09 Fevereiro 2017
" O lado mais absurdo em toda essa história é a manipulação de conceitos morais num mundo dominado por uma feroz concorrência entre empresas. Na verdade, nenhum empresa no mundo gosta de pagar propina. Só paga porque é condição para ganhar concorrência. E aí vale tudo. O patriarca Odebrecht me contou uma vez, numa rápida entrevista, que perdeu sua primeira concorrência internacional no Chile porque o presidente Reagan ligou diretamente para Pinochet e pediu a obra para uma empresa norte-americana. Simples assim", escreve J. Carlos de Assis economista, doutor pela Coppe/UFRJ.
Eis o artigo.
Tive notícias trágicas a respeito do processo de virtual dilapidação do patrimônio empresarial da Odebrecht no Brasil e no mundo. A maior empresa brasileira de construção, vítima da incompetência de um judiciário obcecado pela ideia de vingança e simplesmente ignorada em suas dificuldades pelo Governo brasileiro, perde sucessivos contratos no exterior, enfrenta tremendas dificuldades de crédito aqui e lá fora, suporta discriminações políticas e perde as condições mais elementares para estabelecer uma estratégia de superação da crise.
O número de trabalhadores, grande parte em postos de qualidade e com bons salários, vai-se reduzindo celeremente, enquanto os executivos intermediários, com diferentes áreas de especialização, e que representavam no passado a alma da criatividade empresarial da empresa, estão totalmente desorientados e sem iniciativa. A Odebrecht aos poucos vai-se esvaindo num processo de degradação inexorável. Trata-se do maior desastre da Engenharia Nacional de todos os tempos. E um desastre sem igual para a economia brasileira.
Trata-se de uma das maiores vitórias mundiais do capital financeiro especulativo. A destruição de um parque industrial do porte da Odebrecht abre amplos espaços para o capital vadio que lucra sem passar pelo sistema produtivo. Para o especulador profissional, a produção de bens e serviços é um embaraço, inclusive porque depende do trabalho humano. Bom mesmo é ficar num teclado de computador fazendo saltar dinheiro de um ponto a outro do mundo, e invariavelmente pousando-o no Brasil para sugar os maiores juros do planeta.
O juiz Moro e seus procuradores medíocres não sabem o que é economia nacional, que estão simplesmente destruindo. Na sua luta contra a corrupção poderiam ter visado a pessoas, empresários e executivos, mas preferiram atacar empresas, como se pessoas jurídicas tivessem a qualidade humana da virtude e do pecado. Fizeram o que nenhum sistema jurídico do mundo fez, ou seja, destruir um conjunto de empresas responsáveis pela geração de centenas de milhares de empregos e pela acumulação de conhecimentos de Engenharia sem paralelo no mundo, e com alta capacidade competitiva internacional.
A Odebrecht tem 80 anos. Levaremos mais 80 para reconstruí-la ou para construir uma grande empresa de engenharia de seu porte. Infelizmente, por cima da estupidez judicial, tivemos um Executivo acovardado que ficou intimidado em criar um plano de recuperação que ajudasse a empresa a sair da crise. Na verdade, por estimativas de alguns jornais, o Governo não está omisso apenas nisso. Mesmo com a assinatura de acordos de leniência, não há retomada de obras, e o prejuízo do que ficou parado já chega a R$ 50 bilhões.
O lado mais absurdo em toda essa história é a manipulação de conceitos morais num mundo dominado por uma feroz concorrência entre empresas. Na verdade, nenhum empresa no mundo gosta de pagar propina. Só paga porque é condição para ganhar concorrência. E aí vale tudo. O patriarca Odebrecht me contou uma vez, numa rápida entrevista, que perdeu sua primeira concorrência internacional no Chile porque o presidente Reagan ligou diretamente para Pinochet e pediu a obra para uma empresa norte-americana. Simples assim.
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A destruição por Moro da maior empresa brasileira de Construção - Instituto Humanitas Unisinos - IHU