29 Mai 2020
Raimundo Ferreira Lima (Gringo). Brasil, †1980
Raimundo, familiarmente apelidado de “Gringo”, 43 anos e pai de seis filhos, juntou a simpatia com a combatividade, uma fé cada vez mais consciente e consequente com a luta tenaz e organizada.
Agente de pastoral da diocese de Conceição do Araguaia e líder do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Foi sequestrado, com implicação da polícia e a mando do latifúndio, foi levado de madrugada aos arredores de Araguaína, torturado e morto à bala. Seu corpo apresentava sinais de golpes na cabeça e um braço fraturado.
A história de “Gringo” nada mais é que a própria história de seu povo, cujos direitos defendeu, como cristão e como sindicalista autêntico. Muitas vezes ameaçado de morte, jamais cedeu diante dessas ameaças. Verdadeiro líder, “sua combatividade e sua coragem eram nossa força, que crescerá com seu martírio”, afirma um de seus companheiros sindicalistas.
Mais de 3.000 pessoas assistiram aos funerais de “Gringo”, presididos pelo bispo, e celebrados na praça da catedral de Araguaia. Famílias inteiras chegaram de barco, navegando pelo rio, trezentos quilômetros, e outras caminharam, durante três dias, para acompanharem seus restos mortais, e rezar por aquele que havia sido sua autêntica voz.
Seu testemunho ficou como uma luz, sobretudo na região do Araguaia.
Abaixo, poema do livro: Raízes, memória dos Mártires da Terra, de Jelson Oliveira.
A nuvem feita no azul
Estancou-se no ninho das horas
Sangrando junto ao vazio.
Choraram as mães, prontas como sombra,
Ditando ao outono, no teu nome,
A designação plural dos cajueiros.
Choraram os meninos ao longo do fogo
Parecidos no ocaso e no destino – que ignoram
Cuidando do esquecimento.
Choraram os lavradores no meio do escuro
Fundindo nas trevas o grito derradeiro
Que habita toda garganta sufocada.
Onde a manhã amadurece as mãos para a paz
Plantaram tuas raízes.
A umidade pôs orvalho nas argilas
E a água extenuou o som, fio a fio,
Florescendo a ternura volumosa pelos campos.
Aí, Raimundo, estás disperso como semente,
Como palavra para um poema que nasce
Como extensões de jardins na paisagem.
Aí, Raimundo, teu nome é sempre uma festa,
Uma notícia exalada de perfume,
Um motivo a mais para esperar a aurora...
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
29 de maio de 1980 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU