Por: André | 30 Junho 2016
“Nós, católicos e ortodoxos, temos a comum responsabilidade com os mais necessitados”. O Papa Francisco recebeu uma delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, que se encontra em Roma, como anualmente acontece, pela festividade dos Santos Pedro e Paulo. Recordou a recente viagem que fez com Bartolomeu à ilha de Lesbos, com a qual pretendiam expressar sua proximidade com os refugiados.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 28-06-2016. A tradução é de André Langer.
O próprio Patriarca Bartolomeu, poucos dias depois do término do Concílio ortodoxo de Creta, recordou a viagem em uma carta enviada ao Papa, na qual destacou que “a crise contemporânea dos refugiados e dos migrantes demonstrou a necessidade para as nações europeias de enfrentar este problema com base nos antigos valores cristãos da fraternidade e da justiça social”. O Papa, após ter presidido uma eucaristia pelos 65 anos da ordenação sacerdotal de Bento XVI, recebeu a delegação ortodoxa.
“Dou graças ao Senhor porque, em abril, me deu a oportunidade de encontrar o amado irmão Bartolomeu, quando, em companhia do arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, Sua Beatitude Ieronymos II, nos dirigimos à ilha de Lesbos para visitar os refugiados e os migrantes”, disse o Papa Francisco a Methodios, metropolita de Boston, que estava acompanhado do arcebispo Job de Telmessos e do diácono patriarcal Nephon Tsimalis.
“Ver o desespero no rosto de homens, mulheres e crianças que não sabem seu destino, ouvir impotentes o relato de suas desventuras e nos deter em oração às margens daquele mar que devorou a vida de tantos seres humanos inocentes foi uma experiência muito comovente, que confirmou o quanto ainda há por fazer para garantir dignidade e justiça a tantos irmãos e irmãs. Uma grande consolação, nesses momentos tão tristes, foi a intensa proximidade humana e espiritual que experimentei com o Patriarca Bartolomeu e o arcebispo Jerônimo”.
“Guiados pelo Espírito Santo – disse Francisco –, estamos tomando cada vez mais consciência de que nós, católicos e ortodoxos, temos uma responsabilidade comum com os mais necessitados, em obediência ao único Evangelho de Jesus Cristo Nosso Senhor. Assumir juntos esta responsabilidade é um dever que toca a credibilidade própria do nosso ser cristão. Por isso, encorajo toda forma de colaboração entre católicos e ortodoxos em atividades concretas a serviço da humanidade sofredora”.
“Seguindo o exemplo dos Apóstolos Pedro e Paulo, e dos outros Apóstolos, a Igreja, formada por homens pecadores mas redimidos mediante o Batismo, continuou ao longo da história a proclamar o mesmo anúncio da misericórdia divina”, disse o Papa recordando o atual Jubileu da Misericórdia. “Existem, desde os primeiros séculos, muitas diferenças entre a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla no âmbito litúrgico, nas disciplinas eclesiásticas e também na maneira de formular a única verdade revelada. No entanto, na base de todas estas formas concretas que nossas Igrejas assumiram ao longo do tempo, sempre está a mesma experiência do amor infinito de Deus por nossa pequenez e fragilidade, e a mesma vocação de ser testemunhas de tal amor para todos”.
“Reconhecer – prosseguiu o Papa – que a experiência da misericórdia de Deus é o vínculo que nos une, implica que devemos fazer que a misericórdia se torne sempre mais o critério das nossas relações recíprocas. Se, como católicos e ortodoxos, queremos proclamar juntos as maravilhas da misericórdia de Deus ao mundo inteiro não podemos conservar entre nós sentimentos e atitudes de rivalidade, de desconfiança, de rancor. A própria misericórdia nos liberta do peso de um passado marcado por conflitos e nos permite de nos abrir ao futuro rumo ao qual o Espírito Santo nos guia”.
Renovando também seu apreço pelos passos dados no diálogo teológico e sua alegria pela nova reunião da Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa, Francisco assegurou que acompanhou com a oração o Concílio Pan-ortodoxo, em Creta, com o desejo de que o Espírito Santo faça brotar deste evento abundantes frutos pelo bem da Igreja.
Em uma carta enviada através da delegação ao Papa Francisco, e publicada hoje pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o Patriarca Bartolomeu recordou também a visita conjunta a Lesbos, destacando que ambas as Igrejas (católica e ortodoxa) “escutam o pranto dos que estão cansados e são oprimidos, das vítimas da violência e do fanatismo, da discriminação e da perseguição, da injustiça social e da pobreza e da fome”.
Bartolomeu escreveu que “a crise contemporânea dos refugiados e dos migrantes demonstrou a necessidade para as nações europeias de enfrentar este problema com base nos antigos valores cristãos da fraternidade e da justiça social. Reconhecemos que a civilização europeia não pode ser compreendida sem referências às suas raízes cristãs e que seu futuro não pode ser uma sociedade completamente secularizada ou sujeita ao economicismo e às diferentes formas de fundamentalismo. A cultura da solidariedade alimentada pelo cristianismo não é preservada pelo progresso dos padrões de vida, pela internet e pela globalização”.
Bartolomeu também agradeceu ao Papa pela encíclica Laudato Si’, fortemente em sintonia com as iniciativas ecológicas do Patriarcado e são sua insistência nas “raízes espirituais e morais” da crise ecológica. O Patriarca, ao final, referiu-se ao Concílio de Creta, pedindo ao Papa, “Sua Santidade e querido irmão”, para que reze para que suas deliberações deem frutos.
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O Papa: com os ortodoxos estamos perto dos últimos, como em Lesbos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU