27 Mai 2018
Líderes de comunidades religiosas e científicas de Massachusetts, liderados pelo cardeal de Boston Sean O'Malley, se uniram quarta-feira passada para pressionar o estado a aumentar as ações contra as mudanças climáticas buscando "proteger nossas comunidades dos impactos catastróficos" de um aquecimento do planeta.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Reporter, 24-05-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Mais de 500 cientistas e líderes religiosos de Massachusetts assinaram o documento chamado “Faith and Science Joint Appeal for Climate and Action” (Fé e Ciência, Declaração Conjunta para Ação Climática, em português), que foi emitido durante uma coletiva de imprensa no dia 23 de maio no centro de Pastoral da arquidiocese de Boston, em Braintree, Massachusetts.
Afirmando que eles eram "motivados pela crise climática", os dois contingentes juraram trabalhar juntos para incitar todos os setores da sociedade civil a tomarem medidas para reduzir emissões de gases de efeito estufa, o condutor principal da mudança climática. E, dos representantes eleitos do estado "para resolver a crise climática com a ousadia e a urgência, com ação imediata e substancial."
"A mudança climática é uma emergência ecológica e moral que afeta todos os outros aspectos da nossa vida compartilhada e nos obriga a trabalhar juntos para proteger a nossa casa comum", diz a declaração.
"Massachusetts se orgulha de sua história de liderança nacional no tocante à ciência, tecnologia e políticas públicas que respondem às preocupações de todas as pessoas", escreveram. "Agora temos uma oportunidade e a obrigação de sermos líderes em proteger nossa casa comum. Somos chamados a ser um farol para a nação e o mundo. Ainda há tempo para agir, e este tempo é agora."
A declaração atraiu o apoio de mais de 100 cientistas e representantes das religiões judaicas e muçulmanas, bem como numerosas denominações cristãs protestantes. Além de O'Malley, entre os signatários católicos estão o bispo Robert McManus, de Worcester, Massachusetts; pe. Michael McGarry, diretor do Boston Paulist Center; e, Christina Leano e Fran Ludwig do Global Catholic Climate Movement.
O documento tomou emprestadas algumas palavras da encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente e ecologia humana, "Laudato Si', Sobre O Cuidado da Nossa Casa Comum". A declaração foi formalmente apresentada no terceiro aniversário da publicação da Encíclica, lançada publicamente em 18 de junho de 2015.
O'Malley, um dos principais organizadores e membro do C9, disse na entrevista coletiva que acha “encorajador” o fato de que pessoas de diversas origens religiosas e afiliações têm visto a Laudato Si' como uma "fonte de inspiração."
O'Malley identificou "dois conceitos muito importantes" que o Papa forneceu através da Encíclica: primeiro, a ideia da terra como "nossa casa comum" em risco e que precisa de proteção nos níveis global, nacional e local; e, segundo, que aqueles mais ameaçados pela destruição ambiental, incluindo os impactos das alterações climáticas, são os pobres e mais vulneráveis.
"Em Laudato Si', Papa Francisco nos incita a organizar como nossas sociedades de forma a manter a proteção do meio ambiente como uma prioridade. Em nossas comunidades locais, esperamos fazer a diferença ao defender políticas responsáveis, educar as pessoas de todas as idades sobre a importância da consciência ambiental e a cada dia fazer escolhas que respeitem e apoiem a sustentabilidade do mundo em torno de nós", disse o cardeal.
Uma reunião está marcada para próxima semana na faculdade de Boston para discutir os próximos passos da coligação.
Enquanto os detalhes ainda não foram determinados, uma provável ênfase será em relação à comunicação e educação sobre a mudança climática e suas consequências, disse Philip Duffy, físico, presidente e diretor executivo do centro de pesquisa Woods Hole, um dos principais laboratórios de pesquisa climática do mundo.
"A comunidade científica tem descrito o problema muito bem", disse ele na coletiva de imprensa. "A terra está aquecendo, a causa são as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. O aquecimento está tendo consequências agora."
Ex-conselheiro de política climática da administração de Obama, Duffy delineou alguns dos impactos trazidos pela mudança climática: aumento de eventos climáticos extremos, escassez de água, escassez de alimentos e aumento do nível do mar, os dois últimos de particular importância para o Bay State (Massachusetts) e sua indústria de pesca comercial de US$ 7 bilhões.
Em 2008, Massachusetts aprovou a Lei de Soluções de Aquecimento Global, que obriga o estado a cortar suas emissões de gases de efeito estufa em todos os setores em 25% até 2020, e pelo menos 80% até 2050. De acordo com o departamento de proteção ambiental de Massachusetts, as emissões do estado em 2014 apresentaram uma redução de 21%.
Evitar os impactos mais graves das alterações climáticas vai exigir que as pessoas estejam profundamente motivadas a agirem por amor de uns pelos outros, e em particular pelos pobres e marginalizados, disse a Rev. Mariama White-Hammond, ministra associada para a justiça ecológica da Igreja Bethel AME, em Jamaica Plain, um bairro em Boston.
"A realidade é que aqueles de nós no poder têm a responsabilidade moral de nossos cidadãos mais vulneráveis", disse ela, acrescentando, "o tempo para resolver esta crise é agora. Francamente, o momento certo pode ter sido há 10 anos. Mas aqui estamos, neste momento, e temos de decidir se iremos ou não agir."
O fato de cientistas e líderes religiosos, que muitas vezes abordam as coisas com diferentes visões de mundo, se unam sobre a mudança climática “diz muito sobre a importância que atribuímos à questão", disse Duffy. Em comparação com a tarefa de unir diversas comunidades a trabalharem juntas, o enorme desafio científico que o clima impõe se torna fácil, acrescentou Duffy.
"Juntos, acredito que a comunidade científica e a comunidade religiosa tem autoridade moral e intelectual para levar as pessoas a passarem para a ação, ou pelo menos espero que o façamos", disse ele.
A declaração vem enquanto estados, cidades e setores privados têm procurado redobrar seu compromisso com a ação climática na ausência de liderança federal sobre a questão.
Um ano atrás, o presidente Donald Trump anunciou suas intenções de retirar os EUA do Acordo de Paris sobre a mudança do clima e sua administração tem tomado inúmeras medidas para reverter as normas ambientais destinadas a reduzir as emissões. Na quarta-feira, o Washington Post informou sobre um memorando interno da casa branca que ponderava entre ignorar ou não estudos científicos feitos por agências do governo que indicavam que a mudança climática está em processo.
No mês passado, a Catholic Climate Covenant lançou a campanha Catholics Are Still In que tem como objetivo a manifestação de apoio dentro da Igreja dos EUA para ação climática como parte da mais ampla We Are Still In liderada por estados e cidades, incluindo Boston e aproximadamente uma dúzia outras cidades de Massachusetts.
A ideia para uma colaboração entre fé e ciência no Bay State surgiu no verão passado. Em fevereiro, as duas comunidades se reuniram por dois dias no centro de Pastoral da arquidiocese Boston.
Após a reunião, O'Malley descreveu em seu blog a colaboração como "uma coligação original com o objetivo de trazer a autoridade intelectual e moral combinada de ambos os grupos para a tarefa de cuidar de nosso planeta."
Nesta primavera, começou a construção de um painel solar de 1 megawatt no centro de Pastoral da Arquidiocese Boston. Quando operar plenamente operacional, o painel produzirá eletricidade para abastecer mais de 100 casas e compensar anualmente 17.000 toneladas de de dióxido de carbono. Também servirá como uma fonte de receita adicional.
Na vizinha diocese de Worcester, foi construindo no ano passado o Ministério de administração ambiental, que tem uma meta de criar uma maior consciência da Laudato Si' em suas paróquias e eventualmente se mover em direção a tomar medidas para facilitar a ações convocadas na Encíclica. Para esse fim, a diocese tem planejado uma conferência em setembro no College of the Holy Cross.
Peter Dunbeck, chefe do Ministério do meio ambiente da diocese de Worcester, disse que a declaração conjunta de fé e ciência "determina um marco crítico" para a Igreja Católica, particularmente, por movê-la em direção a uma maior visibilidade sobre questões ambientais. Quanto ao impacto potencial da declaração, ele disse que a voz unificada em toda ciência e em várias religiões poderia ser "muito substancial" em qualquer discussão com o governador ou qualquer liderança do estado, sobretudo porque um terço da sua população é católica.
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Líderes religiosos e cientistas de Massachusetts declaram que a mudança climática é uma emergência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU