25 Abril 2016
Desde a fatídica goleada de 7 a 1 que o Brasil levou da Alemanha, o país deixou para trás o rótulo do país do futebol. O que não se poderia imaginar é que, no lugar da bola, a política entraria no jogo. No último domingo, quando a Câmara dos Deputados aprovou o pedido de impeachment de Dilma por 367 a 137, a movimentação nas redes sociais com posts sobre o tema bateu um recorde no Brasil.
A reportagem é de Marina Rossi, publicada por El País, 24-04-2016.
Estava em jogo o futuro do país e apesar das pesquisas mostrarem que havia uma maioria apoiando o impeachment da presidenta, nas redes sociais as manifestações contrárias à sua saída ganharam fôlego nas últimas semanas. Com esse cenário polarizado, esperava-se que as menções prós ou contra a saída de Dilma Rousseff prevalecessem. Porém, a aparição dos deputados e os seus discursos antes de votar no plenário chocou os brasileiros, que reagiram instantaneamente nas redes. A imagem ao lado mostra essa movimentação. Há cinco grupos: o lilás, o verde e amarelo, representando a indignação contra os parlamentares da Câmara, o azul, que é a rede da audiência a favor do impeachment, e o vermelho, dos usuários contra o impedimento. A imagem foi produzida por Fabio Malini, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
A partir dela, é possível ver que a polarização ficou em segundo plano e deu espaço para as críticas generalizadas à Câmara de maneira geral. O post com a marca impeachmentday que mais foi retuitado do dia, com mais de 7.000 publicações, não pedia a saída e nem a permanência de Dilma Rousseff na presidência. Mas listava, ironicamente, os argumentos dos deputados:
“As redes políticas, antes dominadas por uma polarização entre os favoráveis e os contrários ao impedimento da presidenta Dilma, foram rompidas por uma saraivada de críticas ao sistema político brasileiro no Twitter”, diz Fabio Malini. Foram centenas de memes, mensagens reprovando a classe política e piadas a partir dos discursos dos políticos.
Segundo o levantamento de Malini, foram registrados 3,5 milhões de tuítes que continham um dos termos: impeachment ou impeachmentday. “Nem na Copa do Mudo houve essa quantidade de usuários, em língua portuguesa, tuitando num mesmo dia”, observa.
Ao dedicar seu voto a Deus, à família, aos filhos ou às noras, os parlamentares conseguiram a união da sociedade em torno de um mesmo ponto: a crítica e a indignação com o atual Congresso. A pedido do EL PAÍS, a equipe do Monitor de Temas, ferramenta desenvolvida pela Diretoria de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, fez um levantamento sobre a audiência e os assuntos mais abordados no Dia D de Dilma. Entre o meio dia de domingo e a mesma hora da segunda-feira, levantaram quase três milhões de menções relacionadas ao impeachment e na maioria deles, o nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se sobressaía. Em seguida, Dilma, Temer, golpe e impeachmentday apareceram entre as maiores quantidades de publicações.
Levantamento feio pelo Monitor de Temas mostra as palavras mais usadas pelos deputados na votação do impeachment de Dilma Rousseff em 17.04. Imagem publicada por El País.
De acordo com as interpretações dos técnicos da FGV, a nuvem de palavras aponta para um equilíbrio entre os que são a favor e os que são contra o impeachment nas redes. A rejeição a Eduardo Cunha, porém, foi uma constante.
Já nas redes sociais, "Cunha" foi a palavra mais mencionada no dia. Imagem publicada por El País.
No plenário, povo, Estado, família, Deus e democracia foram as palavras mais citadas pelos políticos que votaram contra ou a favor do impeachment da presidenta. Esse levantamento é capaz de dar uma ideia dos argumentos usados pelos parlamentares para justificarem seus votos.
Ainda não é possível saber se os senadores farão as mesmas homenagens que os deputados na hora de proferir o voto, e se causarão a mesma vergonha alheia que seus colegas na Câmara. Mas eles devem passar por um escrutínio nas redes sociais da mesma maneira. A começar pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, alvo de nove inquéritos no Supremo, fruto das investigações da Lava Jato.
A favor do impeachment, o senador Agripino Maia, por exemplo, teve quebrado o sigilo fiscal e bancário na última sexta, a pedido do Supremo. A Justiça investiga o envolvimento dele, que é presidente do Democratas, em um esquema de lavagem de dinheiro na construção do estádio das Dunas, em Natal, capital do seu Estado, para a Copa de 2014. O senador Zeze Perrella (PTB), que na semana passada fez um alerta no plenário pedindo agilidade do processo de impedimento da presidenta, até hoje não se explicou sobre o episódio da apreensão de um helicóptero de sua família que foi encontrado em 2013 com 450 quilos de cocaína a bordo.
Já do lado dos políticos contra o impeachment, estão, por exemplo, os senadores Humberto Costa e Gleisi Hoffmann, ambos do PT, aparecem em delações de investigados na Operação Lava Jato como eventuais receptores de propina. Dificilmente a internet se esquecerá desses episódios quando eles estiverem na tribuna.
A única previsão, por ora, é de um placar. Assim como na Câmara, o pedido de impeachment de Dilma Rousseff passa agora por uma comissão no Senado para analisá-lo. Se aprovado, vai para votação no plenário, onde é necessário apenas maioria simples para que o impeachment passe. De acordo com o último levantamento feito pela Bites, uma consultoria de análises digitais, nesta sexta-feira, 49 senadores estavam a favor do impeachment, 21 contra e 11 indecisos. Por ora, o certo é que o julgamento popular nas redes vai fazer a festa novamente sobre a conduta de seus representantes.
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No dia da votação do impeachment de Dilma, brasileiros queriam que deputados saíssem junto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU