04 Dezembro 2015
Os níveis virais de dejetos humanos nas águas onde ocorrerão parte dos eventos olímpicos estão próximos ao observado em um esgoto bruto, contaminação que representa riscos para a saúde dos atletas e das pessoas que entrarem em contato com a água. O estudo elaborado pelo virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale do Brasil, em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, foi encomendado pela agência de notícias Associated Press.
A reportagem foi publicada por EcoDebate, 03-12-2015.
No teste viral, não foi encontrado local seguro de água propícia às competições esportivas de natação, velas ou remo. Foram coletadas 37 amostras de alguns pontos da capital fluminense, como a Lagoa Rodrigo de Freitas, a Praia de Copacabana e a Marina da Glória. A análise concluiu a presença de três tipos de adenovírus humano, de rotavírus, de enterovírus e também de coliformes fecais.
Fernando Spilki disse que os locais analisados foram escolhidos de acordo com os pontos de saída e chegada de provas olímpicas, conforme informado pelo Comitê Organizador Rio 2016. Segundo o professor, outros pontos foram escolhidos para observar a disseminação dos agentes infecciosos para dentro do corpo hídrico do ambiente.
“A conclusão é de uma contaminação fecal muito grande. No Rio, é agravado pelo fato de haver um grande contingente populacional, acumulado num espaço pequeno e com pouquíssimo tratamento de esgoto, inclusive comparado a outras grandes cidades do mundo. Efetivamente, essas águas, seja por ingerir, seja por atividades atléticas ou esportivas, oferecem risco. Isso não quer dizer que as pessoas vão entrar na água e vão ficar doentes.” Ele alertou que é importante que os atletas saibam que existe um “risco inerente” e que devem ser tomadas precauções para evitar o contato com a água.
Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter afirmado, em outubro deste ano, que não havia necessidade de serem feitos testes virais rotineiros por causa da falta de métodos padronizados e de dificuldades na interpretação dos resultados, o virologista defende a necessidade de incluir esses marcadores virais pelo risco que eles causam.
O presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio, Alberto Chebabo, concorda com Spilki que a recomendação da OMS não interfere na possibilidade de analisar a presença de vírus na água. “Se eu tenho coliforme fecal, que é o que a gente faz testes, eu vou ter vírus. É mais um marcador, mais um dado. Se tem coliforme fecal é porque tem vírus também. O coliforme fecal é um marcador que define a presença de vírus. Achar o vírus é só ter certeza do que eu já sabia anteriormente.” Ele explicou que a presença desses vírus e bactéria são marcadores de não balneabilidade nas áreas analisadas.
Chebabo afirmou que estes vírus podem causar doenças diarreicas, vômitos e gastroenterite. Para isso, a pessoa precisa ingerir a água contaminada. Quando o contato se dá somente pela pele não há absorção e os riscos caem. “A ingestão dessa água pode ter um risco da pessoa desenvolver uma gastroenterite, principalmente se a pessoa não teve contato anterior com estes vírus e não têm anticorpos contra estes vírus. Se a pessoa já tem anticorpos a chance de desenvolver alguma doença é menor, mas não significa que ele está imune a estas doenças infecciosas.”
Em nota, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que faz há mais de 30 anos testes de balneabilidade e garantiu que as áreas olímpicas da Baía da Guanabara estão dentro dos padrões brasileiros, europeus e americanos para contato primário em Copacabana e secundário na baia. “O Inea segue a orientação da Organização Mundial da Saúde com a qual vem mantendo intercâmbio científico.”
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Níveis virais de águas olímpicas está próximo ao de um esgoto, diz estudo da Associated Press - Instituto Humanitas Unisinos - IHU