15 Setembro 2017
Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora - MG.
Elegia
Pousada Riacho Doce (Foto: Tripadvisor)
Neste mês, as cigarras cantam
e os trovões caminham por cima da terra,
agarrados ao sol.
Neste mês, ao cair da tarde, a chuva corre pelas montanhas,
e depois a noite é mais clara,
e o canto dos grilos faz palpitar o cheiro molhado do chão.
Mas tudo é inútil,
porque os teus ouvidos estão como conchas vazias,
e a tua narina imóvel
não recebe mais notícia
do mundo que circula no vento.
Neste mês, sobre as frutas maduras cai o beijo áspero das vespas...
- e o arrulho dos pássaros encrespa a sombra,
como água que borbulha.
Neste mês, abrem-se cravos de perfume profundo e obscuro;
a areia queima, branca e seca,
junto ao mar lampejante:
de cada fronte desce uma lágrima de calor.
Mas tudo é inútil,
Porque estás encostada à terra fresca,
e os teus olhos não buscam mais lugares
nesta paisagem luminosa,
e as tuas mãos não se arredondam já
para a colheita nem para a carícia.
Neste mês, começa o ano, de novo,
e eu queria abraçar-te.
Mas tudo e inútil:
eu e tu sabemos que é inútil que o ano comece.
Fonte: Cecília Meireles. Obra poética. Volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985, p. 302-303.
Cecília Meireles | Foto: Acervo Última Hora
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964): Professora, poetisa, jornalista e pintora nascida no Rio de Janeiro. Foi a primeira mulher brasileira a ganhar expressão na literatura; aos 18 anos publicou seu primeiro livro de sonetos, Espectro (1919). Integrou o círculo literário da Revista Festa, um grupo católico de onde trouxe a tendência espiritualista que percorrem seus poemas. Com mais de 50 obras publicadas, sua composição poética foi marcada por muita musicalidade. Entre as homenagens recebidas, destaca-se o Prêmio Machado de Assis de 1965.
As poesias "Canteiros" e "Motivo" foram musicadas pelo cantor Fagner. Em meio a sua vasta produção literária, destacamos: Viagem (1939), que lhe rendeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras; Vaga Música (1942);
Mar Absoluto (1945); Poemas Escritos Na Índia (1962); Antologia Poética (1963); Ou Isto Ou Aquilo (1965); Escolha o Seu Sonho (1964).
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Cecília Meireles na oração inter-religiosa desta semana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU