27 Junho 2019
O mundo está galopando em direção a um cenário de “apartheid climático". Isso foi afirmado por um severo e preocupado relatório das Nações Unidas, apresentado nesta terça-feira pelo jurista australiano Philip G. Alston, relator especial da ONU sobre direitos humanos e pobreza extrema - que será formalmente discutido na próxima sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra - os desequilíbrios causados pelo sobreaquecimento global recaem principalmente sobre os habitantes dos países mais pobres, enquanto os ricos poderão se permitir evitar as piores consequências da emergência climática, uma grande parte da população do planeta corre o risco de perder não apenas os direitos de base à vida, a água, à alimentação e à moradia, mas também conquistas como a democracia ou o respeito dos direitos civis e políticos. "A raiva das comunidades afetadas, o crescimento das desigualdades, o agravamento da miséria para alguns grupos sociais - o relatório afirma - provavelmente estimularão a disseminação de respostas nacionalistas, xenófobas e racistas".
A reportagem é de Roberto Giovannini, publicada por La Stampa, 26-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"A mudança climática - afirma Alston - ameaça anular os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, na saúde global e na redução da pobreza".
A emergência climática, diz o estudo das Nações Unidas, fará com que 140 milhões de pessoas percam suas casas nos países em desenvolvimento até 2050; até 2030, 120 milhões passarão à condição de pobreza. Em suma, mesmo que os países mais pobres "sejam responsáveis apenas por uma pequena fração das emissões globais, 10%, terão que suportar 75% dos custos causados pela crise climática". Enquanto os países mais ricos, neste cenário de "apartheid climático" graças aos seus recursos financeiros "conseguirão realizar os ajustes necessários para enfrentar temperaturas cada vez mais extremas". E se isso acontecer, "os direitos humanos não serão capazes de resistir à tempestade que se aproxima".
Uma situação realmente crítica, causada pela resposta "claramente inadequada" dos estados nacionais, das empresas, das ONGs e das próprias Nações Unidas com relação à gravidade da ameaça climática, não alocando os recursos financeiros e "políticos" necessários para enfrentá-la. Os governos nacionais sempre desconsideraram as indicações da ciência, tanto que todos os tratados internacionais foram ineficazes: até mesmo o acordo de Paris de 2015 não é considerado à altura do desafio em curso. "Mesmo hoje - acrescentou o especialista em direito internacional - muitos países estão dando passos míopes na direção errada", "e o que um ano atrás era considerado pela ciência um cenário catastrófico agora parece ser considerado uma perspectiva desejável".
Na mira de Alston estão, com nome e sobrenome, o presidente dos EUA, Donald Trump, e o colega brasileiro Jair Bolsonaro. Trump deve ser condenado por ter "ativamente silenciado" a ciência sobre o clima, inserindo representantes da indústria em posições-chave, eliminando as regulamentações ambientais; o número um no Brasil, por seu lado, prometeu abrir para atividades agrícolas e de mineração a floresta tropical na Amazônia. Entre os exemplos positivos, citados pelo relator da ONU, está a batalha pelo clima da ativista sueca Greta Thunberg, a greve mundial dos estudantes, o movimento Extinction Rebellion e as causas encaminhadas contra Estados e sociedades poluidoras.
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Apartheid climático: “Os ricos habitarão o norte mais frio. Os pobres, todos no calor”, alerta a ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU