23 Junho 2017
Esta é uma das novas medidas que serão aplicadas a partir de 2020 na Arquidiocese de Montreal.
A reportagem é de Sarah-Maude Lefebvre, publicada por Le Journal de Montréal, 20-06-2017. A tradução é de André Langer.
A Arquidiocese de Montreal toma medidas importantes para proteger as pessoas vulneráveis. Todos os seus padres e muitos funcionários não poderão mais ficar sozinhos com uma criança e serão obrigados a disponibilizar as digitais.
Esta é a primeira vez que medidas desse gênero serão colocadas em prática em tão larga escala como na Província de Quebec. A partir de 2020:
— Nenhum padre, voluntário ou funcionário de uma paróquia poderá se encontrar em privado, sem o “olhar de outro adulto”, com uma criança.
— Cada pessoa deverá, pelo menos, fornecer as referências e seguir um rigoroso código de ética, além de ser continuamente supervisionada.
— Um minucioso controle de 10 etapas será implantado em todas as paróquias. Cada posto será avaliado em função do seu nível de risco potencial de abusos em relação a uma pessoa vulnerável.
— Toda pessoa que ocupa um posto julgado de “alto risco” (ex.: pároco, vigário, diácono, diretor de coral) deverá fornecer suas digitais e apresentar antecedentes criminais pela polícia a cada três anos.
Essas medidas dão sequência ao projeto piloto colocado em prática no ano passado em 10 paróquias para acabar com os escândalos de pedofilia que assolam a Igreja.
Satisfeita com os resultados, a Arquidiocese de Montreal decidiu ir mais longe ao implantar uma política de “pastoral responsável” em todas as 194 paróquias espalhadas por Montreal, Laval, Repentigny e L’Assomption.
“A confiança deve ser conquistada”, diz imediatamente dom Alain Faubert vigário geral e bispo auxiliar de Montreal.
Aquele que irá supervisionar a implantação desta política afirma que a Igreja inspirou-se “nas melhores práticas” observadas principalmente entre os escoteiros e as organizações esportivas.
“Há um problema de credibilidade. Em um determinado momento, é preciso que as nossas palavras sejam acompanhadas pelas nossas ações. A Igreja não é exceção. Eu não acho que ela tenha que reivindicar o direito de ser confiável na palavra, sobretudo naquilo que ela vai dizer e fazer. Devemos mostrar a nossa coerência”, afirma dom Faubert.
Dom Faubert promete que ninguém na Igreja vai escapar desta nova política.
Por exemplo, para uma confissão em preparação à primeira comunhão, os pais poderão acompanhar o seu filho. Se necessário, a confissão poderá acontecer sob o “olhar de um outro adulto” próximo.
“Temos em vista todas as pessoas vulneráveis. Pensamos especialmente nas crianças e nas pessoas idosas que poderiam ser manipuladas por dinheiro, por exemplo. É uma política que quer evitar os abusos físicos, mas também psicológicos”.
Dom Faubert admite que a severidade desta nova política pode provocar algumas reações, mas se diz confiante de que tudo irá se ajustar a esta nova realidade.
“Eu sei que há pessoas que são voluntárias no nosso serviço de acompanhamento espiritual para pacientes há mais de 25 anos. Faz 25 anos que elas têm encontros e nunca tivemos quaisquer problemas. E agora as convidamos para disponibilizar as digitais. Temos que levantar o chapéu para elas”.
A Igreja não tem nada a esconder e essa política poderia ter sido implementada mais cedo, acredita um padre de Montreal.
Pároco na Paróquia São Lucas, em Dollard-des-Ormeaux, Bertrand Monpetit foi um dos primeiros a participar do projeto piloto da Arquidiocese de Montreal, no outono passado.
Hoje ele se alegra em ver o projeto tomar forma. “É preciso proteger as pessoas vulneráveis. Isso nos dá uma credibilidade maior. Isso mostra que a Igreja não vive fora do mundo”, disse esse que é padre desde 1989.
A implementação desta nova política, no entanto, não é simples. O padre Montpetit prevê que serão necessários de um a dois anos para completar o processo e concluir a verificação de todos os antecedentes de 80 pessoas identificadas como ocupando um posto de risco em sua igreja.
“Como acontece com qualquer novo projeto, há resistências. Voluntários que estão aí há mais de 30 anos se perguntam por que devem fornecer seus antecedentes. Mas, para mim, está claro que todos devem fazer isso”.
“Se com isso se protege pelo menos uma pessoa, já terá valido a pena”.
No ano passado, Le Journal Du Montréal revelou que pelo menos 600 quebequenses(as) foram vítimas de abuso sexual por parte de padres, irmãos e funcionários da Igreja desde a década de 1940. Seguem alguns dos escândalos que viraram notícia.
Lançamento do Programa Nacional de Reconciliação para os Órfãos Duplessis que recebem uma compensação financeira do governo. Estima-se que cerca de 5 mil crianças, durante o governo de Maurice Duplessis, foram rotuladas como sendo “doentes mentais” e internadas em asilos. Muitas delas afirmam ter sofrido agressões sexuais.
Mais de 200 vítimas recebem uma indenização que variou entre 10 mil e 250 mil dólares canadenses da Congregação da Santa Cruz por terem sofrido abusos nos pensionatos do Colégio Notre-Dame, do Colégio de Saint-Césaire e da Escola Notre-Dame de Pohénégamook entre 1950 e 2001.
Ex-alunos dos padres redentoristas do Seminário Santo Afonso tiveram ganho de causa em uma ação coletiva. Eles receberão 20 milhões de dólares canadenses.
O Papa Francisco pediu perdão em nome da Igreja às vítimas. “É me responsabilizo pessoalmente por todo o mal que alguns padres fizeram. Eles são muitos, mesmo quando são poucos em relação ao número total de padres na Igreja. Em meu nome, peço perdão pelo mal que eles fizeram ao abusar sexualmente das crianças”.
Mais de 150 surdos que foram abusados sexualmente pelos Clérigos de São Viator receberam 30 milhões de dólares canadenses em indenizações.
Objetivo:
— Prevenção de maus tratos de crianças e pessoas vulneráveis.
— Proteção do clérigo e dos voluntários contra “alegações de delito”.
Etapas:
— Processo de triagem dos antigos e novos funcionários.
— Verificação dos antecedentes criminais e tomada das digitais (exclusivamente de pessoas em postos considerados de risco).
— Aplicação de um código de ética de intervenção com menores e pessoas vulneráveis, que estipula especialmente que:
+ Um membro do quadro funcional ou um voluntário jamais deve utilizar seu telefone celular ou máquina fotográfica para fotografar um menor ou uma pessoa vulnerável.
+ Ele não deve se comunicar com essa pessoa (chamadas telefônicas, SMS, correio eletrônico) fora do âmbito normal de suas responsabilidades.
+ Não pode aceitar remuneração, presentes ou benefícios da parte das pessoas em relação às quais exerce seu ministério.
+ Em uma atividade, sempre deve estar acompanhado de pelo menos dois funcionários ou voluntários. A sala deve permanecer sempre aberta.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Montreal. Proteção de pessoas vulneráveis - Todos os padres serão obrigados a disponibilizar as suas digitais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU