17 Novembro 2017
Não há paz para os Legionários de Cristo, o instituto fundado pelo padre Marcial Maciel Degollado, que, após um período de considerável difusão e poder, passou por um período longo e difícil por causa das acusações – que se revelaram verdadeiras – de abusos sexuais que o fundador cometeu contra os seminaristas.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 14-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Após a sua morte em 2008, ficou-se sabendo que ele levava uma vida dupla e que tivera duas companheiras e três filhos. Bento XVI, que antes ainda de ser eleito papa, quis que fosse realizada a investigação sobre Maciel, definiu-o de “um falso profeta”. Através de um acompanhamento por parte da Santa Sé e da revisão dos estatutos, os legionários iniciaram um novo caminho. Mas, agora, novos fantasmas surgem do passado. A publicação dos “Paradise Papers” revelou que o instituto possuía empresas offshore.
O programa Report e a revista L’Espresso citaram a sociedade International Volunteer Services (IVS): um cofre secreto criado nas Bermudas, para proteger as receitas milionárias das estruturas educacionais dos legionários. Uma forma de gerir anonimamente as mensalidades pagas por mais de 160 mil estudantes em todo o mundo, com receitas de 300 milhões de dólares por ano.
A primeira offshore foi criada em 28 de julho de 1992. Chama-se The Society for Better Education. “Os documentos provam – escreve a L’Espresso – que todo o dinheiro das instituições educacionais era gerido pessoalmente pelo padre Maciel, com rígidos poderes sobre os colaboradores, e enviados secretamente para o exterior.” Toda a rede de empresas offshore está ligada a um endereço em Roma: Via Aurelia 677, sede do quartel-general dos legionários na Itália.
De acordo com a L’Espresso, “o fechamento da rede de offshore dos legionários ainda não foi concluído”, já que, “no Panamá, ainda estão registradas algumas empresas abertas nos anos 1980, outras em Jersey”. E o artigo também menciona o Villaggio dei Ragazzi, de Caserta, que teria sofrido perdas de 28 milhões de euros “com drenagem de dinheiro para o exterior”.
O porta-voz dos Legionários de Cristo, Pe. Aaron Smith, explica ao Vatican Insider: “Hoje, a Legião de Cristo não possui empresas offshore nem possui recursos em empresas offshore. As empresas, nas Bermudas, Panamá, Jersey e Ilhas Virgens, às quais os artigos se referem, foram criadas nos tempos em que o Pe. Marcial Maciel foi diretor-geral e depois foram fechadas”.
O Pe. Smith esclarece ainda que as empresas offshore foram geridas “no respeito pela legalidade e não foram empresas ilegais usadas para atividades ilícitas”. Ele também afirma que “a acusação de que mais de 300 milhões de dólares por ano foram canalizados através da International Volunteer Services é falsa. Esta empresa nunca teve fundos econômicos”.
Hoje, as instituições, as obras e as atividades promovidas pelos legionários “têm empresas que lhes permitem atuar no respeito à lei vigente naqueles países onde realizam a sua missão pastoral”. Além disso, “as obras educativas atuam com transparência, são submetidas a auditorias e respeitam as disposições legais e fiscais dos respectivos países. Elas não têm relações nem fazem negócios com empresas offshore”.
O Pe. Aaron também ressalta que a “Comissão para o Estudo e a Revisão da Situação Econômica da Congregação dos Legionários de Cristo”, em 2014, esclareceu que não há “malversações de dinheiro ou outras irregularidades na contábil anual”. Por fim, o porta-voz dos legionários explica que “não há conexões entre o Villaggio dei Ragazzi de Caserta e as empresas offshore”.
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Legionários de Cristo: as empresas offshore desejadas pelo padre Maciel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU