21 Julho 2016
A Bispa Karen Oliveto sentiu-se chamada para o ministério na Igreja Metodista Unida dos EUA quando tinha 11 anos de idade.
Mas durante anos Oliveto se recusou a ter o seu nome lançado para o cargo de bispo, pois “não queria prejudicar a igreja”, declarou.
Isso porque ela, pastora na comunidade Glide Memorial, em San Francisco, é lésbica, e porque a segunda maior denominação protestante dos EUA proíbe a ordenação de “homossexuais praticantes autodeclarados”.
A reportagem é de Emily McFarlan Miller, publicada por Religion News Service, 20-07-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Mas em maio deste ano isso mudou, quando o encontro quadrienal mundial da denominação votou para adiar o debate a respeito de sua inclusão de membros LGBTs e, em seu lugar, optou por criar uma comissão voltada ao tema da sexualidade que irá conduzir a uma sessão especial sobre o asunto.
Com tal decisão, disse Oliveto, “algo se abriu em mim”.
“Eu percebi que a pessoa quem eu sou – se eu possuo os dons e as graças para o episcopado – poderia ser um presente para a igreja neste momento”, disse ela.
Esta percepção foi confirmada na manhã em que ela se reuniu com apoiadores de sua candidatura para o bispado. Era a mesma manhã em que correu a notícia do massacre em Orlando, na Flórida, que teve como alvo a comunidade LGBT.
“Este é o momento”, pensou Oliveto.
A indicação para o episcopado se confirmou quando o seu nome foi apoiado pela conferência anual metodista local de onde reside.
E quando Oliveto foi consagrada como a primeira bispa abertamente LGBT da Igreja Metodista Unida, no sábado, 16 de julho, um dia depois ela foi eleita na 17ª votação ocorrida na Conferência Jurisdicional da denominação, em Scottsdale, Arizona.
Mas nem todos os metodistas unidos estão, por sua vez, unidos em apoio à nova bispa.
O Institute on Religion & Democracy e o Good News, grupos nos EUA que se intitulam defensores do cristianismo “ortodoxo”, disseram que esta decisão é um passo em direção ao cisma dentro da denominação. Já a Conferência Jurisdicional centro-sul da igreja pediu uma decisão declaratória por parte de seu Conselho Judicial sobre se a eleição e a consagração de uma bispa abertamente LGBT são atos lícitos.
Pelo menos 26 clérigos metodistas unidos receberam queixas ou foram processados por oficializarem casamentos de pessoas do mesmo sexo ou por identificarem-se como LGBTs, segundo o sítio eletrônico da organização Reconciling Ministries.
O Conselho dos Bispos da Igreja Metodista Unida, reunido esta semana em Chicago, está “monitorando de perto a situação”, declarou em nota o bispo presidente Bruce Ough após a eleição de sábado. Enquanto isso, o citado conselho vai continuar o trabalho de formar uma comissão para discutir a questão da sexualidade na igreja.
Oliveto falou que esta sua eleição não desfaz a decisão da denominação de criar uma tal comissão. Segundo ela, essa eleição é um “presente” para a comissão.
“A igreja esquece que somos pessoas em púlpitos e nos bancos de cada uma das comunidades eclesiais da Igreja Metodista Unida”, disse ela. “Ao colocar-me por inteira neste diálogo, o diálogo se transforma. Temos de aprender a estar em relação uns com os outros, e não podemos objetificar uns aos outros tampouco as nossas diferenças”.
Segundo Oliveto, o retorno que vem recebendo desde a sua eleição tem sido “nada menos do que um dilúvio de e-mails maravilhosamente amorosos de todo o mundo; são pessoas que me contam suas histórias; pessoas me agradecendo porque agora elas se veem indo à igreja; são relatos de pessoas que conseguiram superar algumas dificuldades por causa do abuso que receberam da igreja.
“Acho que a minha eleição está ajudando a igreja a perceber que nenhum filho de Deus deve ser deixado para trás”.
Oliveto, hoje com 58 anos, nasceu numa Sexta-Feira Santa e cresceu numa cidade chamada Babilônia, no estado de Nova York. “Isso é sério”, diz ela, apontando para este começo auspicioso para um líder religioso.
Oliveto pregou o seu primeiro sermão aos 16 anos na Babylon United Methodist Church, comunidade que, segundo informou, estava comprometida com os jovens e a qual confirmou o seu chamado precoce. Por isso, foi “realmente chocante” perceber que este apoio e aquele chamado ao ministério poderiam ser tirados dela após se assumir como lésbica nos anos de seminário.
No entanto, disse ela: “A minha espiritualidade é tão wesleyana, a minha teologia é tão wesleyana, que não tem outro lugar para eu ir: sou feita para ser uma metodista unida”.
Ela encontrou a sua esposa, Robin Ridenour – enfermeira anestesista e diaconisa na igreja –, há 17 anos num acampamento onde as duas estavam prestando assessoria. Dois anos atrás elas se casaram.
Oliveto primeiro se tornou pastora da Bloomville United Methodist Church, comunidade na pequena Bloomville, Nova York, em seguida atuou como ministra no campus da San Francisco State University. Ela se assumiu lésbica na comunidade religiosa em que frequentava aqui – a Bethany United Methodist Church –, muito tempo antes de a Igreja lhe pedir para conduzir a congregação.
Desde então ela vive na região da Califórnia, onde se tornou pastora da comunidade Glide em 2008. É também membro do Conselho Geral para as Finanças e Administração da denominação.
Agora, como bispa da Região Mountain Sky da Igreja Metodista Unida, Oliveto está “ansiosa a ajudar a sermos uma igreja ousada, que seja um agente do amor transformador de Deus em cada comunidade em que exista uma igreja”.
“As pessoas deveriam poder olhar para as suas comunidades religiosas em suas cidades, localidades e dizer: ‘Somos um lugar melhor porque esta igreja está aqui’. Portanto eu estou ansiosa em ajudar o clero e os leigos a fazer isso em suas comunidades em toda essa região”.
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Primeira bispa a Igreja Metodista Unida abertamente LGBT: “Este é o momento” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU