. Com a eleição do cético em clima Jair Bolsonaro para presidente, esta corrida aos pesticidas se acelerou ainda mais.
E isso acontece justo quando o país já é o maior consumidor mundial de produtos fitossanitários.
Com consequências perturbadoras. Vários estudos já relatam um aumento significativo de cânceres e malformações em regiões agrícolas brasileiras. No longo prazo, esse modelo agrícola também esgota solos, ecossistemas e contribui para o desmatamento da Amazônia.
Um problema do qual o Brasil não é o único responsável: “Ele é uma vítima das grandes empresas ocidentais. Os agrotóxicos são cada vez mais proibidos nas economias desenvolvidas, por isso as indústrias estão realocando os riscos para as economias periféricas!”, denuncia a pesquisadora Aline Gurgel no Le Monde.
Para mudar a situação, o fundador do Paradiset convoca cada consumidor para imitá-lo. “Assim como nós interrompemos o apartheid há vários anos, tomando uma posição contra o governo sul-africano, podemos fazer o mesmo agora”, acredita Cullberg.
Difícil, mas a ação tem o mérito de alertar sobre essa louca disputa por agrotóxicos.
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Agrotóxicos: rede de supermercados sueca pede boicote para os alimentos brasileiros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU