17 Mai 2017
Treze votos a favor do reconhecimento da sobrenaturalidade das primeiras sete aparições de Medjugorje, um voto contra e uma abstenção. A maioria dos votos suspensivos e muitas dúvidas sobre o prosseguimento do fenômeno das aparições que aconteceram entre o final de 1981 e hoje. Este é o resultado final do trabalho da comissão sobre Medjugorje instituída em 2010 por Bento XVI e presidida pelo cardeal Camilo Ruini. O Papa Francisco mencionou esse relatório durante a conversa com os jornalistas durante o voo de retorno de Fátima, quando revelou a diferença entre as primeiras aparições e o fenômeno posterior, dizendo: “Uma comissão composta por bons teólogos, bispos e cardeais. A relação da comissão é muito, muito boa”. Como se sabe, a indicação das palavras do Pontífice é positiva sobre os frutos espirituais e as conversões (“pessoas que se convertem, que encontram Deus, que mudam de vida. E isto não graças a uma varinha mágica”), mas negativa sobre as aparições que continuam atualmente: “Eu, pessoalmente, sou mais malvado, prefiro a Nossa Senhora Mãe em vez da Nossa Senhora chefe de um escritório de telégrafos e que diariamente envia uma mensagem com hora marcada”.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 16-05-2017. A tradução é de André Langer.
Entre 17 de março de 2010 e 17 de janeiro de 2014, por vontade de Bento XVI, foi instituída uma comissão presidida por Ruini. Além do ex-presidente da Conferência Episcopal da Itália, faziam parte dela os cardeais Jozef Tomko, Vinko Puljic, Josip Bozanic, Julián Herranz e Angelo Amato. Além disso, era integrada pelo psicanalista Tony Anatrella, os teólogos Pierangelo Sequeri, Franjo Topic, Mihály Szentmártoni e Nela Gaspar, o mariólogo Salvatore Perrella, o antropólogo Achim Schütz, o canonista David Jaeger, o relator das Causas dos Santos Zdzislaw Józef Kijas, o psicólogo Mijo Mikic e o oficial da Doutrina da Fé Krzysztof Nykiel. Eles tiveram a tarefa de “reunir e examinar todo o material” sobre Medjugorje e apresentar “um relatório detalhado”, com a votação sobre a “sobrenaturalidade ou não” das aparições, além de indicar as “soluções pastorais” mais adequadas. A comissão reuniu-se 17 vezes, avaliou toda a documentação depositada no Vaticano, na paróquia de Medjugorje e nos arquivos dos serviços secretos da ex-Iugoslávia. Ouviu todos os videntes e testemunhas, e em abril de 2012 fez uma visita ao pequeno povoado da Bósnia-Herzegovina.
A comissão identificou uma diferença muito clara entre o início do fenômeno e seu desenvolvimento posterior. E decidiu expressar-se com duas votações diferentes sobre duas fases diferentes: as primeiras sete supostas aparições, que aconteceram entre o dia 24 de junho e o dia 03 de julho de 1981, e tudo o que aconteceu depois disso. Os membros e os peritos se expressaram com 13 votos a favor do reconhecimento da sobrenaturalidade das primeiras visões. Um dos membros votou contra e um dos peritos se absteve. A comissão sustenta que os sete rapazes videntes eram normais psiquicamente, foram surpreendidos pela aparição e que não houve nenhuma influência externa (nem por parte dos franciscanos da paróquia nem de outros sujeitos) sobre o que disseram ter visto. Negaram-se a contar o que tinham visto apesar de a polícia tê-los detido e ameaçado de morte. A comissão também descartou a hipótese de origem demoníaca das aparições.
Em relação à segunda fase das aparições, a comissão considerou as fortes interferências provocadas pelo conflito entre o bispo e os franciscanos da paróquia, assim como pelo fato de que as aparições, pré-anunciadas e programadas singularmente para os videntes (e já não em grupo), tenham continuado com mensagens repetitivas. Estas continuam, embora os rapazes tenham dito que não, coisa que não se verificou. E depois há a questão dos “segredos” com requintes apocalípticos que os videntes afirmam ter recebido da aparição. Sobre esta segunda fase, a comissão votou em dois momentos diferentes. Uma primeira vez, considerando os frutos espirituais de Medjugorje, mas deixando de lado o comportamento dos videntes. Nesta votação três membros e três peritos afirmaram que havia efeitos positivos, quatro membros e três peritos indicaram que havia efeitos mistos, principalmente positivos, e outros três membros disseram que havia efeitos mistos (positivos e negativos). Se além dos frutos espirituais se considera o comportamento dos videntes, oito membros e quatro peritos consideraram que não se podia fazer um juízo, ao passo que outros dois membros votaram contra a sobrenaturalidade.
Após constatar que os videntes de Medjugorje nunca foram acompanhados adequadamente do ponto de vista espiritual e observar que há muito tempo já não faziam parte de um grupo, a comissão pronunciou-se a favor da suspensão da proibição de organizar peregrinações a Medjugorje (com o voto de 13 membros e peritos dos 14 que estavam presentes) e votou a favor da criação, em Medjugorje, de “uma autoridade dependente da Santa Sé” e da transformação da paróquia em um santuário pontifício. Uma decisão motivada por questões pastorais (o cuidado dos milhões de peregrinos que chegam ali, evitar que se formem “igrejas paralelas”, esclarecer questões econômicas), mas que não implicaria o reconhecimento da sobrenaturalidade das aparições.
O Papa Francisco também falou sobre isso durante a entrevista que o levava de volta a Roma de Fátima. A Congregação para a Doutrina da Fé, dirigida pelo cardeal Gerhard Ludwig Müller, manifestou suas dúvidas sobre o fenômeno e também sobre o relatório da comissão Ruini, considerado como um documento confiável, mas que deve ser comparado com outros pareceres e documentos. Em 2016, aconteceu a Feira IV, reunião mensal dos membros do dicastério, convocada para discutir o caso de Medjugorje e o relatório da comissão Ruini. Cada um dos cardeais e bispos membros recebeu o texto da comissão, mas também mais documentos que se encontram na Congregação para a Doutrina da Fé. Durante a reunião pediu-se aos membros que expressassem suas opiniões. O Papa Francisco, que não queria que o relatório da comissão Ruini fosse “leiloado”, estabeleceu que enviassem a ele, pessoalmente, todos os pareceres dos membros da Feira IV. E isso foi feito na hora.
O Papa, após ter examinado o relatório da comissão Ruini e os pareceres dos membros da Congregação para a Doutrina da Fé, decidiu encomendar ao arcebispo polonês Henryk Hoser uma missão de “enviado especial da Santa Sé” e, “sobretudo, das exigências dos fiéis que para ali se dirigem em peregrinação” para “sugerir eventuais iniciativas pastorais para o futuro”. Antes que termine o verão deste ano de 2017, o enviado da Santa Sé entregará os resultados do seu trabalho ao Papa e este tomará uma decisão.
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Comissão Runi apresenta as conclusões sobre Medjugorje - Instituto Humanitas Unisinos - IHU