21 Janeiro 2017
Durante duas semanas, Juan Manuel Santos e seus ministros ouviram as objeções dos líderes do Não. Agora reabriram o diálogo com a guerrilha. Ainda não se sabe se haverá um novo plebiscito, uma Constituinte ou um mecanismo parlamentar abreviado.
A reportagem é de Katalina Vásquez Guzmán, publicada por Página/12, 20-01-2017. A tradução é de André Langer.
Humberto de La Calle, chefe negociador do governo no convulsionado Processo de Paz, mostra-se agora sorridente junto ao chanceler das FARC, sentado à sua direita. Em uma sala cercada de palmeiras e vento, à esquerda aparece o Alto Comissário para a Paz, Sergio Jaramillo, ouvindo sussurros do assessor da guerrilha Alvaro Leyva, enquanto Iván Márquez acaricia a barba, e o ministro Juan Fernando Cristo e o senador Roy Barreras também sorriem olhando para Rafael Pardo, Alto Conselheiro para o Pós-conflito. Tudo reluz tranquilo na terceira reunião dos negociadores da paz em Havana que buscam alternativas para a crise provocada pela rejeição da maioria dos colombianos ao acordo de paz já assinado em Cartagena no dia 26 de setembro passado e submetido a consulta popular em 02 de outubro.
Do seu assento, o chanceler Rodrigo Granda ou Ricardo Téllez mostra um sorriso de orelha a orelha enquanto o ministro Pardo – ladeado por Jesus Santricha e Victoria Sandino, da FARC – dirige-se ao público com gestos afáveis como quem fala entre amigos. A fotografia, publicada na quinta-feira passada pelos serviços de imprensa da Presidência, poderia ser interpretada como uma demonstração de que as conversações para destravar este processo de paz estão progredindo. A imagem corresponde à terceira reunião entre governo e insurgência na qual se discutem as propostas daqueles que rejeitaram seu acordo final de paz.
Durante duas semanas, o presidente Santos e seus ministros, agora em Cuba, ouviram o Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente Alvaro Uribe, e outros políticos e líderes representantes do Não: Andrés Pastrana, Marta Lucía Ramírez e religiosos. Suas propostas, que segundo El Tiempo, seriam mais de 400 em suma, são conhecidas e discutidas desde o final de semana passado na sede do Diálogos de Paz que, esperava-se, terminariam com o ponto final entre governo e FARC, mas que agora foram reabertas para se obter um acordo mais includente.
Ainda não se sabe em que a guerrilha cederá e qual será a fórmula que o governo irá usar para implementar o novo acordo. Mas as boas caras fazem pensar que há confiança entre os negociadores de Havana, enquanto o otimismo e a exigência por um acordo imediato seguem crescendo nas ruas da Colômbia. De Bogotá, o líder do movimento Marcha Patriótica, David Flórez, disse ao Página/12 que “a vitória do Não demonstrou, além da dor que muitos sentimos, a emergência de fenômenos de apoio, em especial de jovens que querem um país em paz, que querem participar das decisões de seu país e que são a evidência de uma mudança nos valores políticos do país”. Para David, “todo este movimento cidadão tem que servir para legitimar a implementação do próximo acordo” e acrescenta que “cabe ao Presidente da República fazer valer o seu mandato e o apoio que tem da comunidade internacional para implementar o mais rápido possível os acordos, pois é pouco provável que todos os setores do Não se coloquem de acordo com o novo panorama político”.
Para esta semana estão programadas diversas manifestações de artistas, vítimas, acadêmicos e cidadãos em geral em praças públicas, assim como vigílias e orações em cadeia na Colômbia pela paz. As FARC, por sua vez, abriram pela primeira vez simultaneamente os seus acampamentos para que os religiosos, líderes sociais, meios de comunicação e qualquer pessoa da comunidade possam entrar e unir-se aos guerrilheiros para pedir, em uníssono, que tudo termine bem antes do término deste ano e que definitivamente se silenciem os fuzis entre as FARC e o Estado, conseguindo integrar à democracia os combatentes que agora desejam formar um partido político. Com um acordo próximo e uma saída jurídica nova que permita implementá-lo poder-se-á dar início às transformações que a Colômbia requer para alcançar a paz, que foram negociados em Havana durante quatro anos pautados em cinco pontos: terras, cultivos ilícitos, fim do conflito, vítimas (justiça, verdade, reparação) e participação política.
“No caso de haver a necessidade de perguntar novamente aos milhões de colombianos, pois que se pergunte aos milhões de colombianos diretamente nas urnas”, disse o senador Roy Barreras dias antes de partir para Havana. Não se sabe ainda se Santos irá optar por um novo plebiscito, uma Assembleia Nacional Constituinte, como propuseram as FARC desde o início dos diálogos, ou então se se conseguirá em um curto prazo a vênia de um setor majoritário do Não para tramitar as leis necessárias no Congresso por meio do chamado “fast track”, um mecanismo que reduz os debates e leva ao voto direto dos congressistas para aprovar ou rejeitar as diferentes reformas de lei e novas leis que serão necessárias para inserir na democracia os milhares de combatentes das FARC, entre elas a lei de anistia geral e indulto.
Na tarde da última quinta-feira, o comandante das FARC Timochenko assegurou em seu Twitter que estão “próximo de definir um acordo que recolhe as inquietações das pessoas comuns: abstencionistas, do Não e do Sim determinante”. Por sua vez, Pablo Catatumbo, do secretariado dessa guerrilha, também presente em Havana, disse que esta é uma semana definitiva para a paz. “Trabalharemos em torno deste objetivo maior. A Colômbia inteira será beneficiada”, tuitou o comandante, um dos mais antigos negociadores na Mesa de Conversações, que segue em pé com a esperança de mudar o trágico rumo da Colômbia.
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Encontro em Havana para salvar a paz na Colômbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU