19 Setembro 2017
Um Papa "emérito". Outro "Santo Padre", que também está vestido com uma batina branca e anda com o anel do Pescador. O professor Thomas Schüller e o padre Hubert Wolf, teólogos da Universidade de Münster, são duas das muitas pessoas que pensam que os títulos e as vestimentas de Bento XVI, que renunciou, provocam "grande confusão" entre os fiéis. Como o Papa Ratzinger fez ao não cumprir sua promessa de que após deixar a cátedra de Pedro, se dedicaria estritamente a uma vida discreta, retirada e em silêncio.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 17-09-2017. A tradução é de André Langer.
Como relata o jornal francês La Croix, Schüller e Wolf são as últimas vozes que se somaram ao debate que se travou sobre as normas que um Bispo de Roma "emérito" deve seguir após a renúncia do pontífice alemão em 2013.
"Deve haver apenas um papa na Igreja católica romana e, portanto, foi muito desconcertante que, quando Bento XVI renunciou, se cunhasse a nova expressão de ‘Papa Emérito’, uma vez que só trouxe confusão", lamentou Schüller em uma entrevista concedida ao canal de televisão WDR, acrescentando que, quando um papa abdica, ele deve renunciar de forma visível à túnica branca e ao anel do Pescador, para usar apenas a túnica preta e vermelha dos cardeais da Igreja.
"As vestimentas brancas papais são reservadas exclusivamente ao papa em exercício", disse Schüller. "Se há dois homens – ou talvez mais, no futuro – vestindo as vestes brancas do papa, isso pode causar grande confusão entre os fiéis".
E essa "confusão" provocada pela coexistência de dois papas só se acentuou, de acordo com Schüller, porque Bento XVI, "infelizmente", nem sempre manteve um perfil baixo desde que renunciou há quatro anos. Uma prova disso, citada pelo teólogo, é a longa entrevista que Ratzinger concedeu ao jornalista e escritor alemão Peter Seewald.
Mas há muitas outras razões para se perguntar por que o papa "emérito" não se limitou a falar apenas em privado e a dedicar sua vida a rezar por seu sucessor e pela Igreja, como ele disse que faria. O fato de ele escrever o prefácio para dar outro exemplo. Uma atitude – a de tornar-se presente na vida da Igreja muito mais ativamente do que uma vida de retiro estrito pareceria implicar – que Schüller qualificou como "particularmente problemática".
O padre Hubert Wolf concordou plenamente com os argumentos de Schüller quando foi entrevistado, por sua vez, pela rádio dos bispos alemães, Domradio.de. "Há apenas um Papa e há apenas uma pessoa que tem o direito de ser tratada como ‘Santo Padre’ e de vestir-se de branco", declarou Wolf naquela ocasião.
Assim, o teólogo ecoou os seus próprios argumentos expressados na edição de janeiro da revista Christ & Welt, do prestigiado semanário alemão Die Zeit, no sentido de que "ao nível da comunicação simbólica”, o fato de que existam dois papas “é uma catástrofe”.
"As pessoas dizem: ‘Há dois homens de branco na Praça de São Pedro’”, observou Wolf. Fenômeno que ele qualificou como "muito pior" do que qualquer argumento teológico que pudesse justificar a convivência de dois papas.
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Teólogos alemães pedem que se retire dos futuros Papas Eméritos os sinais do ofício pontifício - Instituto Humanitas Unisinos - IHU