Cecília Meireles na oração inter-religiosa desta semana

Foto: PxHere | Creative Commons

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

15 Setembro 2017

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora - MG.

Elegia

Pousada Riacho Doce (Foto: Tripadvisor)

Neste mês, as cigarras cantam
e os trovões caminham por cima da terra,
agarrados ao sol.
Neste mês, ao cair da tarde, a chuva corre pelas montanhas,
e depois a noite é mais clara,
e o canto dos grilos faz palpitar o cheiro molhado do chão.

Mas tudo é inútil,
porque os teus ouvidos estão como conchas vazias,
e a tua narina imóvel
não recebe mais notícia
do mundo que circula no vento.

Neste mês, sobre as frutas maduras cai o beijo áspero das vespas...
- e o arrulho dos pássaros encrespa a sombra,
como água que borbulha.

Neste mês, abrem-se cravos de perfume profundo e obscuro;
a areia queima, branca e seca,
junto ao mar lampejante:
de cada fronte desce uma lágrima de calor.

Mas tudo é inútil,
Porque estás encostada à terra fresca,
e os teus olhos não buscam mais lugares
nesta paisagem luminosa,
e as tuas mãos não se arredondam já
para a colheita nem para a carícia.
Neste mês, começa o ano, de novo,
e eu queria abraçar-te.
Mas tudo e inútil:
eu e tu sabemos que é inútil que o ano comece.

Fonte: Cecília Meireles. Obra poética. Volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985, p. 302-303.

Cecília Meireles | Foto: Acervo Última Hora

Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964): Professora, poetisa, jornalista e pintora nascida no Rio de Janeiro. Foi a primeira mulher brasileira a ganhar expressão na literatura; aos 18 anos publicou seu primeiro livro de sonetos, Espectro (1919). Integrou o círculo literário da Revista Festa, um grupo católico de onde trouxe a tendência espiritualista que percorrem seus poemas. Com mais de 50 obras publicadas, sua composição poética foi marcada por muita musicalidade. Entre as homenagens recebidas, destaca-se o Prêmio Machado de Assis de 1965. 

As poesias "Canteiros" e "Motivo" foram musicadas pelo cantor Fagner. Em meio a sua vasta produção literária, destacamos: Viagem (1939), que lhe rendeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras; Vaga Música (1942); 
Mar Absoluto (1945); Poemas Escritos Na Índia (1962); Antologia Poética (1963); Ou Isto Ou Aquilo (1965); Escolha o Seu Sonho (1964).