17 Agosto 2018
Publicamos aqui o comentário da irmã italiana Laura, da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste domingo, 19 de agosto, solenidade da Assunção de Nossa Senhora (Lc 1, 39-56). A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nesta festa do Trânsito da Virgem Maria ao céu, nós celebramos uma antecipação daquilo que espera pessoalmente por cada pessoa que crê: a ressurreição do corpo, a vida eterna, aquela vida que Jesus prometeu aos seus na hora da sua separação: “Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim. Existem muitas moradas na casa de meu Pai. (...) E quando eu for e lhes tiver preparado um lugar, voltarei e levarei vocês comigo, para que onde eu estiver, estejam vocês também” (Jo 14, 1-3).
Nesta solenidade, a Igreja nos convida a nos alegrarmos porque há espaço para nós em Deus, assim como havia para ela, para Maria. E Maria, que soube, com o seu “Eis-me!”, abrir espaço para Deus dentro de si, precede-nos no caminho. Uma acolhida recíproca, no amor, entre nós e Deus, está no horizonte desta festa.
Mas gostaria de me deter sobre o texto evangélico de hoje: o Magnificat.
“A minha alma engrandece o Senhor”: palavras muito semelhantes àquelas que ouvimos ser pronunciadas no leito de morte por tantos cristãos e cristãs, pessoas que creem e santos, conhecidos e menos conhecidos, e também por aquela Clara de Assis, recentemente celebrada, que, na última hora da sua vida terrena, exclamou: “Sede bendito, Senhor, por terdes me criado!”.
Não sabemos muito dos últimos dias de vida de Maria de Nazaré, e em geral o Novo Testamento é singularmente pobre em palavras e discreto sobre ela, mas a liturgia da Igreja, com a escolha desta passagem, parece sugerir que o Magnificat foi o fio dourado, o “baixo contínuo” de toda a existência de Maria, desde os tempos da vocação até o fim.
“Ele viu a pequenez de sua serva”: Maria se sentiu olhada e, portanto, amada por Deus: ela, simples mulher da Palestina, escolhida por um Deus, que, como mendicante, bateu à sua porta para que ela lhe abrisse espaço. Fé é simplesmente isto: sentir-se “olhado” por Deus, entender que ele nos vê e nos ama como somos, na nossa humildade, na nossa pequenez que nem mesmo nós conseguimos aceitar completamente, sentir que Deus tem memória de nós e que nos tem presentes, e que, para ele, nunca somos insignificantes, nunca somos removidos.
E depois o Magnificat se alarga para uma visão mais ampla: o mundo irrompe nele, com os seus conflitos e as suas lutas (poderosos, humildes, ricos, famintos, orgulhosos...), bem além do cotidiano da vida de uma modesta mulher em um vilarejo perdido da Galileia.
A mulher que canta o Magnificat não está encurvada sobre si mesma, relegada ao seu mundinho, os seus horizontes são amplos. E com ela podemos aprender algo sobre a verdadeira humildade, que não é resignação à mediocridade, não cultiva um “eu mínimo” sem nunca se pôr em jogo.
Maria magnifica o Senhor que a criou e a amou, e a alegria que sente é o que lhe permite passar da sua história pessoal à história de um povo, à história da humanidade: “Eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita”.
A verdadeira humildade é aquela de quem sabe que pode fazer, com a matéria comum de que dispõe, algo maravilhoso para Deus. E, a isso, todos nós somos chamados.
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