10 Janeiro 2017
O responsável pela condução de uma investigação sobre a Ordem de Malta disse que o Vaticano tem autoridade para investigar o desligamento de um cavaleiro sênior por ser ela uma ordem religiosa, desafiando a afirmação de que a Santa Sé não possui o direito de interferir, dado que os Cavaleiros constituem uma entidade soberana.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 09-01-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em carta vista pelo The Tablet, Dom Silvano Tomasi explica que o desligamento de Albrecht von Boeselager como Grande Chanceler se deu com base na “recusa de obediência” na qualidade de religioso e, portanto, está sob a competência do Vaticano.
Os Cavaleiros de Malta, ordem que remonta ao século XI, são uma entidade soberana com relações diplomáticas com mais de 100 países e que conta com um alto grau de autonomia. Ao mesmo tempo, seus líderes são também religiosos professos que prometem obediência ao papa.
Mas o Grão-Mestre da Ordem, Matthew Festing, disse que uma investigação papal no caso não se justificava, enquanto John Critien, o Grande Chanceler, escreveu aos Cavaleiros dizendo-lhes que não podem colaborar com o processo por causa da sua “irrelevância judicial”.
Em carta a Critien, no entanto, Tomasi diz que essa declaração é imprecisa, perturbou profundamente certos membros da Ordem e está em contradição direta com o desejo de Francisco de uma unidade e reconciliação entre os Cavaleiros.
“No que diz respeito ao desligamento do Grande Chanceler da Ordem, o problema não é a soberania da Ordem, mas a alegação razoável de procedimentos questionáveis e da falta de causa válida provada para a ação tomada, como levantada pela parte interessada”, escreve Tomasi, acrescentando que o papa e a Santa Sé nunca pediram que Boeselager fosse desligado.
O Cavaleiro alemão foi afastado no mês passado pelo Grão-Mestre na presença de um destacado crítico do Papa Francisco, o Cardeal Raymond Burke, patrono da Ordem, no contexto de uma discussão sobre a distribuição de camisinhas.
Durante o encontro, o Grão-Mestre ordenou que Boeselager se retirasse – dando a entender que este era o desejo da Santa Sé. Mas diante da recusa, o Grão-Mestre o despediu e em seguida o suspendeu da Ordem com base na quebra do voto de obediência religiosa.
Tomasi explica que tendo sido a “recusa de obediência” o fundamento para o desligamento, são necessários “superiores religiosos” para esclarecer o procedimento.
A investigação junto à Ordem de Malta está em curso e espera-se que seja concluída no final deste mês.
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Vaticano insiste ter autoridade para investigar Ordem de Malta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU