22 Março 2017
O cardeal Walter Kasper, no templo de Pinerolo, na Itália, falou de Lutero e da Reforma do ponto de vista da Igreja Católica.
A reportagem é de Samuel Revel, publicada no sítio Riforma, 20-03-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“A Igreja Católica também teria chegado à Reforma sem Lutero. Os tempos estavam maduros naquele período histórico para uma forte renovação.” Essas são algumas palavras de Walter Kasper, cardeal presbítero de Todos os Santos, na Via Appia Antica, e presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos (conselho do qual também foi presidente e cujo sucessor, Kurt Koch, foi em visita à Torre Pellice no ano passado, percorrendo justamente as pegadas de Kasper em visita à torre em 2002).
O evento organizado pela diocese e pela Igreja Valdense de Pinerolo faz parte de um ciclo mais amplo de encontros e de conferências no âmbito dos 500 anos da Reforma. A palavra “reforma” foi repetida muitas vezes pelo cardeal durante o seu longo e articulado discurso.
“Dentro da Igreja Católica, houve muitos momentos de reforma, o movimento monástico, Francisco de Assis e a reforma de Trento, para citar alguns. E também no tempo de Lutero a Igreja estava se transformando. A ruptura, a divisão que ainda hoje nos distingue é filha daquele tempo, de um Lutero que não soube esperar suficientemente, já que, em muitos aspectos (como as indulgências), teria sido possível chegar a um ponto de encontro: a renovação estava pronta. A ruptura tornou-se, depois, incurável quando o papa foi definido como o anticristo. Lutero soube utilizar da melhor forma possível a opinião pública, nascida graças à invenção da imprensa de Gutenberg.”
Palavras claras que provocaram também algumas trocas de opinião entre o grande público presente, que lotou o templo de Pinerolo. Kasper, depois, analisou a evolução do pensamento católico que, no século XX, “chegou a reconhecer que o pensamento de Lutero tinha uma dignidade própria, também do ponto de vista religioso. Além disso, dois importantes acontecimentos deram um impulso a partir de baixo para o percurso rumo à unidade dos cristãos. Estamos falando das duas guerras mundiais: na primeira, nas trincheiras, encontraram-se protestantes e católicos e outras confissões, e, na segunda, a ligação entre as várias pertenças foi reforçada, além das linhas de combate, também nos campos de prisão e de extermínio”.
Na conclusão do seu discurso, Kasper reconheceu no Espírito Santo a mão que está nos guiando pelo caminho do ecumenismo. “O impulso do Espírito é para a vergonha pela divisão: o que temos juntos é mais importante do que o que nos divide.”
O caminho rumo à unidade, de acordo com Kasper, foi tomado, mas certamente não é linear e desprovido de dificuldades: ele se assemelha mais a uma estradinha de montanha, de chão, repleta de reviravoltas e sem proteções, onde um buraco está sempre à espreita. Um exemplo: o sacerdócio universal: “Neste momento, não nos sentimos no direito de mudar”, foi o lapidar comentário de Kasper.
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O longo caminho rumo à unidade dos cristãos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU