30 Mai 2018
Milhares de nicaraguenses foram às ruas, no final de semana, em Manágua, Chinandega e Masaya, para dar o seu apoio à Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) e, especialmente, ao bispo Silvio José Báez, bispo auxiliar de Manágua, ameaçado de morte e alvo de uma tosca campanha de difamação e manipulação por parte do regime de Daniel Ortega.
A reportagem é de Israel González Espinosa, publicada por Religión Digital, 28-05-2018. A tradução é de André Langer.
Na terça-feira, 22 de maio, dom Juan Abelardo Mata Guevara, bispo de Estelí e secretário-geral da CEN assinou um comunicado em nome de todos os bispos em que denunciava a campanha de difamação, assédio e ameaças de morte que a hierarquia católica nicaraguense está recebendo de jornalistas e meios de comunicação alinhados com o regime de Ortega.
“Vemo-nos na urgente necessidade de informar o nosso povo sobre a difamação e as ameaças de morte de que estão sendo objeto bispos e sacerdotes, especialmente o nosso bom irmão dom Silvio José Báez Ortega, bispo auxiliar da Arquidiocese de Manágua, através de diferentes meios: ataques do governo orquestrados por jornalistas e meios de comunicação situacionistas e contas anônimas em redes sociais como Facebook e Twitter”, diz a parte central do comunicado.
No dia seguinte à declaração, durante o terceiro dia do Diálogo Nacional, a delegação do governo de Ortega se atolou com a questão dos cortes (fechamento de estradas exercido pela população civil como método de pressão sobre o regime), enquanto a Igreja apresentou um roteiro com 40 pontos que dariam um rumo ao país centro-americano no sentido de uma transição pacífica e democrática, que foi imediatamente apoiado pela Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia (uma coalizão de estudantes universitários, a sociedade civil, acadêmicos, empresários e movimento camponês), da oposição. No final do dia, os bispos decidiram suspender a sessão plenária devido às posições irreconciliáveis.
Quase simultaneamente ao levantamento da mesa do Diálogo Nacional, recomeçou a repressão das turbas orteguistas armadas, que, sob a égide da Polícia Nacional (PN), semearam o terror durante as noites em todo o país, impondo um toque de recolher de fato.
Na sexta-feira, 25 de abril, centenas de moradores da capital marcharam sob uma leve brisa em Manágua para expressar seu apoio aos esforços de mediação dos Bispos da Nicarágua no Diálogo Nacional e apoiar dom Silvio José Báez. Os manifestantes exigiam justiça para os jovens mortos durante o massacre de abril, perpetrado pela brutal repressão do governo.
A convocação foi feita pela Conferência de Religiosos da Nicarágua (CONFER) e pela Federação de Escolas Católicas da Nicarágua (FENEC), à qual aderiu o empresariado privado.
Durante a missa, celebrada na igreja de Fátima da colônia centro-americana de Manágua, como no passado, foram cantadas as músicas da Missa Campesina nicaraguense e expressado o compromisso de acompanhar o povo até as últimas consequências.
“Quando o nosso povo não vive dignamente, quando o nosso povo não vive como Deus quer, não podemos permanecer em silêncio. Os bispos estiveram trabalhando pelo bem da Nicarágua, por uma solução pacífica para a crise que atravessamos, e longe de ver um agradecimento, estão acontecendo esses ataques”, disse em sua homilia o frade franciscano Moisés Daniel Pérez.
Dom Miguel Mántica, ex-vigário-geral da Arquidiocese de Manágua e que participou da marcha, disse, por sua vez, que a manifestação era um sinal de apoio mais palpável do povo pelo trabalho pastoral e profético dos bispos.
Sobre o bispo Báez, Mántica disse que é “uma referência com sua mensagem de paz” para todo o país.
Dom Báez não participou da atividade, mas enviou uma mensagem às pessoas reunidas na igreja. “Agradeço-lhes sua solidariedade com a Nicarágua (...) peço-lhes que se responsabilizem pela história através da oração e que estejam do lado do povo exercendo com sabedoria o discernimento e com muita caridade o acompanhamento daqueles que sofrem”, escreveu o bispo na mensagem de saudação enviada aos participantes da marcha.
No sábado, 26 de maio, foi a vez de manifestar-se em apoio à Igreja e aos bispos da diocese de León. A grande manifestação partiu da cidade de Chinandega (a oeste da Nicarágua) rumo à Basílica da Imaculada Conceição, localizada na cidade de El Viejo, um percurso de cerca de cinco quilômetros.
A peregrinação, que durou quatro horas, revestiu-se de um significado simbólico porque Chinandega tinha sido alvo em dias anteriores da repressão do governo, que deixou muitos feridos e várias pessoas mortas, mas também porque à frente da marcha seguia uma réplica da imagem da padroeira da Nicarágua, a Imaculada Conceição.
Durante a missa, dom Bosco Vivas, bispo de León, reconheceu a dificuldade relativa às negociações entre a Aliança Cívica e o regime de Ortega pela intransigência destes últimos.
“Parece humanamente impossível encontrar soluções pacíficas. Aumentou o ódio, o desejo de vingança, causados pelas injustiças e mortes injustas no país. Vi como crianças da cidade e do campo incluírem entre os seus inocentes jogos, a guerra, porque é o que estão vendo atualmente”, disse dom Vivas.
No domingo, 27, a demonstração de apoio público aos bispos transferiu-se para o centro da insurreição popular na Nicarágua contra o regime de Ortega, a cidade de Masaya, onde seus moradores saíram para marchar com sacerdotes e religiosas para apoiar a Conferência Episcopal, em especial, o bispo filho dessa cidade, dom Silvio José Báez.
Os religiosos e leigos receberam ao longo de todo o percurso o apoio do Movimento 19 de Abril da cidade e de moradores do bairro indígena de Monimbó.
Embora nominalmente o regime de Daniel Ortega se declare cristão, na prática está longe de ser um governo com princípios cristãos. Na semana passada, o partido do governo emitiu um documento intitulado “Novo panorama político”, que desacredita os esforços de mediação da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) e ataca de maneira virulenta o bispo Silvio José Báez.
“A Conferência Episcopal, ao dizer hoje (dia 22 de maio) em uma declaração oficial ‘que são um órgão colegiado e que a opinião de um é a opinião de todos’, fez seus os chamados à guerra de (dom) Silvio Báez. Então, onde está o seu papel de mediador?”, pergunta o documento que o regime fez circular entre seus adeptos e funcionários públicos.
Enquanto isso, a agência de notícias do regime comunista cubano Prensa Latina também se dedicou, neste final de semana, a atacar o bispo Silvio José Báez através de um artigo jornalístico tendencioso que acusa o religioso de ser o promotor de um “golpe”.
Na verdade, o artigo difamador da Prensa Latina baseia-se em uma análise do blog Rebeldía Centroamericana assinado por Oscar Barrantes Rodríguez, um sujeito pouco conhecido que afirma ser membro do Centro Popular Costarriquense de Estudos Sociais, mas que também é um ardoroso defensor da ideologia marxista.
As teses de Barrantes, no obstante, não têm pé nem cabeça. Os “argumentos” deste agitador político marxista travestido em suposto “pesquisador” vão desde acusar o bispo de “dividir” a Igreja até “instigar os tumultos” contra o regime de Ortega.
Todas essas acusações infundadas já foram identificadas pela Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) como parte da campanha difamatória contra a Igreja e contra dom Báez.
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Nicarágua. Milhares de cidadãos saem às ruas para apoiar a Igreja e dom Báez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU