Por: Jonas | 08 Junho 2016
O braço australiano de PETA, uma organização que promove os direitos dos animais, enviou ao cardeal Pell um “pacote de iniciação” ao veganismo – que contém receitas livres de carne e produtos lácteos, dicas para encontrar restaurantes e outras sugestões para uma vida saudável –, após, recentemente, Pell ser fotografado desfrutando uma comida pesada em um restaurante romano.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 31-05-2016. A tradução é do Cepat.
Em fevereiro deste ano, Pell alegou que correria um grave risco de sofrer uma parada cardíaca, caso fosse forçado a regressar de avião a Austrália para comparecer pessoalmente, diante da Comissão Real, para uma Resposta Institucional ao Abuso Sexual de Menores.
O atual Prefeito da Secretaria de Economia da Santa Sé havia sido chamado para depor na Comissão, para responder as acusações de que, como padre da diocese de Ballarat e depois como bispo, em Melbourne e Sydney, não havia feito o suficiente para afastar os padres pedófilos da Igreja e proteger as crianças sob a responsabilidade desta.
Apenas seis semanas após dar seu depoimento por videoconferência, não obstante – no dia 18 de abril –, Pell foi flagrado em uma comilança de carne, batatas fritas e cerveja no restaurante Caffe Domiziano, na Praça Navona.
A carta enviada a Pell por PETA, junto com o pacote de iniciação, ironizava que o prelado havia “sucumbido à tentação da carne” e que necessitava que lhe fosse realizada uma “intervenção bovina”.
Após advertir sobre os riscos de uma dieta exageradamente carnívora, o grupo pró-animais manifestou seu desejo, expressado “de todo o seu coração sadio e vegetariano”, que Pell “comece a comer do jardim do Edén” para que “desfrute de boa saúde a próxima vez que seja preciso voar a Austrália”.
O presente irônico de PETA a Pell surge justamente após uma canção estreada em fevereiro deste ano, que protesta contra a atitude obstrucionista de Pell, chegar a um milhão e meio de visitas no YouTube.
O humorista australiano Tim Minchin escreveu o tema Come Home Cardinal Pell (“Volte para casa cardeal Pell”) com a finalidade de custear as viagens a Roma de alguns sobreviventes de abusos, em Ballarat, para assistir Pell responder as perguntas da Comissão Real. Come Home logo superou as expectativas do próprio Minchin, ao arrecadar 25.000 dólares, poucos dias após sua apresentação e chegar a ser o número um da lista iTunes da Austrália.
Fonte: http://goo.gl/Fza8aJ |
A sátira nada sutil de PETA e Minchin – que, em sua canção Come Home, chama Pell de “escória”, “palhaço pomposo” e “covarde maldito”, por não ter retornado a Austrália para enfrentar pessoalmente os sobreviventes de abusos – é uma prova a mais de que Pell perdeu muita credibilidade em seu país natal.
Em inícios de maio, o conhecido romancista australiano Thomas Keneally, que escreveu o livro que se tornou A Lista de Schindler, assinou um artigo de opinião na influente publicação The Australian Women’s Weekly, qualificando Pell como uma “catástrofe” e o “pior inimigo” de sua própria Igreja.
Muriel Porter – uma proeminente jornalista e líder leiga do Sínodo Geral da Igreja Anglicana da Austrália – também sustentou, recentemente, que as ações pouco cooperadoras de figuras de importância na Igreja australiana, como o cardeal Pell, contribuíram diretamente para um descenso de 6% no número de australianos que vão à missa, em apenas cinco anos.
Ainda que o Papa Francisco acabe de confirmar que Pell continuará como “ministro da Economia” do Vaticano até pelo menos 2019, está claro que ainda restam dúvidas sobre a gestão do cardeal a respeito da crise de abusos na Austrália. Em fins de abril, por exemplo, quatro administradores da Oficina de Educação Católica de Melbourne – que foram representados na Comissão Real por advogados da Arquidiocese de Melbourne – contradisseram o relato de Pell a respeito do motivo pelo qual um padre depredador em particular, Peter Searson, não foi afastado antes de seu posto como pároco de Doveton, no sul de Melbourne.
Pell, no depoimento que prestou à Comissão, em março, havia dito que a administração em Melbourne nunca lhe informou sobre a “situação” de Searson – um ponto diretamente refutado por Peter Annett, um antigo supervisor da Oficina. “Nossa prioridade número um na Oficina de Educação Católica ... [foi] a destituição de Searson em Doveton”, explicou Annett à Comissão –, algo que não ocorreu, na realidade, até dez anos após Pell chegar a Melbourne, como bispo auxiliar para o sul da cidade.
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Flagram o cardeal Pell sucumbindo à “tentação da carne” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU