04 Junho 2019
Os resultados da Campanha para Proteger a Inglaterra Rural (CPRE) revelam que as vendas globais de contêineres de bebidas devem atingir 1,9 trilhões em 2019 – acima dos 1,6 trilhões em 2015. Governos sérios mundo afora, se preocupam com o problema. E procuram domar a extravagante indústria do plástico que, até o momento, finge que não é com eles. Enquanto isso, no Brasil o despreparado Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, insiste que seu objetivo é a agenda ambiental urbana, sem, entretanto, definir políticas ou prioridades. Boa escolha, se ela não estivesse na pauta para disfarçar as trapalhadas em série produzidas na gestão atual. Seria uma bela meta se houvesse planos consistentes. Garrafas e embalagens de plástico são o tema de hoje.
A reportagem é de João Lara Mesquita, publicada por O Estado de S. Paulo, 28-05-2019.
Já dissemos outras vezes que, se é isto que quer o neófito, uma agenda ambiental urbana, o objetivo número um deveria ser a revisão da Política Nacional de Resíduos Sólidos, uma triste herança, esta sim, ‘esquerdista’, do nefasto período dos Governos PeTralhas. Simultaneamente, cobrar o justo preço aos produtores de plástico. Por quê? Ora, apesar de tudo, a indústria vai na contramão do drama mundial. Aumenta sua produção, e não diminui a produção de tipos de plástico não recicláveis.
É o que os ingleses procuram fazer. No ano passado, o governo do Reino Unido comprometeu-se a introduzir um sistema de devolução de depósitos na Inglaterra. Samantha Harding, diretora do programa de lixo da CPRE, disse que o governo deve rejeitar os esforços de lobby da indústria e implementar um robusto programa de devolução. “Vamos pedir ao secretário de Meio Ambiente, Michael Gove, que aproveite e vá em frente, certificando-se de que todas as embalagens de bebidas também estejam incluídas no sistema de depósitos da Inglaterra”, disse ela.
Harding disse que a introdução de um sistema de depósito abrangente não só aumentaria as taxas de reciclagem para perto de 100%, mas também faria os produtores de embalagens de bebidas “justamente responsáveis pelo custo de cada peça de embalagem que eles criam”. “Isso irá encorajá-los a usar mais materiais reciclados, o que reduzirá o desperdício, e nos colocará um passo mais perto da economia circular de que nosso planeta precisa tão desesperadamente”, disse ela. E prosseguiu, “Com as vendas globais aumentando, está claro que o consumo de latas de bebidas, garrafas e caixas atingiu proporções epidêmicas. Sem ação imediata, nosso campo e meio ambiente continuarão pagando o preço pelas ações descuidadas dos produtores desses produtos”.
Eis aí, caro ministro Salles, um belo exemplo que deveria gerar cópias também no Brasil. O grupo de Harding convocou um dia internacional de ação, com organizações em 25 países em cinco continentes para liberar uma série de fotografias aéreas e vídeos de mensagens escritas em encostas, praias e prédios pedindo por um planeta limpo. “Estamos unidos a ativistas de todo o mundo, exigindo sistemas de devolução de depósitos para enfrentar a crise ambiental causada por contêineres de bebidas”. Em uma declaração conjunta, os defensores do Planeta Limpo disseram: “A escala do problema da poluição requer ação global imediata. Agora é a hora de todos os governos do mundo se levantarem e agirem contra a devastação ambiental causada pelas latas de bebidas, garrafas e caixas – não podemos esperar mais por um planeta limpo.”
Ouviu, ministro? Convenhamos, uma ação nesta direção não é tão difícil. Exige um trabalho de convencimento, baseado nos fatos. Estude a forte indústria do plástico no Brasil. Em seguida, chame- os para a discussão. Claro que o consumidor também deve ser levado a fazer sua parte, sob pena de sofrer penalidades legais. Mas não existe outro meio. Vamos lembrar que a maioria dos tipos de plásticos usados pela indústria, no Brasil e no mundo, são impossíveis de reciclar. Do total da produção mundial, desde o invento do material na década de 50 do século passado, só 9% foi reciclado. O resto permanece no meio ambiente, o plástico não se desfaz. No máximo se transforma em outro problema, o microplástico.
Referência:
Runaway consumption: 2tn drinks containers being used every year. The Guardian.
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Garrafas e embalagens de plástico: vendas aumentam apesar da hiper poluição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU