05 Abril 2016
No seu tempo, ele despertou a admiração de Aldous Huxley, o autor de Admirável Mundo Novo. Era querido de Cabu, o cartunista do Charlie Hebdo, assassinado pelos terroristas islâmicos. É considerado um dos mestres por José Bové, o agrônomo ativista antitransgênicos, atualmente eurodeputado pelo Partido Verde. Também se inspiraram nele Serge Latouche, pai do decrescimento, e Jean-Claude Guillebaud, ensaísta de renome internacional.
A reportagem é de Lorenzo Fazzini, publicada no jornal Avvenire, 02-04-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Jacques Ellul (1912-1994) foi um personagem atípico da cultura europeia. Acima de tudo, pelo seu declarado cristianismo (de matriz protestante): ele nunca escondeu o seu forte enraizamento bíblico – alcançado quando jovem, depois de uma educação secular – que o tornou protagonista também no cenário eclesial da França.
Ellul escapa das obsoletas classificações ideológicas (direita/esquerda) que querem encerrar em jaulas mentais a matéria viva das melhores inteligências. De fato, é possível considerar de "direita" o seu Islã e cristianismo. Um parentesco impossível (Ed. Lindau), em que ele tenta desmontar a tese segundo a qual Bíblia e Alcorão têm vínculos que subentendem proximidades religiosas.
Em outros textos, Ellul, em vez disso, faria despontar o seu progressismo. Em particular, os ensaios em que ele aproxima cristianismo e anarquia, ou aqueles em que mostra La sovversione del cristianesimo [A subversão do cristianismo] (Edizioni Fondazione Centro Studi Campostrini).
A sua independência de juízo também aparece no ensaio, inédito em italiano, do qual publicamos alguns trechos do último capítulo: Trabalho e religião. Para quem e para que trabalhamos? (Edizioni Fondazione Centro Studi Campostrini, 148 páginas). Uma análise densa e contracorrente do trabalho, acima de tudo em chave bíblica, com uma provocação nada pequena: "Não conheço nenhum texto bíblico que apresente o trabalho como um valor, um bem ou uma virtude. Nos textos bíblicos, eu não vejo nada mais senão a necessidade, quando se fala de trabalho".
Nessa sua crítica do trabalho, entendido como ideologia e fetiche do mundo liberal ocidental, Ellul reverbera as suas reflexões mais atuais e, ao mesmo tempo, proféticas: as que confluíram no fundamental Il sistema tecnico. La gabbia delle società contemporanee [O sistema técnico. A gaiola das sociedades contemporâneas] (Jaca Book). Onde – estamos em 1977 – se interroga: "Uma vez que a técnica é o único mediador reconhecido hoje, na realidade, ela foge de todo sistema de valor. Não havendo outro mediador, quem tomará a decisão a favor ou contra ela?".
Em suma, sobre Ellul, talvez se possa concordar com o seu biógrafo Jean-Luc Porquet, quando o definia como L’uomo che aveva previsto (quasi) tutto [O homem que havia previsto (quase) tudo] (Jaca Book).
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Jacques Ellul: cristianismo e anarquia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU