Por: Cesar Sanson | 09 Junho 2016
Com os pedidos de prisão do procurador-geral Rodrigo Janot ao STF vazados na terça-feira, o ataque da Lava Jato a medalhões políticos do porte do ex-presidente José Sarney e do presidente do Senado, Renan Calheiros, cria incômodo na oligarquia política do país. Mas, segundo os analistas, não chega a abalar suas arraigadas estruturas. Aqueles que detêm o poder renovam suas cúpulas de tempos em tempos, mas não mudam a mentalidade coronelista que os caracteriza – e que tão distante está das ruas e das necessidades reais do país.
A reportagem é de Camila Moraes e publicada por El País, 08-06-2016.
A opinião é da socióloga Fátima Pacheco Jordão, para quem, sobre o mesmo tabuleiro, “os políticos tradicionais brasileiros jogam xadrez, enquanto a população joga dama”. Os primeiros são frequentemente os corruptos que dão golpes no peito ao dizer que combatem a corrupção. Do outro lado, estão “as pessoas comuns, que ocupam as ruas do país desde junho de 2013, exigindo demandas básicas que a classe política simplesmente não ouve e das quais não fala”, afirma a fundadora e conselheira do Instituto Patrícia Galvão.
Para a especialista, “menos de um terço da população acompanha a política partidária” e entende o raio de uma operação judicial como a Lava Jato, ainda que celebrem seu movimento anticorrupção. "O problema é que os problemas continuam", já que figuras como Sarney, Renan e companhia “não conseguem entender como uma diferença de vinte centavos pode resultar em passeatas de um milhão”, acredita.
Ainda que o processo desperte ânsias por mudança, o cientista político Pedro Floriano Ribeiro alerta, contudo, para o fato de que “renovação não é necessariamente algo virtuoso”: “Os índices de renovação do Congresso não são baixos, e nas últimas duas décadas tivemos uma transformação no perfil dos parlamentares, de uma fisionomia mais bacharelesca para outra mais popular. “Um deputado pastor e que defende posturas retrógradas, por exemplo, é representante de setores populares do eleitorado”, explica o professor da Universidade Federal de São Carlos, que atua como professor visitante na Universidade de Cambridge.
Fátima explica que, desde os anos 90, o país vê funcionar um Código de Defesa do Consumidor que educou os brasileiros a exigir direitos do cliente e que avançou mais do que a compreensão do Estado sobre os direitos do cidadão. “A população sabe muito bem o que quer, porque aprendeu com o próprio mercado que o que é pago tem que ter retorno. Quem paga impostos e quer ter suas necessidades básicas atendidas”, diz.
O cenário é de anomia, em que as referências estão perdidas, e as regras, a depender do ponto de vista, se tornam elásticas. A política tradicional transmite “apenas decepção e falta de credibilidade”. “Por isso, novas lideranças de direita que ligam seus carros de som na Avenida Paulista são aplaudidas. O discurso que apresentam é de organização, mas o que as pessoas não percebem é que, atrás dele, há um quadro de trevas, um apelo ao autoritarismo”, finaliza.
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“Políticos jogam xadrez, enquanto o povo joga dama” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU