14 Novembro 2008
Em vez do silêncio, o clamor; em vez da paz, a tempestade política. Uma avalanche de vozes, de reações, de polêmicas. E, acima de tudo, a condenação, duríssima e total, da Igreja. No front oposto: quem fala de “pena de morte”, como o sub-secretário do Interior, Alfredo Mantovano, e quem aplaude uma “vitória muito esperada”, como a viúva de Piergiorgio Welby, Mina, que apela a uma lei e àqueles que a definem, abertamente, de “eutanásia”. A sentença, pronunciada ontem pelos juízes da Corte Suprema di Cassazione [Supremo Tribunal italiano], que, rejeitando como “inadmissível” o recurso da Procuradoria de Milão, tornou definitiva a decisão da Corte de Apelo que, em julho passado, havia autorizado a suspensão da alimentação e da hidratação artificial que mantêm Eluana Englaro viva, dividiu a Itália [a jovem tem 37 anos e está em coma irreversível desde 1992, após um acidente de carro].
A reportagem é de Maria Novella De Luca, publicada no jornal italiano La Repubblica, 14-11-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Muito duras foram, sobretudo, as palavras da Igreja, que condenou a sentença do Supremo Tribunal italiano. Dom Rino Fisichella, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, se referiu sem meios termos a uma “eutanásia sancionada pelo direito”, definindo Eluana como “uma jovem mandada à morte”. "Estamos frente a uma sentença grave do ponto de vista ético e moral. Talvez, podem-se encontrar justificações nas minúcias processuais e nas interpretações de linguagem, mas, na substância, permanece como um fato gravíssimo e estranho à cultura do povo italiano, um verdadeiro atentado à vida”.
Uma derrota radical, diz Fisichella, “para Eluana, uma moça que vive, que respira autonomamente, que se acorda e adormece, que tem uma vida própria e a quem serão tolhidas a água e a alimentação, aquilo que nos Estados Unidos aconteceu com Terry Schiavo”. E além disso, reforça o arcebispo, “é uma derrota também para o direito: essa sentença, de fato, vai contra toda forma de direito”.
Também muito severo foi o comentário da CEI, a Conferência Episcopal Italiana, sobre a sentença do Supremo Tribunal italiano. “A vida de Eluana Englaro, a cujo drama a consciência do nosso país se voltou, já se encaminha rumo à morte. Enquanto participamos, com delicado respeito e profunda compaixão, em sua dolorosa história, não podemos fazer menos do que reclamar à responsabilidade moral daqueles que estão agindo para pôr fim à existência de Eluana. A convicção de que a alimentação e a hidratação não constituem uma forma de obstinação terapêutica [ou distanásia, prolongamento artificial da vida de um paciente] – escrevem os bispos italianos em uma nota – só pode ser reafirmada também neste trágico momento. Em tal contexto, faz-se mais urgente refletir sobre a conveniência de uma lei sobre o fim da vida, sobre conteúdos inequívocos na salvaguarda da própria vida, a ser elaborada com o mais amplo consenso possível”.
Palavras em clara contradição com o pensamento dos “técnicos”, que refletem, ao contrário, sobre dados científicos da condição de Eluana. “Foi uma decisão difícil, mas justa, depois de uma espera de 20 anos que permite estabelecer que o estado vegetativo é irreversível – comenta o presidente nacional da Associação dos Anestesistas e Reanimadores Hospitalares italianos, Vincenzo Carpino. Se Eluana havia expresso seu consenso à morte, depois desse longo período respeita-se o direito dos pais de realizar a vontade da moça”. Na mesma linha, opina o farmacólogo Silvio Garattini, membro do Comitê Nacional de Bioética. “Desde modo, conclui-se uma história que arriscava ser excessivamente prolongada no tempo, e acredito que se encerrará de um modo justo”.
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Vaticano: a responsabilidade moral é de quem mata - Instituto Humanitas Unisinos - IHU