13 Janeiro 2019
- O relatório faz duas acusações distintas. A primeira diz respeito a sacerdotes abusadores. A segunda: "Todas" as vítimas, diz o relatório, "eram deixadas de lado, em todas as partes do estado, por líderes da Igreja, que preferiam proteger os abusadores e suas instituições acima de tudo."
Os comentários foram publicados no Twitter de Massimo Faggioli, historiador italiano e professor da Villanova University, em resposta ao artigo de Peter Steinfels, que pode ser lido aqui, em inglês.
- "Minha conclusão é que essa segunda acusação é, na verdade, grosseiramente equivocada, irresponsável, imprecisa e injusta. Contradiz o material encontrado no próprio relatório - mediante uma leitura cuidadosa. Contradiz o testemunho enviado para o júri, mas que foi ignorado.”
- "É irônico que as pessoas que estão levantando questões perfeitamente legítimas sobre a responsabilidade dos bispos negligenciem questões sobre a responsabilidade de investigar os tribunais”.
- Os tribunais "ouvem depoimentos ‘ex parte’ — ou seja, com nenhuma representação dos investigados. Trabalham em segredo. E, na prática, operam quase completamente sob a direção de um promotor ou procurador-geral".
- "Antes de examinar mais de perto o que consta no relatório, é importante perguntar o que não consta. Além dessas referências a mais de 300 padres abusadores — na verdade, 301 — e mais de 1.000 crianças que foram vítimas, não há quase nenhum indicador numérico."
- “Nem comparações com outras instituições. Obviamente nos questionamos o que seria encontrado por uma avaliação de casos de abuso sexual ao longo de 70 ou 80 anos em escolas públicas ou centros de detenção juvenil.”
- "O que falta ao relatório, acima de tudo, é o senso de história. O relatório trata das mais de sete décadas, de 1945 até ontem, como um bloco único. É muito tempo até para as instituições mais básicas."
- "Se acreditarmos nas conclusões da faculdade de direito penal John Jay College, houve um aumento nos anos 60, aumentou drasticamente nos 70 e diminuiu nos anos 80. Os autores do relatório, do gabinete do procurador-geral, lutam com vigor para diminuir essa realidade."
- Um exemplo é o caso de Erie, na Pensilvânia: o relatório da Suprema Corte faz omissões muito significativas sobre as ações do bispo local e o impacto na remoção e excomunhão de sacerdotes.
- Ainda sobre Erie, outro relatório afirma: "A Diocese de Erie promulgou a primeira política de proteção infantil há mais de 30 anos, bem antes de a Igreja solicitar e bem antes dos eventos midiáticos que foram devastadores para a Arquidiocese de Boston, a Universidade Estadual da Pensilvânia [...]"
- "É verdade que enquanto "os sacerdotes estupravam meninos e meninas" os "homens de Deus" da diocese de Erie "não fizeram nada" que não fosse esconder? Uma análise cuidadosa das próprias provas do relatório demonstra que as respostas a essas perguntas, na maioria dos casos, é "não".
- "O peso das provas foi revertido. Os que foram acusados agora se presume que sejam culpados ou pelo menos muito provavelmente sejam culpados, até que provem sua inocência.”
- "Grande parte dos infratores que aparecem no relatório teve poucas chances de defesa, certamente fora do tribunal, e não tiveram chance alguma nos casos em que as acusações só surgiram depois de falecerem."
- "Há pouco tempo, a nomeação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal dos EUA gerou um debate nacional sobre a presunção de inocência até prova em contrário.”
- “No entanto, praticamente ninguém questionou o fato de um Supremo Tribunal, um procurador-geral ou uma diocese terem autoritariamente declarado que tantos bispos e padres eram culpados de crimes tão horríveis, muitos sem participar de qualquer audiência ou ter qualquer oportunidade de defesa.”
- "Apesar dos relatórios incompletos ou imprecisos no caso de Pittsburgh que fizeram com que o cardeal Wuerl renunciasse do cargo de arcebispo de Washington, a resposta da diocese traz uma refutação clara e direta a muitas afirmações do relatório, na página 1113."
- "O ponto crítico em relação ao relatório da Pensilvânia é que foi criado para servir de arma no debate. O estilo apaixonado e gráfico; a caracterização da liderança da Igreja como estando no mesmo nível, talvez até pior, do dos abusadores".
- "O fato de não distinguirem entre dioceses ou períodos, como, por exemplo, antes e depois da Carta de Dallas: tudo isso busca mobilizar a opinião pública acerca da legislação que suspende o prazo prescricional para ações civis e desacreditar a oposição da Igreja."
- "Se esse objetivo é bom ou ruim é discutível. Mas a ferramenta construída pela procuradoria-geral para alcançá-lo é imprecisa, injusta e fundamentalmente equivocada."
- "Esta acusação feia, indiscriminada e inflamatória, infundada pelas próprias evidências do relatório, para não mencionar as provas que o relatório ignora, não é digna de um órgão judicial responsável pela justiça imparcial."
- Outras investigações em nível estadual serão produtivas e salutares "se trabalharem melhor do que na Pensilvânia. Isso fica para o futuro. Para o presente, o importante é restaurar um pouco de realidade com base em fatos na mitologia instantânea criada pelo relatório da Pensilvânia".
- "Por que a mídia foi tão receptiva e reproduziu a notícia acriticamente e sem investigação, e por que os católicos, particularmente, estavam tão ansiosos para se aproveitar dela para resolver suas diferenças internas são temas importantes para uma discussão mais aprofundada."
- "A história que prevalece sobre o abuso sexual estar entrincheirado no clero, permanecer intacto em grande parte e ser exclusivamente católico está tão enraizada na mídia que nem as provas em contrário podem dissuadi-la, as quais, pelo menos nos Estados Unidos, são amplas e bem documentadas".
- "Assim como o relatório do Supremo Tribunal aponta, de forma correta embora não consistente, para "falha institucional", [...] a Carta de Dallas parece ser um sucesso institucional."
- "A Carta de Dallas certamente não é uma receita que simplesmente pode ser transposta para qualquer sociedade, cultura ou situação jurídica e governamental do mundo”.
- "Mas os bispos americanos devem ir à reunião de cúpula do Vaticano sobre abuso sexual confiantes de que as medidas adotadas já fizeram a diferença".
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Comentários no artigo de Peter Steinfels sobre o ‘Relatório da Pensilvânia” e que é importante para a reunião de fevereiro dos bispos. Twitter de Massimo Faggioli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU