Por: Cesar Sanson | 01 Agosto 2016
As manifestações deste domingo 31, a favor e contra a saída definitiva de Dilma Rousseff, reuniram milhares de pessoas em ao menos 25 cidades brasileiras. Apesar da capilaridade, os atos visivelmente perderam adesão em relação aos protestos de abril, ocorridos às vésperas da votação da admissibilidade do impeachment pela Câmara dos Deputados.
A reportagem é publicada por CartaCapital, 31-07-2016.
O julgamento final do impeachment deve começar em 29 de agosto e durar uma semana, informou o Supremo Tribunal Federal no sábado 30, por meio de nota. O calendário foi acertado entre os presidentes da Corte, Ricardo Lewandowski, e do Senado, Renan Calheiros (PMDB).
Dilma e Lula são os alvos da direita
Em São Paulo, os opositores de Dilma concentraram-se em frente ao prédio da Fiesp, na Avenida Paulista. O Movimento Brasil Livre (MBL), que chegou a convocar o ato deste domingo, desistiu de participar. Ao justificar a ausência, o grupo afirmou que prepara uma mobilização maior mais próxima da data de votação do impeachment pelo Senado.
O protesto acabou puxado por outros grupos, como o Vem pra Rua e o Movimento Contra a Corrupção (MCC). Este último exige a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva, recém-convertido em réu da Lava Jato, pela suposta tentativa de comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró. Os simpatizantes de uma intervenção militar fizeram-se presentes com um boneco inflável gigante, a representar um soldado do Exército.
Movimentos sociais unem-se no coro “Fora, Temer”
No Largo da Batata, zona oeste de São Paulo, a Frente Povo Sem Medo promoveu um ato contra o impeachment de Dilma, entendido pelos participantes como um golpe de Estado. Por volta das 16h, os manifestantes saíram em caminhada na direção da Praça Panamericana, local próximo à casa do presidente interino Michel Temer.
O lema escolhido para o ato foi: “Fora Temer! O povo deve decidir! Defender nossos direitos, radicalizar a democracia!”. De acordo com a Frente Povo Sem Medo, a reunir mais de 30 organizações sociais, sindicais e estudantis, “não precisou nem dois meses para que as máscaras caíssem e as razões do golpe fossem expostas em praça pública”, ao relembrar a queda de três ministros de Temer em um mês de gestão interina.
Representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos afirma que o ato tem três frentes: a destituição de Temer, a defesa dos direitos sociais e o direito de o povo decidir os rumos do país. “O Congresso não tem autoridade, não tem credibilidade para definir os rumos do País, para definir a saída política para essa crise, então entendemos que o povo deve ser chamado a decidir”.
Boulos avalia que a proposta de um plebiscito para a antecipação de eleições seria uma alternativa, não apenas para a questão do impeachment, mas para impulsionar a reforma política. De acordo com integrantes da mobilização, uma profunda reforma política é necessária porque o sistema político brasileiro faliu e perdeu qualquer vínculo de representação efetiva com a maior parte da sociedade.
Brasília e Rio de Janeiro
Na capital da República, cerca de 5 mil pessoas compareceram à Esplanada dos Ministérios para pedir o impeachment de Dilma Rousseff, segundo estimativas da Polícia Militar. Os manifestantes também expressaram apoio ao juiz Sergio Moro e à Lava Jato, além de pedir o fim do foro privilegiado e protestaram contra a corrupção. Evitaram, porém, menções aos integrantes e aliados do governo Temer, vários deles investigados por desvios na Petrobras.
A estimativa é bem menor que a dos organizadores do protesto: 10 mil participantes. Os manifestantes concentraram-se, inicialmente, ao lado do Museu da República. De lá, marcharam para a frente do Congresso Nacional. “Viemos reforçar que a nossa luta não parou”, enfatizou Ricardo Noronha, um dos integrantes do Movimento Limpa Brasil.
Do outro lado da cidade, movimentos favoráveis à presidente afastada realizaram uma panfletagem contrária ao processo de impeachment. Uma tenda foi montada na ponta da Asa Norte, no eixo central, principal via que cruza Brasília de norte a sul, e aberta para os pedestres aos domingos.
No Rio de Janeiro, manifestantes fizeram um ato na Praia de Copacabana, contra a corrupção e em apoio à Lava Jato. Vestidos de verde e amarelo, alguns com os rostos pintados, os ativistas se concentraram na altura do Posto 5 e tiveram o apoio de dois caminhões de som. O alvo principal dos manifestantes foi a presidenta afastada, Dilma Rousseff, mas sobraram críticas também ao governo do presidente interino, Michel Temer.
A Polícia Militar fluminense, como de hábito, não informou o número de manifestantes. “O povo quer o afastamento definitivo da Dilma. O atual governo está menos pior. Não temos saúde, não temos educação nem segurança pública. Também não temos emprego, são mais de 12 milhões de desempregados”, disse o comerciante Fernando Ribeiro, enquanto portava um cartaz em inglês, para chamar a atenção dos estrangeiros.
Belo Horizonte e Salvador
Após alguns meses sem grandes manifestações em Belo Horizonte, movimentos contrários e favoráveis ao impeachment de Dilma voltaram a ocupar as ruas da cidade. As mobilizações foram, porém, bem mais modestas do que os protestos anteriores.
O ato a favor do impeachment, iniciado na Praça da Liberdade, às 10h, foi liderado pelos movimentos Vem pra Rua e Patriotas. O Movimento Brasil Livre (MBL), que também defende o afastamento definitivo de Dilma Rousseff, não participou dessa vez.
O governador Fernando Pimentel também tornou-se alvo dos manifestantes de verde e amarelo. Eles organizaram um varal com fotos de todos os deputados estaduais que não assinaram na Assembleia Legislativa de Minas Gerais um pedido de CPI contra o gestor.
Em Salvador, os manifestantes pró-impeachment reuniram-se no Farol da Barra. Acompanhados por um trio elétrico, cerca de 500 manifestantes seguravam faixas e cartazes em apoio ao juiz federal Sérgio Moro, em defesa do projeto Escola sem Partido, e até mesmo pela intervenção militar. A estimativa foi divulgada pela Polícia Militar da Bahia.
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Protestos pró e contra impeachment reúnem milhares, mas perdem adesão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU