16 Março 2018
Nota do reitor da PUC sobre Marielle. Ela estudou em nossa universidade: A Reitoria da PUC-Rio manifesta sentimento de pesar pelo brutal assassinato da ex-aluna de Ciências Sociais, a Vereadora Marielle Franco, defensora dos direitos humanos dos pobres e marginalizados de nossa cidade. Lamentavelmente este crime ocorre na contramão do tema da Campanha da Fraternidade de 2018 da Igreja Católica do Brasil, que convida a todos à superação da violência e à busca de uma cultura de paz. A Universidade estende a sua solidariedade aos seus familiares e amigos, pedindo ao Bom Deus que acolha na pátria celeste esta sua filha que procurou lutar e defender os valores e princípios do Evangelho de Jesus Cristo.
Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ
Reitor da PUC-Rio
PUC-Rio com Marielle e Anderson, é isso
(foto de Luiz Felipe Waitz)
A execução sumária de Marielle foi a primeira morte no âmbito da representação política que pode ser colocada na conta da intervenção militar no Rio de Janeiro. É impossível desvincular. Se não for investigada de forma rápida e transparente, apurando executores e mandantes, bota uma pá de cal nesta iniciativa que assumirá um tom farsesco. Da mesma forma que é importante que o caso tenha ganhado o mundo no dia de hoje e vários atos estejam acontecendo será importante manter a mobilização para que tamanha brutalidade não caia no esquecimento.
Mataram Marielle Franco, uma das mais promissoras lideranças políticas do Brasil. Dureza esse país. Total desesperança nisso daqui.
Marielle Franco era mulher
Marielle Franco era negra
Marielle Franco era lésbica
Marielle Franco era de comunidade
Marielle Franco era de esquerda
Marielle Franco era vereadora
Marielle Franco era mulher negra lésbica de esquerda, vereadora, e recebeu votos para ser representante política no legislativo do Rio, de Acari, da Maré, do Alemão, da Rocinha, de Copacabana, de Ipanema, do Leblon...Cada um desses grupos humanos complexos, comprometidos com a própria história de lutas, pode e vai se identificar com Marielle Franco, e ver nela uma representante de sua história de luta, desejo e modo de vida. Nenhum desses grupos tem o direito de impedir que o outro grupo chore por ela e veja nela uma esperança e referencia, queira justiça e defenda a sua política. Marielle não é propriedade de nenhum dos territórios simbólicos que defendia de modo radical amplo e democrático. Ela é das mulheres, dos negros, das mulheres negras, dos pobres, dos democratas e dos socialistas. Não devíamos disputar por fortificação de territórios e circuitos parciais de sentido uma pessoa que soube os unir em seu próprio corpo e vida. Devíamos atacar os fascistas, a direita criminosa antissocial - brancos, negros ou mulheres, podem ser de direita e fascistas - que estabeleceu o estado de degradação da democracia, da política e da economia, em que ela foi assassinada. Ela foi morta por eles. Ela é uma assassinada política, de todas estas lutas e comunidades desejadas.
Três fatos sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL)
1. No sábado (10), ela postou a seguinte denúncia contra o "Batalhão da Morte" da PM, em Acari: "O que está acontecendo agora em Acari é um absurdo! E acontece desde sempre! O 41° batalhão da PM é conhecido como Batalhão da morte. CHEGA de esculachar a população! CHEGA de matarem nossos jovens".
2. No domingo (11), ela voltou a denunciar em sua conta no twitter: "Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando os moradores. Nessa semana, dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje, a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior".
3. Na terça (13), outro post: "Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?",
Ontem, quarta (14) foi morta a tiros.
São fatos. Não há ilação, não há interpretação.
Durante uma intervenção federal na segurança pública do Rio, executam uma das vereadores mais votadas da segunda maior cidade do país.
Quem fez está convicto da impunidade e queria passar um recado muito claro.
Na segunda-feira faleceu a mãe do vigia aqui do prédio. Eu estava voltando de viagem e não soube.
Ontem conversamos longamente. Ele tem 62 anos e é uma pessoa de uma curiosidade intelectual impressionante. Muito inteligente, mas com a escolaridade formal apenas do 1° grau.
Ele, a esposa e um filho de 14 anos moram na favela da Tabajara, em Copacabana. A mãe morava na Zona Oeste, em Santa Cruz.
Lá pelas tantas ele me disse que estava se sentindo pequeno, como se fosse uma criança. E eu entendi que ele, a partir de agora, era apenas pai e não mais o filho e isso o deixava muito inseguro.
Depois de cerca de uma hora de conversa, ele me abraçou com olhos cheios d'agua e perguntou:
- A vida não acaba assim, né? Não pode ser só isso. Não faz sentido ser apenas isso, essa vida, desse jeito, depois morrer e acabar. Tem que ter algo mais.
Eu não soube responder.
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