16 Dezembro 2015
Claudia Baccarani, do jornal Corriere di Bologna, 13-12-2015, publica uma crônica original em "forma alfabética" sobre a entrada do novo arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Acolhida
Que Bolonha (e o antecessor, Caffara) lhe reservaram e que o "padre" Matteo cita com abundância nos seus apelos para aceitar aqueles que vêm de fora. Na saudação à cidade, o símbolo dessa acolhida tornaram-se os pórticos de Bolonha. Mas a acolhida de Zuppi também é marcada pela escuta aos últimos.
Bonomia
O caráter da sua nova cidade, explica o arcebispo: "Eu agradeço de coração pelo calor da amizade de vocês, que me confirma a fama que acompanha a nossa cidade, inteligente, humana, cheia daquela bonomia que relativiza os problemas e permite enfrentá-los sem o engano da ênfase ou a rigidez da ideologia".
Cadeado
O convite a não ter medo, diante das crianças e dos outros convidados no Villaggio della Speranza de Borgo Panigale: "Há aqueles que se fecham, colocam cadeados e, como se chamam?, as câmeras de vídeo. Vocês acreditam que eles vivem bem?".
Carícia
Às crianças, em primeiro lugar, aos imigrantes da Villa Pallavicini, aos fiéis que o escoltam desde as Torres até dentro da Basílica de São Petrônio. O contato físico é constante, desejado, buscado. As carícias também são as que o padre Matteo deseja para aqueles que "estão nos bancos" das ruas. O seu "C" também é caminhar, conceito que, muitas vezes, retorna nas suas palavras.
Desemprego
A aproximação a Bolonha, que começa nos Apeninos, no santuário de Boccadirio, marca o encontro simbólico com uma delegação de operários da Saeco de Gaggio Montano, onde 243 pessoas correm o risco de ficar sem trabalho.
Entusiasmo
Que o novo arcebispo comunica a quem está ao seu lado, entre sorrisos e piadas, muito além da solenidade do dia e do encargo.
Esperança
Uma palavra que ele repete várias vezes, especialmente diante das crianças do Villaggio della Speranza, um convite para ter coragem e para acreditar no próximo, sem fechamentos. Uma esperança repleta de solidariedade, de sorrisos.
Futuro
Com "esperança", o termo que mais frequentemente retorna nos discursos.
Hashtag
O arcebispo "social" que envia SMSs logo colecionou o seu personalíssimo #zuppi no Twitter.
Humanismo
O homem está no centro da espiritualidade de Zuppi, sem hesitação. Porque "a Igreja na cidade não é uma fortaleza distante da estrada, mas é uma presença próxima, ousaria dizer materna, que se une ao caminho, às vezes tão cansativo para muitos, nestes tempos de crise e de medo".
Início
O convite central dirigido à cidade: "Eu gostaria que hoje fosse um início para mim e para todos nós, um ano de renovação". E ainda: "Gostaria que este meu início ajude também vocês a olhar para Bolonha com olhos novos, a redescobri-la como bonita". Mas o "I" também é "uma inteligência sábia" da cidade, "que representa uma herança de muitas gerações e que tem tanto para dar – eu diria: deve dar – a um mundo muitas vezes barbarizado, violento, que grita em vez de pensar, que cuida da aparência e despreza o conteúdo. Um mundo complexo e ameaçador pede corações inteligentes e muita solidariedade, sempre possível a tudo, indispensável para todos".
"Juizões"
A palavra brincalhona a serviço da franqueza: "O perigo é a indiferença, pensar-se como ilhas, olhar para a realidade como espectadores, talvez como refinados críticos e atentos 'juizões'."
Misericórdia
A palavra, que conota o Jubileu desejado pelo Papa Francisco, se repete muitas vezes na homilia da primeira missa presidida pelo novo bispo em São Petrônio, antes da abertura da Porta Santa na catedral: "Esta porta nos abre o coração para toda a cidade, e para atravessar a porta devemos abrir, nós, a porta para a Sua misericórdia", que é "um coração que se abre e que encoraja, transmite esperança". A Porta Santa, "na realidade, nos abre para o mundo, para encontrar a todos, especialmente os pobres e os muitos peregrinos necessitados como nós todos de misericórdia".
Novos italianos
"Comecemos a partir deles", exorta Dom Zuppi. "Chega de chamar de 'estrangeiros' os colegas de aula que crescem conosco!"
Oportunidade
Bolonha tem a chance de recomeçar: novo bispo, novo reitor, em breve também novo prefeito (embora seja provável uma repetição do atual). Abre-se, de todos os modos, uma época de desafios para o futuro. Que deve ser aceita.
Pobres
Como a misericórdia, eles estiveram no centro da homilia de Dom Matteo, padre das ruas, pastor dos últimos. Depois, estão os pórticos, imagem que Zuppi utiliza para simbolizar a capacidade de proteção e de acolhida de Bolonha. E ainda a praça, que ele indica como "praça grande", em uma homenagem inesperada para Lucio Dalla.
Quotidianidade
Ele será um bispo próximo das pessoas todos os dias, que optou por viver na casa do clero da Via Barberia e não entre os muros austeros da Via Altabella, que quotidianamente ele irá acessar, talvez de bicicleta.
Roma
A cidade natal, a sua história, o inconfundível sotaque romano que vem para fora, prepotente, nas piadas e nas conversas informais. Mas também a gratidão ao Papa Bergoglio, que ele cita e em quem se inspira.
Ternura
Foi o vocábulo com que ele se apresentou para a cidade no momento da oficialidade da nomeação, quase dois meses atrás, em uma carta aberta aos bolonheses: "Perdoem-me, no início, qualquer inflexão romana. Mas há uma palavra que eu vou aprender logo, porque vocês a pronunciam com um sotaque que sempre me lembrou de uma característica muito materna: 'teneressa'. É o que eu peço para a Nossa Senhora de São Lucas, para que me e nos proteja".
Vida
Preparando-se para se encontrar com as crianças internadas na pediatria oncológica do Hospital Gozzadini, o padre Matteo nunca falou de doença, mas de vida, "muito bonita e muito frágil". Outro "V" importante é o de "verdade", conceito que ele utilizou diante da lápide das vítimas do dia 2 agosto de 1980.
Zuppi
Um nome que os bolonheses já começaram a amar, dada a multidão que acompanhou a posse do novo arcebispo. Embora ele, como deu a entender, prefira "Padre Matteo".
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O alfabeto do novo arcebispo de Bolonha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU