20 Abril 2017
Michel Temer e João Doria tentaram usar a figura do Francisco, querido em todo o mundo e por milhões de brasileiros e brasileiras, para seus projetos de poder. Com apoio das Organizações Globo e mídias auxiliares distorceram o conteúdo de uma carta de Francisco a Temer e, no caso de Doria, tentaram transformar encontro rápido na Praça São Pedro em “audiência” e uma cena constrangedora em momento de “intimidade e empatia”. Foram duas operações de relações públicas/pós-jornalismo nos últimos dois dias, ambas destinadas a engambelar as pessoas.
O comentário é de Mauro Lopes, jornalista, publicado no seu blog Caminho pra Casa, 19-04-2017.
Francisco respondeu dias atrás uma carta de Temer na qual era convidado a vir ao Brasil. Como tratou-se de correspondência privada, a Santa Sé não divulgou o conteúdo. Mas o colunista global Gerson Camarotti, um dos queridinhos do Palácio do Planalto, recebeu trechos da correspondência e postou reportagem na qual tentou vender ao país uma suposta “neutralidade” de Francisco diante da situação do Brasil - desmentida até mesmo pelos trechos pinçados por Camarotti e suas fontes. O título da nota, verdadeiro press release oficial: “Em carta, Papa diz a Temer que crise no Brasil não é de fácil solução”.
O Papa foi duro com Temer e as reformas que ele e o capital financeiro tentam aprovar, com apoio da Globo: “não posso deixar de pensar em tantas pessoas, sobretudo nos mais pobres, que muitas vezes se veem completamente abandonados e costumam ser aqueles que pagam o preço mais amargo e dilacerante de algumas soluções fáceis e superficiais para crises que vão muito além da esfera meramente financeira”. O Papa escreveu que o Brasil vive “um momento triste”. Estes são os trechos vazados da carta, que não autorizam “neutralidade” ou “simpatia” do Papa com regime do golpe.
Não contentes em espalhar uma versão claramente falseada do conteúdo da carta, Temer e seus porta-vozes nas mídias foram além e afirmaram que a liquidação da Previdência Social estaria “em sintonia” com a carta do Papa!
O caso de João Doria é uma aula ao vivo sobre pós-verdade. Tudo o que ele afirmou sobre o encontro com o Papa na manhã desta quarta (19) é falso e desmentido pelas próprias imagens do episódio!
Disse que teve uma “audiência privada” com Francisco – as imagens mostram um encontro forçado, arranjado às cotoveladas pela assessoria do prefeito, na Praça São Pedro, caminho diário do Papa até seu escritório no Vaticano. Depois, nas versões que espalhou nas redes e numa entrevista logo depois do encontro, insinuou que o encontro foi caloroso, quase íntimo. As imagens logo abaixo mostram o constrangimento do Papa diante de uma situação claramente forçada para gerar buzz nas mídias.
A cena de um político pegajoso beijando a mão do Papa - e Francisco livrando-se do malando é eloquente. A arrogância que levará Doria à ruína é transparente em toda a orquestração:
Durante o encontro, ele insinua que o Francisco seria ignorante a respeito dos 300 anos de encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida (!!!!). Depois “informar” ao Papa que em outubro será a celebração, e de Francisco ter dito que não virá ao Brasil, Doria insistiu: “porém, não sabes que são 300 anos?” – a cena é digna de figurar num programa humorístico.
Nas entrevistas, ele ainda repreendeu o Papa (!!!): “não estar presente em uma data tão importante como essa, na maior nação católica do mundo, não me parece a melhor medida.” E arrematou, com tom de humildade farsesco que apenas denuncia sua pertença à elite mais arrogante do planeta: “ Mas quem sou eu para julgar o Papa?” (aqui).
Cada qual com seus objetivos político-pessoais, Temer para evitar a derrocada das reformas e Doria para impulsionar sua ambição sem limites, os políticos de direita utilizaram contatos com o Papa distorcendo completamente seu contexto e conteúdo. Com a colaboração das mídias dos ricos e poderosos do país.
As pessoas irão acreditar na farsa?
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Temer e Doria tentam usar o Papa para seus projetos, com apoio da Globo e mídias auxiliares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU