14 Abril 2016
O programa da visita de Francisco e do Patriarca Bartolomeo à ilha grega de Lesbos, no sábado dia 16 de abril, é definido nestas horas. O Papa será acolhido no aeroporto de Mitilene pelo premiê grego Alexis Tsipras, haverá um momento de prece no porto, no termo do qual Francisco, Bartolomeo e o arcebispo ortodoxo de Atenas Hieronimus II lançarão ao mar uma coroa de flores em recordação das vítimas, a seguir se dirigirão em visita ao campo de refugiados, onde é previsto que se detenham para compartilhar com eles o almoço.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por La Stampa-Vatican Insider, 13-04-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
O gesto papal, uma potente chamada às responsabilidades da Europa ante a emergência de quem foge de guerras e violências, tem uma origem e um significado ecumênicos. O convite a Francisco foi feio por Bartolomeo e pelo Sínodo permanente da Igreja ortodoxa da Grécia. O sinal comum da vizinhança dos chefes das igrejas cristãs aos prófugos e tão mais significativo porque representa um dos aspectos que Francisco não cessa jamais de sublinhar quando fala das relações entre os cristãos: trabalhar lado a lado para ajudar quem sofre, fazer lances de estrada e de empenho comum ajuda a progredir no caminho para a unidade tanto quanto, se não mais, dos diálogos teológicos e das comissões de estudo.
Com Bartolomeo a sintonia neste sentido já se manifestara através da iniciativa pela paz no Oriente Médio, como também na comum preocupação pela salvaguarda da criação. O escopo concreto de colocar no centro da atenção em particular os sofrimentos dos cristãos nos Países sacudidos pela guerra e pelo terrorismo tem sido fundamental também para o encontro entre Francisco e o Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, Kiryll, ocorrido, como se recordará, no aeroporto de Havana, etapa inicial da viagem papal prosseguida depois no México.
No passado dia 21 de março a visita a Lesbos fora discutida por Francisco com o bispo ortodoxo grego Gavril di Nea Ionia, enviado para concordar de forma reservada alguns detalhes. Nos últimos dias foram tornadas públicas as declarações contrárias à chegada do Papa da parte de três bispos gregos, os metropolitas de Glyfada, Pireu e Kalavryta, os quais protestaram pelo fato de o convite ao Pontífice não ter sido decidido pela assembleia de todos os bispos, mas pelo Sínodo permanente, isto é, pelo organismo de governo no qual em rotação são eleitos todo ano os representantes do episcopado. Os três metropolitas não são, aliás, novos em contestações deste gênero ante qualquer abertura ecumênica e também já são conhecidos pelas suas tom adas de posição. O bispo de Kalavryta, por exemplo, havia apoiado publicamente Alba Dorata, o partido grego de extrema direita suspeito de neonazismo. O protesto público dos três expoentes da hierarquia não é, pois, considerada particularmente representativa do humor da Igreja ortodoxa da Grécia. Com a viagem relâmpago de Francisco, um Papa recoloca por primeira vez o pé sobre o solo grego após a peregrinação jubilar do Papa Wojtyla na senda de são Paulo em maio de 2001. Então João Paulo II venceu a frieza do arcebispo ortodoxo Christodoulos e do Sínodo permanente definindo fruto do “mysterium iniquitatis” a cruzada de 1204 que destruiu Constantinopla, evento ocorrido oito séculos antes, mas ainda vivíssimo na memória ortodoxa.
Diversos passos em frente foram realizados desde então. Os cristãos ortodoxos e católicos trabalham juntos no acolher dos refugiados e a ilha mitológica de Lesbos, com a generosidade dos seus habitantes, se tornou um símbolo para aquela Europa que não se resigna a ser somente um grande mercado comum, capaz de cavoucar sobre regras econômicas, mas quer recordar os seus valores fundantes. A transferência de poucas horas do Bispo de Roma, acolhido pelo Patriarca ecumênico de Constantinopla e pelo arcebispo de Atenas será, pois um exemplo daquele “ecumenismo do avental”, que vê os cristãos de diversas confissões empenhados lado a lado no serviço a quem sofre”.
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A visita do Papa a Lesbos, ecumenismo no campo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU