País vive regressão à casa-grande e à senzala, diz sociólogo

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

20 Abril 2016

Todo o processo que culminou com a votação na Câmara dos Deputados no domingo (17), admitindo o prosseguimento do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, mostrou que "as instituições estão desmanteladas", segundo o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Com as instituições do jeito em que estão, o STF incluído, acho que a única força que existe, para de certo modo dar um rumo que não seja o rumo do horror, são as ruas. Não tem outra. O ponto de interrogação é saber em que medida as ruas vão responder e se dar conta desse desmantelamento das instituições", afirma.

A reportagem é de Eduardo Maretti, publicada por Rede Brasil Atual – RBA, 19-04-2016.

Para ele, a sucessão de fatos que levaram o país ao dia 17 de abril de 2016 deve ser analisada sob três aspectos. "A primeira coisa é a consolidação, através desse espetáculo, de uma classe política lúmpen. Não é à toa que na Europa, nos países, digamos, democráticos, que não são nenhuma maravilha, eles estão entre horrorizados e estupefatos com o nível de baixaria que é o Parlamento brasileiro".

O segundo aspecto, segundo ele, é ainda pior, pois diz respeito a uma regressão que o lado progressista da sociedade, principalmente quem viveu o período sombrio da ditadura, não esperava que pudesse retornar. "O que vimos ontem concretiza e sela a vitória da regressão. Mesmo que se consiga uma saída mais ou menos daqui para a frente, acho difícil a gente conseguir no curto prazo contornar ou conseguir esvaziar uma regressão como essa que aconteceu", avalia. "A gente voltou para a casa-grande e a senzala no que ambas têm de pior. A gente pensava que estava se afastando disso, aos poucos, e que a chamada herança maldita tinha ficado para trás, mas ela está atual. Esse segundo aspecto é terrível".

O terceiro aspecto se refere a algo relacionado à experiência subjetiva da história, que não poderia ser experimentada por quem não viveu o período do regime ditatorial no país. "Por causa da idade, fiquei com uma sensação que eu já tinha tido na vida: a sensação do dia seguinte à promulgação do AI-5, em dezembro de 1968. Do ponto de vista do impacto afetivo e subjetivo, a sensação é a mesma. O AI-5, e não 1964, foi o momento em que a ditadura efetivamente se concretizou enquanto tal, porque foi quando ela apareceu com toda a sua violência, quando o corte foi operado do ponto de vista subjetivo".

Para Laymert, as novas gerações "não têm experiência do desmoronamento subjetivo da geração que viu seu futuro absolutamente comprometido com a chegada da ditadura, e a sensação diante do que a gente vê nas forças que estão vencendo é essa".

A evolução dos acontecimentos é "chocante", diz, também pela cumplicidade dos poderes em torno da construção do cenário e a culminância do processo na Câmara. "Depois do que a gente foi vendo nos últimos tempos, até chegar ao domingo, com todas as cumplicidades dos outros poderes, as bombas informacionais detonadas em conluio com o Judiciário, tudo isso junto já mostrou que não há o que esperar das instituições, não tem mais Estado de direito", afirma Laymert. "É quase inimaginável, mas isso foi sendo construído e a gente não queria acreditar que podia chegar, e chegou".