Por: Márcia Junges | 30 Setembro 2017
Em um grande esforço de expor suas ideias em português, o filósofo Victor Salas, do Sacred Heart Major Seminary – EUA, apresentou na tarde de 27-09-2017 a conferência Francisco Suárez sobre a analogia do ser. A atividade faz parte da programação do VIII Colóquio Internacional IHU e XX Colóquio Filosofia UNISINOS – Metafísica e Filosofia Prática. A atualidade do pensamento de Francisco Suárez, 400 anos depois, sediado na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Assista à conferência na íntegra.
Segundo Salas, o jesuíta que marcou um novo modo de fazer teologia cristã no Medievo é o precursor de uma ontologia secularizada. Em última instância pode-se falar, inclusive, de um existencialismo cristão. Esse tipo de pensamento é algo com um caráter fundamental, decisivo, frisa o pesquisador.
Ao romper com a tradição de comentaristas da obra aristotélica, Suárez traz uma sistematicidade e ordem que não conheciam comparativo naquele tempo e que até hoje seguem impressionando. Paradoxalmente, sua importância não é reconhecida de modo devido, ainda que haja um crescente interesse por sua obra nos últimos anos.
Escolástico realista, Suárez segue a escola aberta por outros pensadores medievais e traça caminhos tão importantes que todos os projetos epistemológicos da Modernidade receberão sua influência. Sua epistemologia tem como uma das preocupações centrais a distinção entre conceito formal e objetivo. O conceito formal é aquilo que a mente procura para designar alguma coisa, um objeto.
Por outro lado, o conceito objetivo é a coisa propriamente que o intelecto compreende. “A metafísica suareziana deve tratar das coisas reais, do ser como algo real”, esclarece Salas. Isso inclui Deus, as substâncias e os acidentes. Esse Deus é imanente e transcendente ao mesmo tempo.
Sua teoria metafísica da analogia do ser surge em contraposição a Duns Scotus, cuja denominação é de que o conceito de ser é unívoco. Com o pensável excluído do objeto da metafísica, há uma rejeição do conceito supratranscendental da metafísica, e Suárez enraíza sua filosofia no ser real.
O Doutor Eximius pontua que o conceito de ser é absolutamente unificado, mas isso não quer dizer que há um caráter unívoco do conceito, como propõe Scotus. Isso porque o conceito de ser descende de modo desigual para suas “inferiora”, isto é, primeiramente para Deus e depois para as criaturas. Em função de tal “relação de prioridade e posterioridade que é intrínseca ao próprio conceito de ser, Suárez sustenta que o conceito de ser é analógico.”
Em caminho inverso a Tomás e Scotus, Suárez não distingue essência e existência nas criaturas. “A única distinção que pode ser admitida é uma distinção que surge através da operação do intelecto. Além disso, creio que a razão para seu compromisso com essa tese provém de seu compromisso teológico com uma criação ex nihilo.”
Se considerarmos que o objeto da metafísica é o ser e este se diz, se expressa de muitas formas, “a analogia estará no próprio cerne do desdobramento da metafísica. Não é surpreendente, portanto, encontrar Suárez recorrendo à analogia na vigésima oitava disputa, em que ele passa de uma consideração do ser em geral para uma consideração de várias espécies ou modos de ser (ser infinito–finito, substância, acidentes, etc.).”
Victor Salas | Foto: Ricardo Machado / IHU
Victor Salas é graduado em estudos medievais, mestre e doutor em Filosofia. Atua como professor associado de Filosofia, especialista em metafísica escolar medieval e tardia na Sacred Heart Major Seminary, em Detroit, nos Estados Unidos. Suas publicações analisam as obras de Alberto Magno, Boaventura, Tomás de Aquino, Duns Scotus e Francisco Suárez, entre outros. Atualmente, vem se dedicando a pesquisa que visa a estabelecer a afirmação de que a metafísica de Francisco Suárez constitui uma forma de existencialismo cristão. Entre suas publicações, destacamos A Companion to Francisco Suárez (Brill, 2015), Hircocervi and Other Metaphysical Wonders: Essays in Honor of John P. Doyle (Marquette University Press, 2013) e John P. Doyle, Collected Studies on Francisco Suárez, S.J. (1548–1617).
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Suárez e uma metafísica do ser real - Instituto Humanitas Unisinos - IHU