Aqueles 25 minutos de Francisco com Angela Merkel

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

09 Mai 2016

Antes da audiência privada com Francisco, nessa sexta-feira, Angela Merkel se apresentou às 9h30 em São Pedro para participar da missa celebrada no altar da cátedra pelo cardeal Walter Kasper. Ela não era a única protestante a participar dentre aqueles que, em poucas horas, participariam da cerimônia de apresentação do Prêmio Carlos Magno.

A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 07-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O Papa Francisco, em tom de brincadeira, dizia aos jornalistas, tempos atrás, que ele finalmente tinha aceito o prêmio, logo ele, que geralmente declina todo reconhecimento, pela "santa e teológica obstinação do cardeal Kasper", que tinha atuado como mensageiro.

Em Aachen, assim como em Berlim, eles estavam esperando. A chanceler, depois de voltar para a pátria, falou de "uma mensagem clara e encorajadora" de Francisco: "Ele nos exortou a ter em mente três coisas: a capacidade de diálogo, de integração e de fazer alguma coisa. Eu acho que fazer alguma coisa é a tarefa atribuída a nós: agir para manter a Europa coesa".

Integração, futuro da Europa, 25 minutos de conversa

Na Santa Sé, não foram publicadas notas oficiais, o encontro era privado. Mas, no Vaticano, confirma-se um clima "particularmente cordial". Quando, no fim, o papa presenteou-lhe um medalhão com o Anjo da Paz, Merkel comentou: "Hoje, na Europa, temos muita necessidade dele".

A sintonia entre o papa e a chanceler nasce de uma preocupação comum. Não é segredo que a Igreja Católica não gostou do entendimento entre a União Europeia e a Turquia para mandar os migrantes de volta. Francisco tinha dito isso quando a Hungria, no ano passado, levantou o arame farpado: "Os muros caem, todos. O problema permanece, mas permanece com mais ódio". E repetiu isso no mês passado, retornando de Lesbos: "Não resolve nada, um muro. Não é uma solução. Devemos fazer pontes, mas as pontes devem ser feitas de modo inteligente, com a integração e o diálogo".

Francisco aprecia o esforço da Alemanha, como  da Itália, de não olhar para o outro lado. Mas o fato, explicam no Vaticano, é que "esse não pode ser o problema de um país só. Nem a Alemanha nem a Itália podem fazer isso sozinhas".

O papa aceitou o prêmio, justamente porque a Europa não pode virar as costas e se isolar. A União Europeia se tornou "louvavelmente mais ampla", mas não deve se afastar do "projeto arquitetado pelos Pais", sob o risco do seu fim.

Merkel acompanhava absorta o discurso, enquanto Francisco citava os "fundadores" da Europa e, em particular, o seu grande antecessor: "Sem capacidade de integração, as palavras pronunciadas por Konrad Adenauer no passado ressoarão hoje como profecia de futuro: 'O futuro do Ocidente não está tão ameaçado pela tensão política, mas sim pelo perigo da massificação, da uniformidade do pensamento e do sentimento; em suma, de todo o sistema de vida, da fuga da responsabilidade, com a única preocupação com o próprio eu'".