Por: Lara Ely | 27 Agosto 2017
A morte do repórter policial Cândido Rios Vazquez “Pavuche”, do Diário de Acayucan, na última semana, coloca em xeque a onda de violência a profissionais da imprensa mexicana crescente. Apenas neste ano, foram dez profissionais mortos, dado que coloca o México como o mais mortífero para profissionais da imprensa na América Latina.
Protegido pelo mecanismo criado pelo governo mexicano para profissionais em situação de ameaça, o jornalista tinha 55 anos e cobria questões ligadas à corrupção da classe política e ao crime organizado. Morto no município de Hueyapan de Ocampo, Veracruz, junto a outras duas pessoas, Pavuche é o 22º jornalista assassinado desde o ano 2000 neste estado - o mais arriscado para a atuação dos comunicadores.
“Esta nova tragédia confirma a urgência com que as autoridades federais devem reformar a medida de proteção dos jornalistas, que mais uma vez mostrou sua ineficácia", declarou Emmanuel Colombié, diretor de Escritório da entidade Repórter Sem Fronteiras para a América Latina. Em seu relatório “Veracruz, os jornalistas diante do medo”, publicado em 2 de fevereiro, a RSF detalha as falhas dos sistemas de proteção no México e propõe uma série de recomendações para melhorar a situação. O país ocupa o 147º lugar em 180 no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa estabelecido pela RSF em 2017.
No Brasil, ainda não há um regramento nacional de proteção para jornalistas em perigo, o que reforça o clima de impunidade. No ranking de liberdade de imprensa, o país ocupa o 104º lugar entre 180 países. Em 2002, atingiu 54º, é a melhor posição, mas vem caindo desde então.
Na pátria dos cartéis da droga, quem ousa falar sobre temas sensíveis ou indevidos aos mandantes do crime acaba entrando para a estatística. Não raro, jornalistas são vítimas de intimidação, ameaças e, com frequência, executados a sangue frio. Tais crimes permanecem, na maioria das vezes, impunes – uma impunidade que se explica pela corrupção generalizada que reina no país.
A RSF aponta o cartel de Los Zeta como um predador da liberdade de imprensa e um possível responsável pelas mortes. Em seu portal, a organização atribui aos cartéis mexicanos a onda de violência contra jornalistas, principalmente nos estados do nordeste e no golfo do México, onde estão os casos mais graves.
“O clima de terror instaurado tem como efeito a autocensura, permeada em todas as redações locais. Aqueles que se atrevem falar pagam com a própria vida, ou foram obrigados a exilar-se. Os números de profissionais da informação mortos ou desaparecido desde os anos 2000 é assustador”, menciona o portal.
"Ser um jornalista no México parece mais uma sentença de morte do que uma profissão", afirmou a diretora da Amnistia Internacional do México Tania Reneaum.
Além de Pavuche, a violência dos cartéis mexicanos vitimou nomes como o do repórter e apresentador do Canal de Notícias Rosarito Luciano Rivera, o locutor e diretor do Canal 6 de Nova Itália Salvador Adame, o diretor do semanário Riodoce Javier Valdez e o repórter de El Costeño de Autlán, Jalisco, Jonathan Rodríguez.
Em julho deste ano, o jornal Norte, de Ciudad Juárez, anunciou o encerramento de suas atividades devido “aos perigos e condições adversas” para o exercício do jornalismo depois que a colaboradora Miroslava Breach foi assassinada.
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México bate recorde de assassinatos a jornalistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU