31 Outubro 2017
A referência às mudanças climáticas são um bom mote para eu mudar de assunto e dividir com vocês uma sugestão que recebi, não sem antes recomendar fortemente a leitura do livro de Harari e que assistam a entrevista. Em outra mensagem, fui convidada a conhecer a história emocionante do indiano Jadav Payeng, escreve Amélia Gonzalez, jornalista, em artigo publicado por G1, 30-10-2017.
Eis o artigo.
Escolhi ser jornalista muito cedo. Desde quando, pela primeira vez,respondi à famosa pergunta que os adultos fazem para crianças: “O que você quer ser quando crescer?”.
Está no meu DNA, sou curiosa, fuço bastante e gosto de escrever. Acima de tudo, acho sensacional poder compartilhar informações, faço isso a todo instante, mesmo quando não estou exercendo a profissão. As redes sociais são generosas neste sentido. E facilitam minha tarefa, tanto na hora de informar, quanto de receber informações que repasso.
Pois ontem (29), quando comecei a trabalhar, me detive cerca de meia hora assistindo a entrevista que Pedro Bial fez em julho com o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor de “Sapiens – Uma breve história da humanidade” (Ed. L&PM), que um amigo enviou por mensagem com boas indicações. Eu não tinha visto e perdera um programa e tanto.
“Até hoje, se olharmos o mundo em 2017, e nos perguntarmos qual a crença que domina o mundo... Podemos até falar em religião dominante, não é o cristianismo, o hinduísmo, o islamismo. É a crença no crescimento econômico”, diz Harari, para início de conversa.
Neste ponto da entrevista, lembrei-me que tinha o livro de Harari na estante, comprado há quase dois anos, quando ainda não tinha tradução no Brasil. Assuntos foram se tornando prioridade antes dele, e acabei por deixá-lo ali mesmo, na lista dos que lerei mais tarde. Já saiu dessa lista, é claro, e assim que terminar “Como os países ricos ficaram ricos...”, de Erik Reinert, editado pelo Instituto Celso Furtado, eu vou pegar para ler. Harari tem um jeito claro de expor suas ideias e, em muitos pontos, concordo com ele.
A referência ao “crescimentismo” que o autor faz durante a entrevista a Pedro Bial, me possibilitou passear pelas páginas do capítulo 16, “The Capitalist Creed” (“O Credo Capitalista” em tradução literal) de seu livro. Harari explica que a esperança no futuro é o único apoio para o capitalismo.
“Crédito, de uma forma ou de outra, tem existido em todas as culturas humanas. O problema, nas eras anteriores, não era falta de conhecimento sobre como usá-lo. Era que as pessoas raramente queriamseendividar muito porque elas não acreditavam que o futuro seria melhor do que o presente”, escreve ele.
Geralmente a crença era o contrário disso. Acreditava-se que o passado era muito melhor do que o presente e que o futuro poderia ser pior. Harari estende seus pensamentos para a saúde, e é outro ponto que me afeta. Hoje em dia, a obesidade já é considerada uma doença que mata mais do que a desnutrição, já que, como se sabe, a questão não é falta de alimentos, mas uma distribuição equivocada e produtos com poucos nutrientes e muita química nas prateleiras dos mercados. Mas, se alguém dissesse, na Idade Média, que este fenômeno seria motivo de preocupação, os cidadãos de então não acreditariam.
Como o livro se propõe a contar a história da humanidade, embora o “Breve” do título convide a entender que muitos detalhes escaparão, Harari consegue compartilhar reflexões inéditas. Ele lança a hipótese, por exemplo, de que o próprio homem foi responsável pela extinção de várias espécies, não as mudanças climáticas, como até agora se tem dito. Os diprotodontes australianos sobreviveram muito bem a, no mínimo, dez idades de gelo.
“Por que, então, desapareceram há 45 mil anos? Poderia ser uma casualidade, se fossem os únicos animais a sumirem, mas não. A evidência é circunstancial, mas é difícil imaginar que os Sapiens, só por coincidência, chegaram à Austrália no exato momento em que todos esses animais foram caindo mortos de frio. Além disso, quando as mudanças climáticas causam extinção em massa, as criaturas do mar são igualmente atingidas. E não há evidência de desaparecimento significante da fauna oceânica há 45 mil anos”.
A referência às mudanças climáticas são um bom mote para eu mudar de assunto e dividir com vocês mais uma sugestão que recebi, ao longo do domingo, não sem antes recomendar fortemente a leitura do livro de Harari e que assistam a entrevista. Em outra mensagem, fui convidada a conhecer a história emocionante do indiano Jadav Payeng.
Há 34 anos, Payeng começou a se incomodar muito com a erosão de Majuli, a ilha onde vive e que, segundo os cientistas, está condenada a desaparecer dentro de 15 ou 20 anos. Desafiando todas as opiniões que diziam ser inútil sua tarefa, ele decidiu plantar árvores, algumas por dia. Atravessava, para isso, uma área quase deserta da ilha e utilizava ferramentas bem rudimentares. Deu certo. Sozinho, Payeng já plantou uma floresta quase do tamanho do Central Park, em média 550 hectares.
No vídeo que o leitor pode acessar no link acima é possível ver a pobreza em que vive Payeng. Enquanto passeia, a convite da câmera, pela floresta que plantou, ele conta que no princípio foi complicado porque tinha que levar muitas sementes. Agora, porém, é só ir pegando a semente de uma árvore para plantar outra. Simples, fácil. Por que não se faz isso em escala?
No bosque do “Homem Floresta”, apelido que ganhou até do presidente, já existem animais: elefantes, rinocerontes... Payeng teme, no entanto, a ação do homem, sempre tão feroz contra a natureza quando quer. “Humanos também são animais, a diferença é que se vestem. Mas eles consomem tudo, não deixam nada”, diz ele.
Payeng já recebeu muitos prêmios, mas o que ele queria mesmo era ser ouvido, e isso não consegue. Tem planos de sobra para salvar sua ilha da erosão. Plantar coco, por exemplo, ajudaria a impulsionar a economia e a proteger o solo tão fragilizado. Tem até de cabeça o tempo que levaria: 5 anos.
Payeng virou celebridade, mas dessas celebridades que os homens têm à distância, é quase uma raridade. Têm respeito por ele, mas o que diz parece muito pouco exequível.
Na geopolítica do futuro, segundo Harari, não haverá discriminação por gênero ou raça ou religião. Os dados de cada cidadão poderão ser monitorados minuto a minuto, o que parece ser bem assustador porque a discriminação poderá ser singular, dependendo dos pontos que interessem ao “algoritmo”. Mais ou menos assim: alguém pode não ser admitido num emprego porque o “algoritmo” decidiu, e pronto. Fico tentando imaginar em que caixinha divisória os governantes do futuro, já quase presente, resolveriam botar um homem como Payeng, infelizmente um ponto fora da curva, já nos dias de hoje.
Ficam as duas sugestões para vocês, e que a semana nos seja leve.